Análise comparativa entre o modelo de jogo de um treinador e o conhecimento cognitivo dos jogadores ao nível das suas missões e funções específicas
Entidades(es): (1) Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) (2) Centro de Investigação de Actividade Física, Saúde e Lazer, FADEUP (3) Research Institute for Sport and Exercise Sciences, Liverpool John Moores University (4) Centro de Investigação, Educação, Inovação e Intervenção em Desporto, FADEUP
Palabras claves: Futebol , Modelo de Jogo, Conhecimento Cognitivo, Funções e Missões
RESUMO
Dada a escassez de publicações nesta área e na perspectiva de dar um contributo para o planeamento do treino com vista à correcta implementação de um modelo de jogo, procurámos, com este trabalho, fazer uma análise comparativa entre as missões e funções específicas de um treinador e o conhecimento cognitivo dos jogadores ao nível das suas missões e funções específicas. Para tal, recorremos a um estudo de caso Comparativo e Descritivo de um clube Profissional com participação no Campeonato Nacional da 2ª Divisão – Liga Vitalis e na taça da liga portuguesa de Futebol Profissional Carlsberg Cup. Através da uma análise pormenorizada do modelo de jogo do treinador foram elaborados dois guiões de entrevista, um direccionado para o treinador, tendo em vista o conhecimento das missões e funções específicas de cada posição, e outro, direccionado para os jogadores a fim de avaliar o seu conhecimento cognitivo relativamente às missões e funções específicas da sua posição e ao modelo de jogo pretendido pelo treinador. O estudo sugere-nos que, de uma forma geral, quer a nível individual quer sectorial, o modelo de jogo do treinador em estudo foi apreendido de forma bastante satisfatória pelos jogadores pelo que se considerou que existe congruência entre o Modelo de Jogo do treinador e o Conhecimento Cognitivo dos seus jogadores reflectindo-se o nível deste conhecimento cognitivo nos minutos de jogo jogados por cada jogador.
ABSTRACT
Given the low number of publications in this area and in the perspective of contributing for the training planning to a correct implementation of a game modeling, we tried, with this work, to do a comparative analysis between the missions and the specific functions of a football coach and the cognitive knowledge of the players at the level of their missions and specific functions of a Professional club with participation in the National Championship of the 2nd division – Liga Vitalis and in the cup of the Portuguese league of Professional Football – Calsberg Cup. Through a detailed analysis of the game modelling of the coach there were prepared two interview schedules, one directed to the coach, towards the knowledge of the missions and the specific functions of each position, and other, directed to the players in order to evaluate their cognitive knowledge relatively to the missions and specific functions of their position and to the game modelling of the coach. The study suggests us, that in general, at a individual level and at a specific group sector of players, the game modelling of the coach in study was understood by the players because it was considered that there was a congruence between the Game Modelling of the coach and the Cognitive Knowledge of his players with reflection of this cognitive knowledge when compared with minutes played by each player.
INTRODUÇÃO
Na concepção do Modelo de jogo, é muito importante que o treinador conheça bem as características dos seus jogadores, nomeadamente as capacidades e características de cada um, e tentar conhecer o Conhecimento Cognitivo que eles têm acerca do seu modelo de jogo. A eficácia do modelo de jogo depende da existência de três características no treinador, i.e., carácter progressista, ou seja, o modelo deverá acompanhar a evolução do jogo, ou até mesmo ultrapassar essa mesma evolução; carácter adaptativo, ou seja, o modelo de jogo deverá adaptar-se às especificidades dos jogadores, da competição, do clube e de todas as situações pontuais que possam existir; experiência e capacidade intelectual do treinador, ou seja, o treinador tem de ter a capacidade de reflectir constantemente sobre todo o sistema de relações internas e externas que envolvem a sua equipa, de forma a torná-la cada vez mais eficaz perante os novos desafios (Castelo, 2004 e 2006). Realizámos assim um estudo caso descritivo e comparativo sobre o modelo de jogo de um treinador de Futebol inserido numa competição de alto rendimento e sobre o conhecimento cognitivo que os jogadores têm das suas missões e funções específicas nesse modelo de jogo.
Material e métodos
Caracterização da amostra
Um treinador nacionalidade Portuguesa, profissional de futebol, com o Nível IV da Federação Portuguesa de Futebol e licenciado na área de educação física e vinte e um jogadores profissionais que compunham a equipa em estudo.
Definição das Variáveis
– Variáveis dependentes: Modelo de jogo do Treinador – Funções e Missões Específicas das Posições; Conhecimento Cognitivo dos jogadores em relação às suas Funções e Missões Específicas. – Variáveis independentes: Posição onde o jogador actua; Sector onde o jogador actua; Minutos de Jogo.
Procedimentos
Começamos por fazer um guião de entrevista semi-estruturada ou guiada para o treinador, através da adaptação de questionários relacionados com o Modelo de Jogo devidamente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, devidamente validados e utilizados em vários estudos de Mestrado. Através das informações retiradas do Treinador, construímos um guião de uma entrevista a realizar aos atletas. Após a realização das entrevistas aos jogadores e da sua respectiva análise foram construídas tabelas de congruência entre as respostas dos jogadores e o modelo de jogo do treinador, tanto a nível individual como sectorial.
Resultados
Apresentamos um resumo dos resultados obtidos após tratamento estatístico.
Tabela 1 – Congruência entre o Modelo de Jogo do Treinador e o Conhecimento Cognitivo que cada jogador ou cada grupo de jogadores estruturados pela sua posição têm do modelo de jogo e relação com os minutos jogados.
Figura 1 – Congruência entre o Modelo de Jogo do Treinador e o Conhecimento Cognitivo de cada jogador.
Figura 2 – Congruência entre o Modelo de Jogo do Treinador e o Conhecimento Cognitivo de cada grupo de jogadores de acordo com a sua posição.
Figura 3 – Relação da Congruência entre o Modelo de Jogo do Treinador e o Conhecimento Cognitivo de cada jogador de acordo com os minutos jogados por cada um.
Discussão
Depois de analisados os jogadores a nível individual, ainda que agrupados por posições, os Extremos foram a posição que apresentou maior congruência (80%) com o Modelo de Jogo do seu treinador. Por sua vez, os Guarda-redes, os Defesas Centrais e os Defesas laterais apresentam valores muito próximos (71%, 76% e 75%) o que nos permite inferir que, de forma uniforme, o sector defensivo está em congruência com o Modelo de Jogo do treinador. Com valores ligeiramente mais baixos, podemos encontrar os Pontas de lança (68%) e por fim os Médios centro, que são a posição que apresenta o valor médio mais baixo, com cerca de 65%, estando este valor de certa forma influenciado pela prestação do jogador 3, o único que não atingiu os 50% entre todo o plantel. Então, numa visão global podemos constatar que todas as posições analisadas apresentam valores acima dos 50%, tendo como expoente máximo os 80% dos Extremos e o mínimo 65% dos Médios Centro. Em seguida averiguámos a possível existência de uma relação entre as percentagens de congruência anteriormente referidas e os minutos de jogo de cada atleta. Verificámos que na maioria dos casos, os jogadores com mais minutos de jogo apresentam melhores resultados na congruência entre o Modelo de Jogo do treinador e o seu Conhecimento Cognitivo. Tomando como exemplo o Jogador 24, Guarda-redes, verificamos que este atleta tem 83% de congruência com o modelo de jogo do treinador e 85% dos minutos de jogo jogados, tal como o Jogador 17, defesa central, que obteve 96% de congruência para 96% de minutos em jogo, ou ainda o Jogador 9, ponta de lança, que apresenta 83% de consonância e 80% de minutos em jogo. No entanto existem outros jogadores que apesar de apresentarem valores elevados no que respeita à congruência com o modelo de jogo do treinador têm baixas percentagens de minutos jogados, tal o jogador 8 que apenas tem 5% de minutos e apresenta uma grande percentagem de congruência cerca de 80% e o jogador 6 que sendo o atleta com mais minutos em jogo (99%) apresenta uma percentagem de congruência (70%) ainda que elevada, distante dos melhores resultados.
Conclusões
De acordo com os resultados e face às hipóteses que foram levantadas, podemos concluir o seguinte:
Tabela 2 – Quadro de verificação das hipóteses
O estudo sugere-nos que de uma forma geral, quer a nível individual quer sectorial, o modelo de jogo do treinador foi apreendido de forma bastante satisfatória pelos jogadores. Apesar de algumas diferenças a nível sectorial, onde se destacam positivamente os extremos e negativamente os médios centro, podemos afirmar que existe congruência entre o Modelo de Jogo do treinador e o Conhecimento Cognitivo dos seus jogadores, pelo que se consideram demonstradas as quatro primeiras hipóteses deste estudo. Relativamente à relação entre o Conhecimento Cognitivo dos jogadores face ao Modelo de Jogo do treinador e os minutos jogados, constatou-se, os jogadores com mais minutos de jogo apresentam maior congruência com o Modelo de Jogo do Treinador, demonstrando-se por isso a última hipótese levantada pelo estudo. Salvas algumas excepções, o estudo sugere uma relação biunívoca entre estas duas variáveis, ou seja, por um lado jogadores com melhores resultados, apresentam maior solidez cognitiva no conhecimento do modelo de jogo do treinador e daí poderemos inferir que será mais habitual jogarem, e por consequência, a condição de titulares torna-os alvos mais directos das intervenções correctivas do treinador tanto em situações de treino como em situações de jogo, o que poderá facilitar o Conhecimento Cognitivo do modelo de jogo pretendido. Entendemos que estudos como este são uma ferramenta essencial a aplicar por qualquer equipa técnica, uma vez que permitem a aquisição de informação indispensável para o planeamento do treino com vista à correcta implementação de um modelo de jogo. Sendo o próprio modelo de jogo, por definição, uma conjectura de jogo, permanentemente aberta aos acrescentos individuais e colectivos, deverá ter-se em consideração a aplicação do estudo nas várias etapas da periodização do treino desportivo de forma a corresponder e auxiliar ao desenvolvimento do modelo de jogo implementado.
Bibliografia
- RODRIGUES, J. (1997). Os Treinadores de Sucesso. Estudo da Influência do Objectivo dos Treinos e do Nível de Prática dos Atletas na Actividade Pedagógica do Treinado de Voleibol. Edições F. M. H. Universidade Técnica de Lisboa.
- CASTELO, J. (1994). Futebol. Modelo técnico-táctico do jogo. Edições F. M. H. Universidade Técnica de Lisboa.
- CASTELO, J. (1996) Futebol – A organização do jogo. Edição do Autor.
- OLIVEIRA, J. G. (2003). Organização do jogo de uma equipa de futebol. Aspectos metodológicos na abordagem da sua organização estrutural e funcional. In II Jornadas Técnicas de Futebol. Vila Real, UTAD.