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21 Sep 2006

Treinar a Tomada de Decisão para melhor pensar e agir na complexidade dos Jogos Desportivos

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Para realizar com sucesso uma acção de jogo não basta ao jogador executar correctamente uma técnica, mas será necessário conhecer sobretudo o objectivo da sua própria acção e o momento indispensável para a sua realização (Tavares, 1993).

 
Autor(es): Fernando Tavares
Entidades(es): Centro de Estudos dos Jogos Desportivos (CEJD) Centro de Investigação, Formação, Inovação no Desporto (CIFID2) Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Portugal
Congreso: II Congreso Internacional de Deportes de Equipo
Madrid– 21-23 de Septiembre de 2006
ISBN: 978-84-613-1659-5
Palabras claves: Treinar, complexidade, Jogos Desportivos

Resumen

Para realizar com sucesso uma acção de jogo não basta ao jogador executar correctamente uma técnica, mas será necessário conhecer sobretudo o objectivo da sua própria acção e o momento indispensável para a sua realização (Tavares, 1993). Isto significa que o jogador não deverá ser interpretado unicamente como um mero executante motor, mas também ser entendido como um ser pensante que analisa e decide mentalmente antes e durante as execuções motoras. Neste sentido, as acções do jogador são determinadas pelas situações de jogo e a sua execução racional deve ser o reflexo da sua capacidade em decidir (escolher a solução motora adequada) de acordo com a sua capacidade técnica. Vários estudos têm sido realizados numa linha de investigação que evidencia a importância dos pressupostos cognitivos na formação do jogador de Jogos Desportivos (JD) e em que são descritos os modelos de processamento da informação, abordados os aspectos relacionados com a tomada de decisão táctica e equacionados os aspectos teóricos relativos ao conhecimento do jogo. Pese embora algumas críticas que referem que este tipo de investigação é realizada fora do envolvimento e constrangimentos específicos, o que implica descurar a imprevisibilidade e a componente emocional da própria situação, o certo é que os mesmos têm dado contributos significativos para a melhoria das metodologias de treino, no que diz respeito à formação e preparação do jogador nos JD. Ou seja, através da formulação de concepções incitando a um ensino na educação da adaptabilidade do jogador às mudanças impostas pela situação, pois a percepção gera acção e a acção gera percepção. Outra questão importante a saber, coloca-se sobre o modo como o conhecimento do jogador pode exprimir com rigor uma medida qualificadora das acções que realizou. Sendo certo que o jogador intervêm nas acções do jogo de acordo com o grau de conhecimento e de habilidades específicas que possui para as resolver, poderemos questionar como as resolve nas situações mais dinâmicas do jogo com carácter mais imprevisível e de forte constrangimento do envolvimento. Williams et al. (2004), consideram que para uma aquisição adequada das habilidades motoras devemos considerar a ligação integral entre percepção e acção, pois quando esta não se realiza encontramos alterações entre o que se percebe e a forma como se age. Isto quer dizer, que para além de fundamental, a ligação percepção-acção também é imprescindível nas tarefas de aprendizagem com a presença de situações que provoquem o tomar de decisões (capacidade perceptivo-decisional) e agir (capacidade de execução motora). De igual modo, é importante saber como podem ser melhoradas as capacidades de decisão do jogador. Será que através do treino é possível os jogadores melhorarem de modo significativo a sua performance?Os trabalhos de Vickers (1999, 2000), Vickers et al. (2004) realçam a importância da formação da TD nos atletas para atingirem o alto nível de rendimento edemonstram a extensão do uso do treino da TD no terreno. De acordo com as investigações levadas a cabo por esta autora, o treino da decisão foi usado durante 15 anos por treinadores de todos os níveis e numa grande diversidade de desportos. Durante esse tempo a literatura relativa ao treino da decisão tem sido testada em termos da sua aplicabilidade no mundo real. Em alguns casos, em relação a alguns aspectos têm sido encontradas dificuldades em termos de transferência do laboratório para a afinação prática. Contudo, as adaptações que têm sido realizadas têm permitido alcançar sucesso no terreno. Não podendo esgotar o âmbito de reflexão destas questões, é nossa intenção destacar a aplicabilidade e limitações das diferentes abordagens e modelos de estudo no âmbito do problema colocado. Defendemos a necessidade de uma estreita ligação e aplicabilidade dos conceitos teóricos aqui referidos em benefício da formação e preparação do jogador de JD e também da necessidade de os treinadores investirem no treino da tomada de decisão de modo a contribuírem para a melhoria da sua perfomance.

1. Introdução

Para realizar com sucesso uma acção de jogo não basta ao jogador executar correctamente uma técnica, mas será necessário conhecer sobretudo o objectivo da sua própria acção e o momento indispensável para a sua realização (Tavares, 1993). Isto significa que o jogador não deverá ser interpretado unicamente como um mero executante motor, mas também ser entendido como um ser pensante que analisa e decide mentalmente antes e durante as execuções motoras. Neste sentido, as acções do jogador são determinadas pelas situações de jogo e a sua execução racional deve ser o reflexo da sua capacidade em decidir (escolher a solução motora adequada) de acordo com a sua capacidade técnica. Vários estudos têm sido realizados numa linha de investigação que evidencia a importância dos pressupostos cognitivos na formação do jogador de Jogos Desportivos (JD) e em que são descritos os modelos de processamento da informação, abordados os aspectos relacionados com a tomada de decisão táctica e equacionados os aspectos teóricos relativos ao conhecimento do jogo. Pese embora algumas críticas que referem que este tipo de investigação é realizada fora do envolvimento e constrangimentos específicos, o que implica descurar a imprevisibilidade e a componente emocional da própria situação, o certo é que os mesmos têm dado contributos significativos para a melhoria das metodologias de treino, no que diz respeito à formação e preparação do jogador nos JD. Ou seja, através da formulação de concepções incitando a um ensino na educação da adaptabilidade do jogador às mudanças impostas pela situação, pois a percepção gera acção e a acção gera percepção. Outra questão importante a saber, coloca-se sobre o modo como o conhecimento do jogador pode exprimir com rigor uma medida qualificadora das acções que realizou. Sendo certo que o jogador intervêm nas acções do jogo de acordo com o grau de conhecimento e de habilidades específicas que possui para as resolver, poderemos questionar como as resolve nas situações mais dinâmicas do jogo com carácter mais imprevisível e de forte constrangimento do envolvimento. Williams et al. (2004), consideram que para uma aquisição adequada das habilidades motoras devemos considerar a ligação integral entre percepção e acção, pois quando esta não se realiza encontramos alterações entre o que se percebe e a forma como se age. Isto quer dizer, que para além de fundamental, a ligação percepção-acção também é imprescindível nas tarefas de aprendizagem com a presença de situações que provoquem o tomar de decisões (capacidade perceptivo-decisional) e agir (capacidade de execução motora). De igual modo, é importante saber como podem ser melhoradas as capacidades de decisão do jogador. Será que através do treino é possível os jogadores melhorarem de modo significativo a sua performance?Os trabalhos de Vickers (1999, 2000), Vickers et al. (2004) realçam a importância da formação da TD nos atletas para atingirem o alto nível de rendimento edemonstram a extensão do uso do treino da TD no terreno. De acordo com as investigações levadas a cabo por esta autora, o treino da decisão foi usado durante 15 anos por treinadores de todos os níveis e numa grande diversidade de desportos. Durante esse tempo a literatura relativa ao treino da decisão tem sido testada em termos da sua aplicabilidade no mundo real. Em alguns casos, em relação a alguns aspectos têm sido encontradas dificuldades em termos de transferência do laboratório para a afinação prática. Contudo, as adaptações que têm sido realizadas têm permitido alcançar sucesso no terreno. Não podendo esgotar o âmbito de reflexão destas questões, é nossa intenção destacar a aplicabilidade e limitações das diferentes abordagens e modelos de estudo no âmbito do problema colocado. Defendemos a necessidade de uma estreita ligação e aplicabilidade dos conceitos teóricos aqui referidos em benefício da formação e preparação do jogador de JD e também da necessidade de os treinadores investirem no treino da tomada de decisão de modo a contribuírem para a melhoria da sua perfomance.

2. Tomada de Decisão

Nos JD durante a acção de jogo o jogador está constantemente a tomar decisões (quer ofensivas quer defensivas). Com que finalidade? Para decidir pela melhor forma de agir e ter sucesso na acção. Por conseguinte torna-se importante “questionar” o que se passa “na mente” do jogador para obter melhores resultados durante a acção de jogo. Podemos considerar que nos JD o desempenho dos jogadores está associado à capacidade de processamento da informação (leitura de jogo) e de decisão. Esta, implica, assim, o apelo a processos cognitivos para tratamento da informação vinda do contexto, sendo formulados pensamentos que procuram representar a solução mais adequada para a resolução do problema. De acordo com esta perspectiva, podemos dizer que a TD é um processo do pensamento e da acção que termina num comportamento de escolha (Tavares et al. (2006). Esta perspectiva, direcciona a construção da atitude táctica para o pressuposto de que “o desenvolvimento das possibilidades de escolha do jogador depende obviamente do conhecimento que ele tem do jogo” (Garganta e Oliveira, 1996). Por consequência, a melhoria da capacidade de decisão é justificada como estando relacionada com o conhecimento declarativo (o que fazer) e com o conhecimento processual (como fazer). Segundo Anderson (1987) o indivíduo adquire conhecimento com base na experiência prática. Como tal, a conceptualização da TD é entendida como uma troca de informação entre dois sistemas, o decisor e o contexto, mas centrada na troca de informação dentro do sujeito, sendo a recolha de informação feita através das capacidades perceptivas. Assim, intenções e decisões são tomadas com base na comparação da informação percepcionada com as “estruturas do conhecimento armazenadas na memória” (Williams et al. 1999). Neste sentido, os JD são um processo complexo envolvendo várias variáveis. De facto e de acordo com Tenenbaum et al (1993), “o jogador tem de localizar e perceber as características do meio envolvente, procurar informações essenciais que a tarefa requer (distinguindo os estímulos essenciais do não essenciais), identificar padrões conhecidos, activar a memória de curta duração ao planear o jogo e montar estratégias”. De igual modo, a TD desempenha um papel crítico na execução das acções de jogo, pois a realização de movimentos conscientes é precedida por uma decisão. Assim as decisões de jogo são resultantes de decisões que devem ser tomadas muito rapidamente, devendo ser escolhidas em função da relação de oposição. Por isso podemos considerar que a capacidade de decisão é um factor da capacidade de jogo, que é realizável quando existe um vasto repertório de conhecimentos tácticos da parte do jogador (Tavares, 1993). Em suma, o significado e importância da tomada de decisão no desporto, é referido e sublinhado por vários autores que a consideram como uma das mais importantes capacidades do atleta, determinando muitas vezes o sucesso das acções técnicas e tácticas e sendo, frequentemente, responsável pelas diferenças individuais no rendimento (Ripoll, 1987, 1988; Temprado, 1989, 1991; Schellenberger, 1990; Tavares, 1993, 2002; Tavares et al., 20006; Williams e Ward, 2003) .

3. Conhecimento do Jogo

De acordo com alguns autores (French e Thomas, 1987; Thomas, 1994), para além das execuções (habilidades motoras), também a selecção das respostas e tomada de decisão em função do contexto particular da situação de competição, contribui de forma decisiva para os níveis de rendimento, sobretudo em modalidades de elevada estratégia. Nos JD o conhecimento do jogo inclui por um lado, saber como se realizam as técnicas e, por outro, conhecer as respostas adequadas às situações específicas e às variáveis com que se confronta no decorrer do mesmo (Thomas, 1994). O jogador deve saber o que fazer, decidir em cada momento e ser capaz de executar o plano. A este respeito, Konzag (1990) refere que a análise dos jogos demonstram que as acções erradas do ponto de vista técnico-táctico têm origem em carências ao nível da percepção, antecipação e decisão face aos objectivos e aos programas de acção. Ora, as situações de jogo nos JD surgem de forma aleatória e imprevisível (na maior parte das vezes e quando consideramos a complexidade da estrutura funcional do jogo) pelo que os jogadores não executam as técnicas e acções de jogo de forma repetida e semelhante, pelo que a capacidade de tomada de decisão táctica e a capacidade de selecção das respostas motoras assumem um papel fundamental para o rendimento (Tavares, 1993). E para que estas capacidades se manifestem os jogadores devem possuir um conjunto de conhecimentos sobre o jogo que lhes permita antecipar as situações, seleccionar respostas e responder adequadamente (Gréghaigne, 1992; Tavares, 1993). É com base na forma com que concebem e percebem o jogo que os jogadores tomam decisões. Quanto maior e melhor nível de conhecimentos melhor será o nível das decisões e opções. Neste sentido, a progressão dos jogadores deverá passar por uma formação ao nível dos conhecimentos sobre o jogo, de forma a permitir desenvolver a capacidade de compreender as situações de competição (que se apresentam sempre diferentes e em sequências aleatórias) e tomar as decisões correctas que permitam alcançar os objectivos, tanto no ataque como na defesa.

4. Táctica vs Tomada de Decisão

O domínio cognitivo definido pelo conhecimento declarativo e a tomada de decisão táctica é empreendido antes de um opositor iniciar uma acção, como por exemplo um remate à baliza. Já o domínio cognitivo que inclui o conhecimento processual e a tomada de decisão perceptiva é empreendido durante a execução de uma defesa a um remate. Os jogadores expert são caracterizados por terem desenvolvido, através do treino e experiência, estruturas sofisticadas no domínio do conhecimento específico. Anderson (1987) descreve uma transição do uso do conhecimento declarativo do principiante (novice) para o uso do conhecimento processual pelo expert que habilita a tomada de decisão de elevada qualidade nos desportos com bola. Associações de situação-acção são armazenadas na memória a longo termo através da repetição. O modelo de processamento de informação sugere que o conhecimento processual permite uma resposta situação-acção sem necessidade de reunir uma execução, minimizando, desse modo, a carga cognitiva. Abernethy (1999) indica a existência fundamentalmente de dois tipos de processos de atenção no ensino e treino. Um tipo do processo é consciente, deliberado e serial. O outro tipo ocorre por baixo do nível consciente e é automático, rápido e paralelo. Estes dois tipos de processos da atenção, que estão associados com os dois domínios cognitivos do conhecimento declarativo/tomada de decisão táctica e o conhecimento processual/tomada de decisão perceptiva, podem interagir e causar interferências durante a performance. Esta é uma importante consideração quando desenvolvemos o treino com objectivos avançados, mas amplamente insuficiente no processo cognitivo.

5. Treino da Tomada de Decisão

O treino da decisão é um método de ensino e treino que incorpora no regular envolvimento da prática, elevados níveis de TD dentro de contextos desportivos simulados e reais (Vickers,1999). Pretende-se com este tipo de treino, possibilitar um melhor funcionamento autónomo do jogador em competição. A este respeito, o treino da TD perceptiva apresenta algumas vantagens ao permitir isolar um determinado domínio da cognição. Um é que os diferentes domínios sugerem diferentes estratégias de instrução. As de natureza tutorial, são as mais usadas para a aquisição do conhecimento declarativo (Alessi e Trollip, 1991). O ensino das habilidades motoras, usualmente, envolve modelação. Já as habilidades processuais são habitualmente treinadas usando a simulação e a resolução de problemas (problem solving). O exercício e a prática são uma estratégia de instrução apropriada no domínio da tomada de decisão perceptiva quando o objectivo do treino é desenvolver o elo automático percepção-acção.De acordo com a perspectiva de desenvolvimento de instrução, estes estão entre os objectivos mais desafiantes para treinar as habilidades. São habilidades reconhecidas pelos treinadores e jogadores como sendo essenciais para o sucesso ao alto nível e que são geralmente assumidas para desenvolver só quando se tem muita experiência (Chamberlain e Coelho, 1993). Williams et al. (2004) verificaram que o treino agrupado da percepção-acção ou só da percepção reduz o tempo de resposta dos jogadores de forma significativa do pre para o post-test quando comparado com o grupo de controlo que recebeu só instrução técnica. Parece que a capacidade de antecipação pode ser melhorada através de instrução apropriada quer o principiante tenha de responder fisicamente à acção ou fazer apenas um juízo perceptivo da provável direcção do serviço do adversário.Os autores referem que se a capacidade de antecipação pode ser melhorada de igual modo com ou sem resposta motora, então umas das possíveis implicações é a de que o treino através da simulação em vídeo pode ser tão eficaz como o treino em situação real, permitindo aos treinadores fazer uso destes meios de treino. Sendo o treino das capacidades cognitivas essencial para a performance dos expert, podemos considerar que uso do vídeo interactivo para treinar a TD perceptiva no desporto se revela com vantajoso e essencial. Num outro registo sobre o treino da TD, Vickers (1999) realça a importância da formação da TD nos atletas para atingirem o alto nível de rendimento. De igual modo, considera que os treinadores devem formar os seus atletas no sentido de se tornarem mais auto-reflexivos, a tomarem as suas próprias decisões, a serem mais autónomos e, por consequência, a serem melhor preparados no treino de modo a tomarem as decisões necessárias para obterem excelentes performance em competição. A referida autora, coloca em contraste a formação em TD e a abordagem tradicional que coloca a tónica no treino das habilidades e das capacidades necessárias à performance e que encorajam pouco os jogadores a pensar e a agir de forma independente. Apresenta os seguintes “sete instrumentos da formação em tomada de decisão no atleta”: (1) prática variada; (2) prática aleatória; (3) feedback geral; (4) o questionamento; (5) o feedback em vídeo; (6) o ensino táctico “complexo na fase inicial”; (7) modelação. Em conjunto, estes sete instrumentos formam o reportório das técnicas utilizadas pelo treinador. De igual modo, Vickers (1999) refere que uma investigação extensa nos domínios da prática, feedback e instrução, demonstra que formas tradicionais do ensino e treino, chamadas colectivamente de treino comportamental (behavioral training) obtêm sucesso a curto prazo, mas que os atletas treinados exclusivamente nesses três domínios são incapazes de perform consistentemente a um alto nível a longo prazo, especialmente quando face a pressão. Grehaigne et al. (1999) apresentam um modelo didáctico designado de “pedagogia dos modelos de decisão táctica” (PMDT) o qual “postula que a intervenção dos processos cognitivos é decisiva na orientação e controle motor das acções. Ela supõe que a apresentação de sinais de referência perceptivos significativos e os princípios racionais das escolhas tácticas, organizam de forma determinante os efeitos da passagem ao acto abrangidoem termos de qualidade de execução” (Bouthier, 1986, pp.85). A ideia central deste modelo didáctico, apoiado na PMDT, repousa na hipótese que a apresentação das informações essenciais relativas à orientação táctica das acções, por exemplo num 2×2 e, de seguida, a sua execução nas unidades tácticas relativamente isoláveis do jogo permitem obter bons resultados. Brunelle (2004), privilegia o método de treino de TD para evitar que os atletas sejam tentados a infringir as regras de modo a compensar as suas dificuldades. Este treino tem como finalidade, permitir um melhor transfer das aprendizagens realizadas no treino para a situação de competição. De que forma? Através do desenvolvimento da sua inteligência estratégica em situação de jogo. Do mesmo modo que as habilidades técnicas, também a capacidade de pensar e de agir podem ser treinadas. Os estudos demonstram, que é possível desenvolver a percepção, a atenção e a capacidade em resolver os problemas no quadro do processo de treino. É precisamente o que preconiza o método de treino da TD. Acontece que muitas vezes treinamos os atletas para que eles adquiram rapidamente as habilidades técnicas, em detrimento da formação táctica.

6. Considerações finais

A aprendizagem clássica dos JD consiste em ensinar aos jogadores os gestos técnicos e em impor a ordem no campo, através da repartição formal dos jogadores. Ora, acontece que durante o jogo a oposição tem como finalidade gerar o imprevisto e a necessidade constante de se adaptar aos constrangimentos provocados ou resultantes do confronto, provocando a desordem. Assim sendo, torna-se essencial e importante fazer com que os jogadores saibam gerir a desordem no jogo. A “abordagem pela compreensão” do jogo de Bunker e Thorpe (1982), coloca a tónica sobre a táctica consciente e os procedimentos da tomada de decisão antes da selecção das habilidades motoras e sua execução. Com efeito, o que diferencia muitas vezes os experts dos principiantes é a capacidade de tomar as decisões adequadas em cada momento do jogo.

Assim, se dermos aos atletas os instrumentos para que eles possam melhor ler o jogo, se lhe inculcarmos indicadores de referência, ele terá melhores prestações, vivenciará menos frustrações e conseguirá fazer menos transgressões às regras para chegar aos seus objectivos. Será preciso olhar mais longe que a performance do treino. O treino tradicional, fundado sobre os aspectos fisiológicos e biomecânicos, dá bons resultados a curto prazo, mas revela-se menos eficaz a médio e longo prazo (Brunelle, 2004). O treino da TD tem em conta estes dois aspectos, mas engloba conjuntamente a dimensão psicológica.

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