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21 Sep 2006

“Diferentes caminhos que levam ao sucesso. Análise dos processos defensivos das selecções da Dinamarca e França no Campeonato da Europa de Andebol de seniores masculinos de 2006”

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A análise da literatura específica do Andebol revela a predominância de trabalhos dedicados ao estudo do processo ofensivo. As ilações sobre a actividade defensiva das equipas normalmente baseiam-se predominantemente na análise do comportamento ofensivo…

Autor(es): Gomes, F.; Volossovitch, A.; Ferreira, A.P.; Infante, J. Gomes Fernando
Entidades(es): Universidade Técnica de Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana
Congreso: II Congreso Internacional de Deportes de Equipo
Madrid– 21-23 de Septiembre de 2006
ISBN: 978-84-613-1659-5
Palabras claves: Balonmano, Defensa, Análisis del Juego.

Resumo análise dos processos defensivos das selecções da Dinamarca e França no Campeonato da Europa de Andebol

A análise da literatura específica do Andebol revela a predominância de trabalhos dedicados ao estudo do processo ofensivo. As ilações sobre a actividade defensiva das equipas normalmente baseiam-se predominantemente na análise do comportamento ofensivo da equipa adversária O objectivo central do presente trabalho é demonstrar que o andebol actual permite que diferentes performances possam conduzir a um elevado rendimento. Foram analisados todos os jogos efectuados pelas duas selecções durante a prova (8 da França e 8 da Dinamarca). Para o registo e análise dos indicadores defensivos durante o jogo foi construído o instrumento “ORAND” destinado ao registo e análise dos indicadores defensivos durante o jogo, relacionados com a acção realizada, zona do campo, sistema defensivo, fase do jogo e duração do processo defensivo (PD). Foram consideradas apenas situações de igualdade numérica de 6×6. Com recurso à estatística descritiva procedeu-se à análise dos dados de cada uma das equipas observadas, seguida de uma análise comparativa dos registos das duas equipas.

Resumen

El análisis de la literatura específica del Balonmano mostró un dominio de los trabajos dedicados al estudio del proceso ofensivo. Las conclusiones sobre la actividad defensiva de los equipos, están normalmente, relacionadas con el comportamiento ofensivo del equipo contrario. El objetivo central de este trabajo es demonstrar que el balonmano actual permite distintas performances para llegar al mismo rendimiento. Fueron analizados la totalidad de los juegos realizados por las dos selecciones en toda la competición (16 partidos 8 de Francia y 8 de Dinamarca). Fue construida una herramienta llamada “ORAND” para el registro y análisis de los indicadores defensivos durante el partido, relacionados con la acción realizada, zona de la pista, sistema defensivo, fase del juego y duración del proceso defensivo (PD). El análisis ha sido realizado, comparando los PD en situación de igualdad numérica de 6×6 por lo que han sido excluidos todos los otros PD. Fueron analizados los datos de cada uno de los equipos en una primera fase, seguida de un análisis comparativo entre los registros de los dos equipos. Utilizamos la estadística descriptiva para la presentación y discusión de los resultados.

1.Introdução

É geralmente aceite que o rendimento desportivo depende de múltiplos factores, cuja importância varia de modalidade para modalidade. Os Jogos Desportos Colectivos (JDC) distinguem-se dos outros grupos de modalidades pela relevância dos factores estratégicos e técnico-táctico. Esta relevância está associada ao carácter situacional destas modalidades, fazendo com que muitas vezes as condutas de decisão se sobreponham às condutas de execução. A observação e análise da actividade competitiva, com recurso aos diversos indicadores da performance dos jogadores e das equipas representam uma condição indispensável para o estudo do factor técnico-táctico do jogo (Hughes & Franks, 2005). O domínio das técnicas de observação e registo, dos factos mais relevantes do jogo, é imprescindível para a posterior realização da sua análise (Garganta, 1997). Se apresentado em isolado, um conjunto de dados pode dar uma visão distorcida da performance, ignorando outras variáveis, que poderão ser importantes. Nas pesquisas recentes é evidente que muitas análises não fornecem informação suficiente sobre a performance de forma a representar totalmente os eventos significativos dessa performance (Hughes & Bartlett, 2002) . Sendo o Andebol um jogo colectivo de cooperação/oposição, de carácter situacional e de estrutura múltipla (Ribeiro & Volossovitch, 2004), não é fácil avaliar o rendimento de um jogador ou uma equipa. Por isso, o elevado conhecimento do jogo, nomeadamente das suas fases, torna-se primordial para uma correcta interpretação do desempenho das equipas e para identificação dos factores de êxito. Neste trabalho descrevemos e analisámos os Processos Defensivos em situação de igualdade numérica de 6×6, de duas das equipas (França e Dinamarca) classificadas nos três primeiros lugares do Campeonato da Europa de 2006 (CE 2006). Com o presente documento pretende-se contribuir para um melhor conhecimento do processo defensivo do Andebol de alto rendimento, nomeadamente quanto à sua organização em função das diferentes áreas e modo de actuação, utilizando para tal a metodologia observacional, que julgamos poder ajudar os treinadores no estudo do processo defensivo da sua equipa e dos adversários.

2. Material e Método

Foram analisados a totalidade dos jogos efectuados pelas duas selecções durante a prova (16 jogos, 8 da França e 8 da Dinamarca). Foi construído o instrumento “ORAND” destinado ao registo e análise dos indicadores defensivos durante o jogo, relacionados com a acção realizada, zona do campo, sistema defensivo, fase do jogo e duração do processo defensivo (PD). A análise foi realizada, comparando os PD em situação de igualdade numérica de 6×6, pelo que foram excluídos todos os outros PD. Procedeu-se à análise dos dados de cada uma das equipas observadas, seguida de uma análise comparativa dos registos das duas equipas. Utilizámos a estatística descritiva para a apresentação e discussão dos resultados.

3. Resultados e Discussão

Dinamarca

A análise dos dados da selecção dinamarquesa em relação às fases do PD, permite concluir que o seu jogo defensivo ocorre claramente na fase de defesa organizada, com 81% das acções a serem realizadas nesta fase. Somente 10,5% das acções defensivas registadas acontecem durante a recuperação defensiva, 1,6% correspondem ao momento da perda da posse de bola e 0,3% à fase de equilíbrio defensivo. Estes números indiciam claramente, que a Dinamarca é uma equipa com um processo de transição ataque/defesa bem estruturado e capaz. Os 10,5% das acções que ocorreram durante a fase de recuperação defensiva, corresponderam a uma média de 8 acções por jogo e terminaram da seguinte forma: • Golos – 2 por jogo; • Recuperações da posse de bola – 3 por jogo; • Sem Recuperação da posse de bola – 3 por jogo; • Livre de 7 metros – 0,1 por jogo.

Quadro 1- Frequências e percentagens dos sistemas defensivos utilizados pela Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Durante a fase de defesa organizada, o sistema defensivo mais utilizado é o 6:0 com 287 (45,6%) acções registadas nesta fase, como é possível de ser observado no quadro 1. Apresenta como sistema alternativo o 5+1, um sistema misto, com 123 (19,2%) acções anotadas. Os dados referentes à frequência das acções, no quadro 2, mostram que a interrupção da circulação da bola com falta (ICBF) se destaca com 237 (37,6%) registos, seguida pelo insucesso no 1×1 com 110 (17,5%) registos. Estas duas acções juntas correspondem a 59% do total das acções, evidenciando o jogo 1×1 no andebol de alto rendimento.

Quadro 2 – Frequências e percentagens das acções utilizadas pela Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

O quadro 3 demonstra como terminaram as acções da selecção dinamarquesa, revelando que 178 processos defensivos (28,3%) terminaram em golo. Enquanto que 160 (25,4%) correspondem a recuperações da posse de bola sem sofrer golo.

Quadro 3- Frequências e percentagens de como termina o PD da Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Destas 160 acções 84 (52,5%) correspondem a defesas do guarda-redes. Este é mais um dado que reforça a importância deste posto específico para o sucesso de uma equipa. 292 (46,3%) das acções analisadas não conduziram ao fim do processo defensivo. Nestas 292 acções ganha destaque a Interrupção da circulação da bola com falta com 221 acções, correspondentes a 83,3% das acções sem recuperação da posse de bola. A análise da eficácia dos sistemas defensivos utilizados pela selecção da Dinamarca demonstrou que a taxa de insucesso do sistema 6:0 é de 24%, correspondentes a 69 golos sofridos em 287 acções registadas e do sistema 5:1 é de 20,32% com 25 golos sofridos em 123 acções.

Quadro 4- Frequências de como termina o PD em função do sistema defensivo da Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Considerando a taxa de sucesso como a percentagem de recuperações de posse de bola sem sofrer golo, observa-se que a Dinamarca apresenta um valor de 24,3%. Entendese assim, que 51,5% não conduziram à recuperação da posse de bola sem sofrer golo. Nestes 51,5%, correspondentes a 148 acções, destacamos 113 (76,3%) Interrupção da circulação da bola com falta.

Quadro 5- Frequências dos registos por zona do campo em função do sistema defensivo da Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Para além da Interrupção da circulação da bola com falta verifica-se que em fase de defesa organizada e com o sistema 6:0, a Dinamarca realiza 35 acções que conduzem à recuperação da posse de bola sem sofrer golo, distribuídas por 10 intercepções, 17 falhas técnicas induzidas, 5 blocos e 1 FA, 1 jogo passivo, desarme e 1 sucesso no 1×1.

Quadro 6- Frequências dos registos por zona do campo em função do sistema defensivo da Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

A análise cruzada dos dados do sistema defensivo com os dados da zona (Quadro 5) mostra que a zona central dos 6 metros (zona 2) com 136 acções registadas, correspondentes a 47,3%, é a zona mais utilizada; contudo os 97 (33,7%) registos das zona 4, 5 e 6, (zonas correspondentes à segunda linha defensiva), mostram o grau de profundidade do 6:0 dinamarquês. Pode-se igualmente observar-se esse facto no quadro 6 que mostra o comportamento dos segundo e terceiros defesas do 6:0 da Dinamarca. Os quatro jogadores que mais vezes ocuparam estes postos específicos do 6:0 dinamarquês registam 202 (70,3%) das acções efectuadas com este sistema defensivo. Distribuem as suas actuações pela zona 2 com 190 registos e pelas zonas 4, 5 e 6 com 124 acções. Numa análise das zonas de acção da defesa da Dinamarca, independentemente do sistema utilizado, foram registadas 191 acções (32,4% do total das acções registadas) ocorridas na segunda linha defensiva e 250 (42,5%) na primeira linha. Os 10,0% de diferença entre as acções de segunda e primeira linha defensiva demonstram uma profundidade da defesa dinamarquesa. A análise dos jogadores mais participativos no 6:0 da Dinamarca, demonstrou que as suas acções levam a 83 das 150 recuperações da posse de bola sem sofrer golo, o que se traduz em 44,3% do total de recuperações da equipa. O número de acções que terminam com golo é de 100 dos 178 totais, o que reflecte uma responsabilidade destes quatro atletas por 56,1% do total de golos sofridos. As acções que não levam à recuperação da posse de bola são 265, correspondentes a 45% do total das acções registadas. Nesta análise os segundos e terceiros defesas do 6:0 dinamarquês, representam 29,5% (174 acções) das acções que não levam à recuperação da posse de bola. Estas 174 acções são maioritariamente interrupções da circulação da bola com falta, com 156 (89,6%) acções registadas. Em conclusão, a Dinamarca defende 6:0 como sistema base. Na zona central actuam os jogadores com melhores registos defensivos. O guarda-redes tem um papel importante na eficácia defensiva, sendo responsável por 52,5% dessa eficácia, facto também destacado por Pollany (2000). Pode-se constatar que 37,6% das acções da Dinamarca correspondem a faltas para parar a circulação da bola. A Dinamarca revela como principal razão para o insucesso, as acções de 1×1 com 17,5%. Como indicador da profundidade do seu sistema, registou-se na segunda linha defensiva 30,3% das suas acções.

França

A selecção francesa é uma equipa que apresenta 77,2% das acções registadas nos seus processos defensivos (PD) em situação de defesa organizada. Ao analisar as restantes fases do PD observa-se que 1,7% correspondem ao momento da perda da posse bola, 0,7% a acções associadas com o equilíbrio defensivo e que 13,3% acontecem na fase de recuperação defensiva. Os 13,3% das acções referenciadas na fase de recuperação defensiva, correspondentes a um valor médio de 12 por jogo, terminam, em valores médios por jogo da seguinte forma: • Golos – 5 por jogo; • Recuperação da posse bola – 3 por jogo; • Sem Recuperação da posse bola – 3 por jogo; • 7 metros – 0,5 por jogo. Quando a equipa está na fase de defesa organizada e em situações de igualdade numérica, o seu sistema defensivo base é o 5:1, com 83% de utilização. Revela contudo formas dispares de reagir às passagens do ataque de 3:3 para 2:4. Como sistemas defensivos alternativos são utilizados o 6:0 e 3:2:1, com índices de utilização muito semelhantes (9,1% e 9% respectivamente). No quadro 7, onde se apresenta a dinâmica do processo defensivo quanto às acções utilizadas, ressaltam à vista, três acções com valores de frequência claramente elevados em relação aos restantes: a interrupção da circulação da bola com falta com 243 acções (35,2%), o insucesso no 1×1 com 112 (16,2%) ocorrências e a pressão sobre o remate com 87 (12,6%) registos. Estes valores correspondem a 64% das acções realizadas pela França e demonstram a grande importância das situações de 1×1 para o sucesso no Andebol moderno.

Quadro 7 – Frequências e percentagens das acções utilizadas pela França.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

A análise das 690 acções registadas, mostra que 209 ( 30,3%) acções levam à recuperação da posse de bola sem sofrer golo apresentando um índice de eficácia de 55,6%, i.e. número de recuperações da posse de bola sem golo sobre os número de processos defensivos terminais (381). 97 defesas do guarda-redes (14,1%) confirma a importância do guarda-redes para o sucesso da selecção francesa, pois corresponde a 46,4% das recuperações de posse de bola sem golo, e que 170 (24,6%) resultam em golo.

Quadro 8 – Frequências e percentagens de como terminam as acções utilizadas pela França.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Perante estes valores, verificámos que 45,1% das acções ocorridas não levam à recuperação da posse da bola. Destes 45,1%, 4,2% representam defesas do guarda-redes (29 acções registadas), 3,9% Livres de 7m ou sanção disciplinar que rompe com a igualdade de 6×6 (27 acções registadas) e 255 outras acções, onde estão incluídas, as 243 interrupções da circulação da bola com falta, seguida pelas 8 intercepções sem recuperação da posse bola e as 9 acções de bloco sem posse bola. Fazendo uma análise à frequência de utilização dos sistemas defensivos da França, podemos observar através do quadro 9 que utiliza o sistema defensivo 5:1 em 64,3% dos processos defensivos não revelando claramente um sistema alternativo, tendo o 6:0 e o 3:2:1 com valores de frequência próximos dos 20%.

Quadro 9 – Frequências e percentagens dos sistemas defensivos utilizados pela França.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

Os quadros 10 e 11 mostram o modo como funciona o sistema defensivo 5:1 da França. Os resultados da análise revelam que o núcleo forte da defesa francesa é formado pelo defesa central e pelo defesa avançado do sistema 5:1. Estes são os postos específicos que apresentam maior número de ocorrências: 131 (19%) para o defesa central e 146 (21,1%) para o defesa avançado, com valores médios de 16 e 18 por jogo, respectivamente. Este facto também é visível nas zonas mais utilizadas: 337 acções foram realizadas na Z2 (zona central dos 6m), apresentando uma média por jogo de 42 acções, correspondente a 48,8%; e 88 para a Z5 (zona central dos 9m), com uma média por jogo de 11, correspondente a 12,8%, num total de 61,6% das acções efectuadas.

Quadro 10 -Frequências e percentagens das zonas utilizadas pela França.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

O papel do defesa central ganha mais importância, se analisarmos as 337 acções ocorridas na zona central dos 6 metros (Zona 2): são da sua responsabilidade 131 (38,8%), dividindo-se as restantes 61,2% pelos segundos defesas do sistema 5:1.

Quadro 11 – Frequências dos registos dos jogadores por zona da França.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

É de se destacar, o facto do defesa central ser sempre o mesmo (jogador 3) durante todos os jogos da prova, enquanto que na posição de segundos defesas aparecem quatro jogadores. Analisando os registos do defesa central do 5:1 francês, pode-se concluir que as suas 131 acções terminam da seguinte forma: 26 terminam em golo (19,8%), uma média de 3 golos por jogo; 22 terminam em recuperações da posse de bola sem golo (16,7%), das quais se destaca 7 Intercepções e 9 blocos; a juntar a estas 22 recuperações observam-se 30 defesas do guarda-redes com recuperação da posse de bola em que o defesa central também contribuiu de algum modo, principalmente através, da pressão sobre o remate. As 53 acções (40,4% do total das acções registadas) não levaram à recuperação da posse de bola o que traduz uma taxa de recuperação de posse bola de 59,6% das sua acções, facto bastante positivo considerando o elevado nível de participação e dificuldade deste posto específico e o valor global da equipa que é de 54,9%. O outro posto específico com um desempenho importante no sistema 5:1 da França foi o defesa avançado. Neste posto específico actuaram dois jogadores, tendo contudo maior expressão nos dados o atleta Bertrand Gilles, uma vez que o outro atleta, Nikola Karabatic (jogador 10), distribui os resultados pela posição de segundo defesa e defesa avançado do sistema 5:1. Se analisar só os dados de Bertrand Gilles (Jogador 6), pode-se verificar que distribui as suas 100 acções, maioritariamente, pelas Zona central dos 9m e 6m , com valores de frequências de 41 e 43 respectivamente. Estes valores correspondem a 84% do total das suas acções. O facto de registar 43 acções na Z2 é demonstrativo da estratégia de não permitir que se jogue nas costas do 5:1 francês. O mesmo jogador tem uma taxa de recuperação da posse de bola sem sofrer golo de 26%, correspondentes a 7 defesas do guarda-redes e 17 recuperações da posse de bola sem remate. Estas recuperações foram conseguidas através de 5 intercepções, 2 desarmes, 2 faltas atacantes, 2 blocos e 6 falhas técnicas provocadas. É o atleta com mais interrupção da circulação da bola com falta, 51 como valor de frequência o que corresponde a 51% das suas acções e a 20,9% das realizadas pela equipa. No perfil dos defesas definido por Landuré, Petit & Bana (1993) como “perturbadores-interceptores”. A sua zona de actuação é fulcral para poder influenciar o ritmo de jogo do ataque adversário, sendo assim o principal responsável pela descontinuidade das acções ofensivas da equipa contrária. Em conclusão, a França defende 5:1 como sistema base. Na zona central, actuam os jogadores com melhores registos defensivos, com destaque para o defesa central e o defesa avançado. O papel do defesa avançado da França é um facto já referenciado em outros estudos. Czerwinski (2000) refere a acção de Richardson no sucesso do 5:1. Como indicador da profundidade do sistema defensivo da França registámos 26,7% de acções na segunda linha defensiva. Destaca-se neste domínio o jogador avançado do 5:1 com 21,1% de acções registadas. O guarda-redes tem um papel importante na eficácia defensiva com 46% dessa eficácia a ser da sua responsabilidade. Este facto foi também referido por Czerwinski (2000). Pode-se constatar que 35,2% das acções da selecção da França, correspondem a faltas para parar a circulação da bola.A França revela como principal razão para o insucesso, as acções de 1×1 com 16,2%. Herrero e Calvo (2001) chegaram à mesma conclusão considerando que as situações de 1×1 representam o maior problema da defesa francesa.

4. Conclusões

Comparando as análises realizadas pretende-se sintetizar o conjunto de conclusões sobre as particularidades de actuar das duas selecções estudadas. A França utiliza como sistema defensivo base o 5:1, enquanto a Dinamarca recorre ao 6:0. Este facto é referenciado em vários estudos que analisaram o desempenho das equipas em grandes competições internacionais; Landuré, Petit e Bana, (1993), Klein (1998), Czerwinski (2000), Herrero e Calvo (2001) e Pollany (2006) referem que o 5:1 e o 6:0 são os sistemas base das equipas que participam nas provas de elite de Andebol. Os valores de eficácia defensiva têm uma ordenação igual à classificação obtida. A França foi a selecção com maior percentagem de eficácia defensiva (55,6%).

Quadro 12 – Dados comparativos das selecções de França e Dinamarca.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

 

Quando analisadas em conjunto, as duas equipas apresentam um valor percentual de eficácia defensiva de 51,3%. A participação do guarda-redes nestes valores revela a importância deste posto específico, tal como referiram Czerwinski (2000), Herrero e Calvo (2001) e Pollany (2000). Os dois guarda-redes têm percentagens de participação na eficácia defensiva, próximas dos 50%. A França é a equipa com o valor mais baixo (46,4%), tendo a Dinamarca uma participação dos seus guarda-redes de 52,5%. Observa-se aqui uma relação inversa com o valor da eficácia defensiva das equipas. A fase do jogo com maior percentagem de registos foi a defesa organizada em ambas as selecções. Nos dados globais, o valor da fase de defesa organizada é de 79,1%. Este facto assume importância por nesta fase do jogo ser mais difícil marcar golo. A análise dos valores das acções com falta e do insucesso no 1×1 realça que quanto maior for a percentagem de faltas, menor é a percentagem de insucesso no 1×1. Por outro lado, a análise da percentagem de intercepções mostra que quem realiza menos faltas consegue mais intercepções. O 1×1 continua a ser a acção com maior associação negativa com o sucesso, como foi referido por Herrero e Calvo (2001). A percentagem de faltas tem uma relação directa com a percentagem de acções realizadas na segunda linha defensiva (zonas 4, 5 e 6). Verifica-se que quanto maior for a percentagem de faltas, maior é a percentagem de acções na segunda linha defensiva. A percentagem de acções nas zonas 4, 5 e 6 é um indicador da profundidade dos sistemas defensivos utilizados. Este estudo revelou que a capacidade de intercepção não tem uma relação directa com a profundidade da defesa, mas sim com a capacidade de intervir sem cometer falta. Contudo, a intercepção continua a ser uma acção que se associa positivamente com o sucesso. O mesmo facto é referido por Klein (1993) e Czerwinski (2000). A percentagem de blocos foi de 4,3% para a França e menor para a Dinamarca (2,9%). Deve-se contudo associar a estes valores os dados da pressão sobre o remate. A França volta a revelar registos mais altos, com 12,6%. Pelos dados recolhidos e analisados podemos concluir que através de performances diferentes, a França e a Dinamarca conseguiram o mesmo rendimento, em 8 jogos 7 vitórias e 1 derrota, o que correspondeu a um resultado diferente pelo facto de a derrota da Dinamarca ter sido na fase a eliminar, (meia-final).

Bibliografía

  • Garganta, J. (1997). Modelação táctica do jogo de Futebol Estudo da organização da fase defensiva em equipas de alto rendimento. Unpublished PhD., Universidade do Porto, Porto
  • Herrero, J., & Calvo, T. (2001). Estudio sobre el funcionamiento del sistema defensivo 5:1 en el campeonato de Europa de Croacia 2000 por los equipos nacionales de España y Francia, www.efedeporte.com (Vol. 17).
  • Hughes, M. D., & Bartlett, R. M. (2002). The use of performance indicators in performance analysis. Journal of Sports Sciences, 20(10), 739-754.
  • Hughes, M., & Franks, I. (2005). Notational Analysis of Sport (2ª Edição). London: Routledge.
  • Landuré, P., Petit, G., & Bana, P. (1993). Le mondial A masculin en Suéde. Aproches du Handball, 44, 4-18.
  • Ribeiro, M., & Volossovitch, A. (2004). O ensino do andebol dos 7 aos 10 anos. FMH-FAP ed. Lisboa Fontes Electrónicas
  • Czerwinski, J. (2000). Statistical analysis and remarks on the game based on the European Championship in Croatia, from http://home.eurohandball.com/ehf_files/specificHBI/ECh_Analyses/2000/cro/4/stat-analyse.pdf (Consulta: 02/03/2009)
  • Klein, G. (1998). Selected aspects of a qualitative analysis of player’s performance at men’s European Championship in Italy, from http://home.eurohandball.com/ehf_files/specificHBI/ECh_Analyses/1998/ita/4/klein.pdf Vol. 19, pp. 27-37. (Consulta: 02/03/2009)
  • Pollany, W. (2006). Qualitative Trend Analysis – 7th European Championship for men Switzerland 2006, from http://home.eurohandball.com/ehf_files/specificHBI/ECh_Analyses/2006/SUI/4/7th%20EUROPEAN%20CHAMPIONSHIP%20F OR%20MEN.pdf pp. 1-56 (Consulta: 02/03/2009).

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