Characteristics of the attack, in sitting volleyball of the elite, in the game complex side-out.
Abstract
The purpose of this study was to find out the relationship between effectiveness of attack, attacking zone and type of attack on the Sit Volleyball. Sixteen games of the 2004 Paralympics Games were analyzed, totalizing 52 sets and 1426 attack actions. Descriptive and inferential statistics were used, namely the Chi-Square, in order to test the association between variables. For all the variables, the agreements percentage was above 80%. The present study showed that the more solicited type of attack zone was the spike, (77, 9%), followed by the amortie (19,6%) and the overhead pass (2,6%). Concerning the attacking zone, Z4 (44,2%) and Z2 (29,4%) were more solicited than the others. We verified that the continuity was the effect of attack more frequent (47,2%), followed by the point effect (31,2%) and the error effect (21,6%). On the association’s analysis, results showed that: (i) the point effect and error effect occur mainly from the spike and the continuity effect from the amortie (x2= 83,923; p=0,242); (ii) the point effect is more frequent on the offensive zones (Z2 and Z3) and the continuity effect on the defensive zones (Z1, Z5, Z) (x2= 69,502; p=0,000); (iii) the overhead pass is more solicited on the defensive zones (67,4%), the spike and the amortie on the offensive zones (Z4 and Z3, respectively) (x2= 67,235; p=0,000). These results suggest that the Sitting Volleyball have consistent indicators in the characterization of the attack patterns.
INTRODUÇÃO
O Voleibol Sentado (VS) apareceu primeiramente em 1956, na Holanda, e tem sido, desde então, um dos desportos mais importantes de equipa, para atletas com algum tipo de deficiência física. É um desporto praticado por amputados, congénitos ou adquiridos, e pessoas com deficiência mínima de acordo com o regulamento da World Organization Volleyball for Disabled (WOVD). Segundo a WOVD, o VS foi introduzido em competição pela primeira vez somente em 1976, tendo sido realizado o primeiro torneio internacional em Haarlem (Holanda) em 1979. Todavia, o ano de 1980 constitui um marco histórico para o voleibol para deficientes físicos na medida em que nesse ano foi incluído pela primeira vez no programa da competição dos Jogos Paralímpicos de Arnhem. O contacto entre treinadores, atletas e professores aumentou o interesse pela pesquisa nesta modalidade, tendo-se desenvolvido, progressivamente, um conhecimento mais consistente ao nível do processo de preparação desportiva dos jogadores. Porém, a escassez de literatura existente nesta modalidade não tem permitido dar-lhe o enquadramento teórico por si exigido, para poder evoluir expressamente ao nível da compreensão teórica do jogo, para a qual contribui, inquestionavelmente, a análise do jogo. Segundo Contreras & Ortega, (2000) a análise do jogo, realizada a partir da observação das acções dos jogadores, constitui um meio importante para aceder ao conhecimento do desempenho dos jogadores em competição sendo, conforme Garganta (1995), a interacção estabelecida entre a análise do jogo e o aprimoramento dos processos de treino, essencial para a melhoria da prestação em competição. A compreensão dos modelos de jogo é facilitada pela análise do jogo, o que pressupõe uma observação integrada, i.e., que estude de forma sistemática os elementos e suas interrelações, ultrapassando as fases não sistemáticas e sistemáticas mas fraccionadas (Garganta, 1996). Contudo, actualmente a análise da prestação dos jogadores e das equipas é baseada, não raramente, na intuição dos treinadores, demonstrando uma elevada subjectividade e valor científico. Neste sentido, considera-se prioritário no VS aceder ao conhecimento da prestação dos jogadores e das equipas em competição, no sentido de se sistematizar as características das acções de jogo. O presente estudo tem por objectivo caracterizar o ataque, no VS de elite, no complexo de jogo side-out, nomeadamente ao nível das zonas de ataque, tipo de ataque e eficácia do ataque, bem como das relações estabelecidas entre estas variáveis.
MATERIAL E MÉTODOS
A amostra do presente estudo foi composta por 1426 acções de ataque, pertencentes aos 16 jogos de Voleibol Sentado realizados pelas 8 equipas participantes (equipas) nos jogos Paraolímpicos, de Atenas 2004. As variáveis de análise foram o Tipo de Ataque (remate, passe, amortie, manchete), as Zonas de Ataque (tendo sido consideradas as 6 zonas convencionais) e o Efeito de Ataque (EA), o qual avalia o resultado obtido (ponto, erro, continuidade) (adaptado de Coleman, 1985). Para a recolha de dados utilizou-se a gravação em vídeo, tendo sido as acções de ataque registadas, em fichas elaboradas para o efeito. Cada acção de ataque foi analisada, no mínimo 3 vezes no sentido de se garantir a objectividade da recolha da informação. O quadro 1 apresenta o instrumento adoptado para análise do efeito de ataque, que consta de 3 itens. (adaptado Coleman, 1985).
Quadro 1 – Instrumento de observação (adaptado de Coleman, 1985)
Para a análise dos dados procedeu-se à estatística descritiva, nomeadamente frequências e percentagens. Na estatística inferencial utilizou-se o teste do qui-quadrado א) ²) em tabelas de contingência. O nível de significância foi mantido em 5%. Para testar a fiabilidade das observações, para cada uma das variáveis, foram consideradas as acções de ataque, pertencentes a três sets do jogo Grécia – Estados Unidos. A fiabilidade inter-observador e intra-observador foi apurada, com base na relação percentual entre o número de acordos e desacordos registadas em duas observações, sendo estas num total de 195 acções, do mesmo observador e duas de outro observador, com intervalo de 20 dias. Para a obtenção de percentagem de acordos e desacordos aplicamos a fórmula utilizada por Bellack et al. (1966) (Van Der Mars, 1989). A análise de dados permitiu comprovar que atingimos resultados superiores a 80%, com o valor mínimo de 97,9% (inter-observador) e o valor máximo 100,0% (intra e inter-observador).
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS TIPO DE ATAQUE (TA) E EFEITO DE ATAQUE (EA)
Relativamente ao tipo de ataque, a habilidade técnica mais utilizada foi o remate (78,0%), seguido do amortie (19,2%) e apenas, 2,6%, do passe (Quadro 2). A importância do remate no resultado do jogo leva a que os especialistas o considerem como a “chave” da eficácia do ataque (Toyoda, 1991). O facto de o remate ser a habilidade técnica mais solicitada no VS de elite, mostra que estes jogadores apesar de serem portadores de deficiência física não deixam de aplicar uma técnica que exige elevado domínio coordenativo. Em relação ao efeito do ataque verificamos que a continuidade (47,2%) supera o ponto (31,1%) e o erro (21,7%). Comparativamente com outros estudos é possível verificar que o efeito de ataque no VS se aproxima mais do jogo de Voleibol na formação (Santos, 2000), já que a continuidade é o efeito mais comum, do que no Voleibol Convencional de elite (Sousa, 2000; João, 2004), onde o efeito ponto é o mais comum. Tal facto pode ser explicado na dificuldade em rematar a bola com potência, o que propicia à defesa condições favoráveis para a recuperação da bola e, consequente organização do contra-ataque. Quadro 2. Tabela de contingência entre as variáveis tipo de ataque (TA) e efeito de ataque (EA)
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Da análise estatística verifica-se que existe uma associação significativa entre o tipo de ataque e o efeito de ataque (X ² = 83,923; p = 0,242) demonstrando que todas as células contribuíram para esta associação, excepto a realização do passe que culminou em ponto. A ocorrência de ponto e erro pela aplicação do remate e o efeito de continuidade através do passe e do amortie foram superiores ao esperado. Contrariamente, o efeito continuidade provocado pelo remate, o de ponto pelo passe e amortie e ainda de erro pelo amortie mostraram ser inferiores ao esperado. Estes resultados sugerem que o tipo de habilidade técnica utilizada no ataque interfere com o efeito do ataque, mesmo no VS onde a potência de ataque dos jogadores é obviamente menor. Deste modo, o remate mostra ser uma habilidade técnica que propicia mais a ocorrência de ponto ou de erro dadas as suas características ofensivas. Já o passe e o amortie, devido à maior previsibilidade, permitem ao adversário a organização do contra-ataque.
ZONA DE ATAQUE (ZA) E TIPO DE ATAQUE (TA)
O Quadro 3 mostra que a zona com maior ocorrência foi a z4 (44,2%), seguida da z2 (29,4%) e, finalmente, da z3 (16,0%). Percebemos que é evidente que a z4 é a zona mais solicitada para a realização do remate. Pelletier (1987), reforça esta tendência ao afirmar que os ataques realizados em potência por zona 4 correspondem a 40% da totalidade dos ataques em equipas de alto rendimento e a 65% da totalidade dos ataques em equipas de formação. É evidente a reduzida realização do ataque nas zonas defensivas (10,3%, z1, z5, z6), o que não deixa de ser curioso, dada a dificuldade de mobilidade dos jogadores, mostrando mais uma vez o excelente nível técnico dos jogadores. Quanto ao tipo de ataque utilizado em função da zona de ataque, na z1 observamos que ocorre com maior frequência o remate (81,0%), seguido do passe (11,9%) e apenas em 7,1% o amortie. Na z3 ocorre também, com maior frequência o remate (62,0%), seguido do amortie (36,2%). O passe apresenta uma ocorrência maior na z5 (23,9%), seguida da z6 (31,6%). Por seu turno, o amortie ocorre primeiramente na z2 (32,5%), logo seguida da z4 (32,1%). A análise estatística mostra a existência de uma associação significativa entre a zona de ataque e o tipo de ataque (X² = 67,235; p = ,000). A utilização do passe pela z1,z5 e z6, o amortie pela z3 e o remate pela z4 foi significativamente superior ao esperado. Em oposição a solicitação do amortie pela z1, do passe pela z2, do remate pela z3, do passe e do amortie pela z6 foi inferior ao esperado. Estes resultados mostram tendencialmente a utilização do remate pela z4 na zona ofensiva e a aplicação do passe nas três zonas defensivas, o que de novo reforça a z4 como a zona prioritária mais ofensiva no VS. Quadro 3. Tabela de contingência das variáveis zona de ataque (ZA) e tipo de ataque (TA)
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ZONA DE ATAQUE (ZA) E EFEITO DE ATAQUE (EA)
O quadro 4 apresenta os resultados da associação entre as variáveis zona de ataque e efeito de ataque. Verificou-se uma associação significativa (X²=69,502; p=,000) entre as duas variáveis sendo que o efeito de ponto ocorreu mais do que era esperado nas zonas 2 e 3 e menos nas zonas 1,5 e 6. Contrariamente, o efeito continuidade ocorreu mais do que era esperado nas 5 e 6. O efeito erro ocorreu menos que era esperado na z2 e mais na z4. Estes resultados mostram que também no VS as zonas ofensivas 2 e 3, reconhecidas como zonas preferenciais de ataque (Santos, 2004; Paulo, 2004), proporcionam a realização de ataques mais ofensivos, concorrentes da obtenção de maior eficácia. O fraco poder ofensivo verificado nas zonas 5 e 6, deve-se fundamentalmente a ataques de recurso, provocados por situações de recepção e de passe deficitárias. Estas constatações vão ao encontro dos resultados encontrados no Voleibol Convencional, particularmente ao nível de equipas na formação, onde é evidente a supremacia da eficácia do ataque, quando este é finalizado no espaço convencionalmente apelidado de ataque (z2, z3 e z4). Quadro 4. Tabela de contingência das variáveis zona de ataque(ZA) e efeito de ataque(EA)
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CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no presente estudo permitem destacar a predominância de ataques finalizados através do remate, que culminaram num efeito de continuidade realizados, prioritariamente, na Zona 4. Relativamente à associação entre variáveis destaca-se que o remate provoca mais o ponto e o erro; contrariamente o passe e o amortie propiciam mais a continuidade, relativamente ao esperado, o que mostra a influência do tipo de habilidade técnica no efeito do ataque. Relativamente à associação entre as habilidades técnicas e as zonas de ataque é de destacar o facto do passe se utilizar mais nas zonas defensivas, contrariamente ao remate, com maior aplicação na z4 e o amortie na z3. Por fim o efeito de ponto mostrou ocorrer mais, do que era esperado, nas zonas ofensivas (z2 e z3) e o de continuidade nas zonas defensivas (z1,z5 e z6). Estas conclusões sugerem que o ataque no VS apresenta características de um jogo relativamente evoluído, já que o ataque é mais eficaz nas zonas próximas da rede, o remate propicia mais o ponto e as habilidades técnicas mais ofensivas são aplicadas nas zonas tendentes a permitir maior eficácia do ataque. Tais evidências sugerem que no VS de elite as equipas conseguem incrementar ofensividade às acções de ataque, aplicando as habilidades técnicas de acordo com as zonas de ataque mais favoráveis à obtenção de ponto. Estes resultados são importantes para o processo de treino, na medida em que contribuem para a optimização da preparação das equipas para a competição. Consideramos crucial em futuros estudos analisar e caracterizar outras acções de jogo e, com isso, permitir um conhecimento mais aprofundado do jogo de VS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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