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23 Sep 2006

Excelência e performance perceptivo-cognitiva no utebol

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Esta revisão caracteriza a importância da inteligência de jogo entre futebolistas de diferentes níveis competitivos e de acordo com as suas posições específicas em campo. No entanto, evidências científicas nesta área não são de todo conclusivas e em alguns estudos que atribuem importância às habilidades perceptivo-cognitivas no rendimento das acções de antecipação e de tomadas de decisão são algo díspares

Autor(es):Filipe Casanova (1)*, José Oliveira (1, 2), Mark Williams (3), Júlio Garganta (1, 4)
Entidades(es): (1) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) (2) Centro de Investigação de Actividade Física, Saúde e Lazer, FADEUP (3) Research Institute for Sport and Exercise Sciences, Liverpool John Moores University (4) Centro de Investigação, Educação, Inovação e Intervenção em Desporto, FADEUP
Congreso:II Congreso Internacional de Deportes de Equipo
Pontevedra– 21-23 de Septiembre de 2006
ISBN: 978-84-613-1659-5
Palabras claves: Excelência Desportiva, Habilidades Perceptivo-Cognitivas, Futebol

Expertise, Perceptual-Cognitive Skills, Soccer

RESUMO

Esta revisão caracteriza a importância da inteligência de jogo entre futebolistas de diferentes níveis competitivos e de acordo com as suas posições específicas em campo. No entanto, evidências científicas nesta área não são de todo conclusivas e em alguns estudos que atribuem importância às habilidades perceptivo-cognitivas no rendimento das acções de antecipação e de tomadas de decisão são algo díspares.A nossa intenção é meramente informativa e indicativa da literatura em volta da excelência desportiva, com particular interesse para o rendimento perceptivo-cognitivo, do que depreciar algumas investigações ou tomar partido por alguma corrente investigacional. Obviamente que a variabilidade do rendimento desportivo tanto entre equipas de Futebol como entre futebolistas é dependente de inúmeros factores, como os perfis antropométricos e fisiológicos dos atletas, mas um dos mais importantes factores que intencionámos incluir no contexto desportivo são as habilidades perceptivocognitivas, tais como o comportamento da procura visual e o conhecimento das probabilidades situacionais. Os objectivos da presente comunicação são: (i) definir e contextualizar a diferente terminologia utilizada neste contexto específico; (ii) tipificar as diferentes habilidades perceptivo-cognitivas que parecem emergir no rendimento desportivo dos futebolistas; e (iii) fornecer algumas orientações para futuras investigações.

ABSTRACT

This review characterizes the importance of game intelligence between soccer players of different competition levels and according to a specific positional field status. However, research evidence on this topic is inconclusive and in some reports the importance of the perceptual-cognitive skills in the anticipation and decision making performance remains unclear.Our intention is merely informative and indicative of the surrounding literature on the sport expertise, with the particular interest on the perceptual-cognitive performance, than depreciate some researches or taking part of some currents. Obviously that the variance in performance between soccer teams or players is depending of a several factors, like as anthropometric and physiological profiles, but one of the main factor that we want to include in the sport context is the perceptualcognitive skills, such as visual search behaviour and the knowledge of situational probabilities. The aims of the present communication are: (i) to define and to contextualize the different terminology used in this specific domain; (ii) to typify the different perceptualcognitive skills that seems to bring on soccer players’ performance; and (iii) to provide some future research guidelines.

INTRODUÇÃO

De um ponto de vista científico, a investigação no desporto, particularmente na área da excelência desportiva, tem permitido validar modelos de desenvolvimento a partir de distintos domínios científicos que possam ser úteis e enriquecedores para a evolução do potencial desportivo humano. A excelência desportiva do futebolista consiste na possibilidade do mesmo exteriorizar, contínua e consistentemente, desempenhos desportivos de nível elevado (Starkes, 1993; Ericsson & Lehmann, 1996). Apesar de vários indicadores do rendimento de excelência poderem ser observáveis, existem outros que, pela suanatureza, se revelam mais dificilmente sondáveis, como é o caso dos mecanismos perceptivo-cognitivos. Estes mecanismos relacionados com a capacidade de identificação e de aquisição de informação a partir do meio envolvente, conjugada com a capacidade para seleccionar e executar uma resposta apropriada, denomina-se de habilidade perceptivo-cognitiva (Marteniuk, 1976). Nos Jogos Desportivos Colectivos, particularmente no Futebol, os comportamentos decisionais dos atletas são efectuados de acordo com a informação captada a partir de diferentes fontes, como por exemplo a bola, os colegas de equipa e os adversários. Assim, e apesar de os oponentes restringirem o tempo e o espaço de acção, torna-se conveniente que os praticantes foquem a atenção visual nas fontes de informação mais relevantes, de modo a obterem um desempenho bem sucedido (Williams et al., 1994). Portanto, é de esperar que os futebolistas de excelência evidenciem superior capacidade de, simultaneamente, conhecer “o que fazer” e “como fazer”, de forma a criarem um continuum indivisível entre a dimensão perceptivocognitiva e a respectiva resposta motora.

TEORIAS E MODELOS DA EXCELÊNCIA DESPORTIVA

Até ao momento existem várias categorias e modelos referenciados na literatura da especialidade (ver Figura 1). Mas, todas elas se revêem nos princípios e fundamentos metodológicos da (i) Psicologia Cognitiva e/ou da (ii) Psicologia Ecológico – Dinâmica (Williams et al., 1999; Beek et al., 2003).

Figura 1- Principais Teorias e Modelos que têm contribuído para a compreensão da Excelência Desportiva

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 9

HABILIDADES PERCEPTIVO-COGNITIVAS DO FUTEBOLISTA

A maioria dos estudos publicados que ilustram a superioridade de rendimento dos futebolistas de elite sobre os outros de nível inferior, analisam individualmente as habilidades perceptivo-cognitivas. Tais habilidades, no seu conjunto, têm sido correntemente referidas como sinónimo de “inteligência de jogo”. A saber: (i) Conhecimento das Probabilidades Situacionais – Capacidade dos atletas de excelência em extrair correctamente a informação contextual a partir da acção desportiva em curso. Até ao momento, os estudos comparativos entre os futebolistas de elite e de outros níveis competitivos apontam algumas vantagens do grupo de elite: (a) Identificam melhor os colegas que estão em melhor posição para receber a bola; (b) Assinalam assertivamente o provável posicionamento dos colegas em campo mais ameaçador, ou não; (c) Julgam melhor as suas expectativas; (d) Determinam criteriosamente a importância de cada uma das potenciais opções apresentadas; (e) Procuram rapidamente nova informação; (f) Asseguram que a mais pertinente informação contextual é extraída por distintas áreas de exposição visual (Alain & Proteau, 1980; Williams, 2000; Ward & Williams, 2003); (ii) Comportamento da Procura Visual – Capacidade do futebolista em utilizar a sua visão na procura dos indicadores visuais ou do padrão de jogo, para extrair do meio envolvente a informação mais pertinente que os guia na acção desportiva. A grande maioria das investigações sugerem que: (a) os futebolistas de elite possuem significativamente uma iniciação do movimento mais rápida, melhores tempos de resposta e, também, no contacto com a bola; (b) os futebolistas de elite são mais assertivos nas suas tomadas de decisão; (c) os futebolistas de elite têm uma elevada capacidade visual em reconhecer excessiva e estruturalmente no seu campo visual o aparecimento dos indicadores mais relevantes (o seu padrão visual de procura é económico, com poucas fixações de longa duração na área seleccionada); (d) independentemente da posição em campo, os futebolistas de elite implementam diferentes estratégias de procura visual e neles emergem diferentes comportamentos quando em situações micro ou macroestruturais (Helsen & Pauwels, 1992, 1993; Williams & Davids, 1998; Helsen & Starkes, 1999; Williams, 2000; Savelsbergh et al., 2002; Vaeyens et al., 2007); (iii) Padrão de Recordar e Reconhecer – Capacidade do futebolista em manter na sua plenitude a função cognitiva, ao longo da acção desportiva, permitindo-o recordar e reconhecer indicadores específicos do meio envolvente. As investigações produzidas que estudaram o paradigma “recordar” constataram que (a) os futebolistas de elite são mais capazes em recordar padrões de jogo, a partir do seu habitat; (b) a partir da projecção de um filme de várias sequências de jogo estruturadas, os futebolistas de elite conseguem recordar melhor as posições dos atletas e em recolocar com mais exactidão os atletas nas suas posições. Relativamente ao estudo da capacidade de reconhecimento cognitiva, os investigadores apontam no sentido de (a) após visualização de sequências de jogo estruturadas, os futebolistas de elite reconhecem assertivamente essas mesmas sequências; (b) os futebolistas de elite percepcionam rápida e atempadamente o padrão de jogo em projecção; (c) os futebolistas de elite conseguem antecipar as intenções dos adversários e planear antecipadamente a melhor e mais apropriada acção a desenvolver; (d) os futebolistas de elite conseguem extrair informação relevante para desempenhar a sua acção a partir de “simples” e “pequenos” indicadores visuais (Williams et al., 1993; Williams & Davids, 1995; Smeeton et al., 2004; Abernethy et al., 2005; Williams et al., 2006); (iv) Interpretação e Utilização Antecipada de Indicadores Visuais – Capacidade do futebolista em realizar predições assertivamente, baseadas a partir da informação postural e da orientação corporal do adversário, antecedendo o aparecimento do momento-chave da acção. Os resultados dos estudos já efectuados indicam que (a) os futebolistas de elite exibiram melhores performances apenas nos momentos de menor duração (isto é, nas condições de oclusão temporal pré-contacto); (b) durante a execução de uma habilidade técnica (por exemplo no controlo de bola), os futebolistas de elite têm a capacidade de utilizar alternadamente várias fontes de informação sensorial, como a visão e a propriocepção, facilitando um rendimento desportivo efectivo; (c) apesar de os futebolistas de elite utilizarem indicadores perceptivos, em algumas situações de jogo podem optar em não os utilizar adoptando uma posição de espera (Williams & Burwitz, 1993; Williams & Davids, 1998; Williams et al., 1999; Starkes et al., 2001; Williams et al., 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A observação e estudo da denominada “inteligência de jogo” implicam, portanto, que se equacione a relação entre acções antecipatórias e decisionais do futebolista que requerem uma análise cuidada e pormenorizada das várias habilidades perceptivo-cognitivas realizadas pelos jogadores e pelas equipas nos jogos de Futebol. Embora existam alguns estudos em que se denota tais preocupações, parece-nos oportuno alertar para a necessidade de, no âmbito do Futebol: (i) Clarificar os mecanismos que sustentam a excelência perceptivo-cognitiva; (ii) Identificar os mecanismos específicos que intervêm no rendimento de excelência, intra-equipa; (iii) Discriminar a influência exercida pelos vários tipos de constrangimentos no rendimento de excelência;

(iv) Cruzar informação obtida a partir da performance perceptivo-cognitiva com relatos verbais dos respectivos executantes.

 

REFERÊNCIAS

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