Clube Esportivo e Iniciação em Basquetebol: os recursos didáticos escritos como fomentadores do esporte e do clube.
Resumen os recursos didáticos escritos como fomentadores do esporte e do clube.
A iniciação esportiva é o momento em que o esporte institucionalizado é apresentado à criança, sendo o clube esportivo uma das principais agências fomentadoras desse processo no último século, em especial nos jogos esportivos coletivos (JECs). Nos últimos anos, no entanto, novas modalidades esportivas vem surgindo e, muitas vezes, em caráter mais informal de prática, dividindo a preferência de crianças e jovens, em uma tendência a diminuir a procura pelos JECs e também pelo clube. Considerando em específico a modalidade basquetebol e as características do clube esportivo de ser tanto instituição como grupo social, sinalizamos os recursos didáticos escritos (livro didática, paradidático ou meios digitais) como um facilitador tanto do processo de ensino, vivência e aprendizagem da modalidade, tendo em vista as perspectivas de fomento da modalidade, assim como do fortalecimento da instituição clube.
1. Introdução
O basquetebol é uma das modalidades esportivas mais praticadas no mundo com 213 países vinculados ao seu órgão máximo, a Federação Internacional de Basquetebol (FIBA, 2009), sendo uma modalidade de tradição no Brasil e a segunda modalidade coletiva mais praticada na Espanha (GARCIA FERRANDO, 2006), sendo procurada por grande número de crianças que desejam aprende-la, recorrendo a diversas instituições, como o clube esportivo, que constitui um dos principais ambientes de oferta de iniciação em basquetebol. A iniciação esportiva constitui o primeiro contato sistematizado da criança com a modalidade escolhida, sendo um momento especial para desenvolver o gosto pela modalidade, o desejo por manter a sua prática e a condição de mantê-la em diferentes níveis ao longo da vida, também como espectador. Mais que isso, se for uma experiência positiva, pode favorecer a descoberta de novos jogadores ou a formação de dirigentes, árbitros ou espectadores que conheçam a modalidade e se interesse em fomentá-la em diferentes níveis. Quando realizada no clube esportivo, pode, ainda, ser um momento de vinculação da criança não apenas com o basquetebol, mas também com o clube, a partir dos processos de socialização ali desenvolvidos. Neste estudo, apresentaremos os recursos didáticos impressos ou digitais como possíveis potencializadores dos processos de aprendizagem da modalidade basquetebol, assim como dos de identificação entre associados e o clube esportivo.
2. Discussão
Potencializar a relação da criança com o clube na direção de aumentar o sentimento de pertencimento pode ser favorável para o próprio crescimento do clube, não apenas das diferentes modalidades esportivas. É possível fortalecer vínculos, mantendo no clube seus futuros associados ou torcedores, dirigentes ou colaboradores, expandindo as perspectiva para além do esporte profissional, visto o alerta de Heinemann (1999), que apresenta como tendência o aumento da prática esportiva informal, com diminuição da procura por instituições promotoras do esporte, em especial pelo clube esportivo. Uma das razões para tal panorama está na vinculação – em geral – do clube esportivo com o significado do esporte com foco em resultados competitivos, já que esta instituição tradicionalmente e, até hoje, desempenha essa função: “(…) la práctica del deporte intensiva y regular se da fundamentalmente en los clubes. Si el deporte se practica a nivel de competición, especialmente en campeonatos de liga, el club constituye, en gran medida, la única posibilidad de satisfacer este tipo de intereses” (p.19). Para a manutenção do clube esportivo na atualidade, é importante a expansão da oferta que faz do esporte, expandindo as possibilidades de prática. Entretanto, tal perspectiva pode levar a uma orientação muito voltada ao mercado, desconsiderando um traço marcante do clube: o de ser uma mescla singular de elementos da estrutura de uma organização formal com as de um grupo social (Heinemann, 1999). As associações formais, segundo o autor, são organizações que apresentam objetivos e fins definidos, os quais são perseguidos em uma estrutura fixa de divisão de trabalho regulamentada, com autoridades designadas e vias específicas de comunicação; os membros ocupam funções específicas que facilitem a busca dos objetivos, podendo ser substituídos por outros que tenham os conhecimentos requeridos para o cargo; a vinculação dos membros (empregados) se dá por contratos laborais e pagamento de salário e as relações entre os membros são funcionalmente específicas e emocionalmente neutras. Os grupos sociais, por sua vez, são formações sociais nas quais as relações entre os membros é informal, relativamente estável, baseada na confiança pessoal, mútuo conhecimento, consenso coletivo e afetividade; não se baseiam em objetivos prédeterminados, únicos ou claramente definidos; cada pessoa tem seu valor individual, assumindo papéis afetivos que não são substituíveis, sendo o pertencimento ao grupo definido também afetivamente, havendo uma clareza de quem pertence e quem não pertence ao grupo; não existem estruturas ou regras sociais rigidamente estabelecidas, sendo a autoridade estabelecida pelo carisma e poder de persuasão de cada elemento do grupo. Os clubes apresentam características mescladas dessas formações sociais, como descreve Heinemann (1999, p.107-108).: “Ciertamente persiguen el objetivo de posibilitar a sus miembros la práctica del deporte; sin embargo, las relaciones en los clubes no responden con claridad a funciones específicas. También es verdad que forman estructuras sociales, pero, sin embargo, no pueden alcanzar el grado de formalización que es típico de las organizaciones formales. Con frecuencia se aprecia un fuerte <<Nosotros>> pero su existencia ya no está sólo vinculada a los socios actuales sino al club en su conjunto. Existen estructuras formales de autoridad, pero la influencia sigue dependiendo del carisma y de la fuerza de persuasión de las personas que ostenten cargos directivos” Essa mescla resulta em dilemas para os clubes, que necessitam buscar equilíbrio constante entre essas duas dimensões, como nas relações de trabalho baseadas no voluntariado ou no profissionalismo, nas relações diretivas fortalecidas pelo carisma ou poder de relações político-econômicas e a relação entre associados e o clube por razões instrumentais ou de identificação e afetividade. Assim, a identificação do associado ou usuário com o clube é fator diferenciador desta organização quando comparada com organizações comerciais que ofertam a iniciação esportiva. Partindo deste pressuposto, propomos um recurso auxiliar para processos de ensino-vivência e aprendizagem do esporte em clubes esportivos: o livro didático ou o para-didático (em versão impressa ou digital). Historicamente inserido no contexto da literatura escolar, o Livro Didático (LD) é assim caracterizado por Lajolo (1996, p.4 e 5): (…) o livro que vai ser utilizado em aulas e cursos, que provavelmente foi escrito, editado, vendido e comprado, tendo em vista esta utilização escolar e sistemática. (…) para ser considerado didático, um livro precisa ser usado , de forma sistemática, no ensino-aprendizagem de um determinado objeto do conhecimento humano, geralmente já consolidado como disciplina escolar. (…) ser passível de uso de aprendizado coletivo e orientado por um professor. Munakata (1999, p.579), a partir da descrição acima apresentada, caracteriza o LD como um tipo de livro que é transportado diariamente, ao menos no percurso casa-escolacasa e consultado semanalmente. Destaca que o leitor se relaciona com este material mais numa perspectiva de uso do que de leitura e que seu uso se dá em uma situação particular, no “ensino e aprendizagem”. A partir dos autores, vemos que o livro didático é um material editorial elaborado para a utilização em situações de ensino e aprendizagem, que é legitimado por sistematizar o conhecimento a ser estudado em uma situação de aprendizado coletivo e orientado por um professor, como o que se dá no clube esportivo. Para este ambiente, mais que o escolar, um recurso semelhante talvez seja ainda mais indicado: o livro paradidático, que é é considerado um auxiliar facultativo da aprendizagem, um material que concentra informações complementares ao tema em estudo, resumindo, intensificando ou aprofundando temas de estudo (Batista ,2003). As possibilidades vão se ampliando se consideramos que estes materiais podem ser ofertados tanto impressos como digitalizados, através de CDs, DVDs ou sites. Seja impresso ou on line, é necessário que se adeque a estrutura deste recurso didático para o contexto do clube esportivo e que se estruture os temas de conhecimento relevantes para a iniciação de basquetebol. Galatti (2002; 2006) e Galatti e Paes (2007) trataram desta questão, sem, entretanto, preocupar-se com as especificidades do clube. Assim sendo, neste estudo, avançaremos os trabalhos citados ao propor conteúdo para recursos didáticos escritos na iniciação em basquetebol considerando possibilidades de otimização de aprendizagem da modalidade basquetebol atreladas ao de fortalecimento da identificação criança e clube esportivo, em uma relação de duplo sentido, tendo em perspectiva: 1. O papel do clube como fomentador do esporte, considerando em específico a modalidade basquetebol e o momento da iniciação esportiva; 2. A possibilidade de fomento ao clube a partir do estímulo ao sentimento de pertencimento, tendo como sujeitos centrais as crianças participantes de processos de iniciação de basquetebol, mas considerando também o meio social em que estas se inserem, sobretudo a família. A perspectiva sinalizada neste estudo vai ao encontro da perspectiva de Blázquez (1986, p. 41) quanto à iniciação esportiva, tratando-a como a “primera toma de contacto sistemática com um deporte, dirigida por um adulto que tiene la responsabilidad de ejercer dicha función em relación com unos apredices (jugadores/alumnos), y que tiene como objetivo que el aprendiz logre su autonomia em el dominio de los procesos básicos del deporte”. Para o autor, a iniciação esportiva é caracterizada por processos de socialização, ensino-aprendizagem, aquisição de habilidades, capacidades e destrezas, sendo ainda uma etapa de contato e experimentação. Considerando o recurso didático escrito um possível potencializador destes processos, sinalizamos, neste estudo, para quatro aspectos importantes do processo pedagógico de iniciação esportiva em clubes que podem ser melhor abordados com o auxílio de um suporte escrito, sendo elas: (1) Apresentação da modalidade e do clube; (2) Aspectos Físico e de Saúde (3) Aspectos Técnico-Táticos (4) Aspectos sócio-afetivos, exemplificadas no quadro que se segue:
Todos estes aspectos podem ser potencializados quando o clube dispõe de uma equipe principal, como destacado na abordagem de cada aspecto. Entretanto, na ausência desta, sugerimos que sejam criados personagens fictícios ou que as idéias sejam ilustradas com imagens e relatos de jogadores profissionais de conhecimento público que tenham sido expostos na imprensa.
3. Considerações Finais
As agências não formais que promovem a iniciação esportiva, ao propor-se a “iniciar a criança” no esporte, podem agregar novos recursos didáticos que possam incrementar esse processo de ensino-vivência e aprendizagem das diferentes modalidades esportivas. A iniciativa de agregar ao clube esportivo um recurso didático escrito não se dá pela perspectiva de diminuir os momentos de prática do basquetebol, ao contrário, alertamos que isto pode ser um problema que, ao invés de aproximar as crianças do basquetebol e fortalecer seu vínculo com o clube, pode distanciá-las, visto que procuram o esporte no clube justamente para praticá-lo, geralmente, com mais intensidade que em outros ambientes, como o escolar. Assim, sugerimos que, no contexto do clube esportivo, seja mais adequada a inserção do livro paradidático, assim como o melhor aproveitamento do site do clube para tal, mantendo-se a orientação do professor-técnico, mas dando liberdade de uso e busca informações sobre o basquetebol ou sobre o clube por parte do aluno-jogador, sendo, ainda, aproveitados momentos pós-treinamentos, viagens e “campus” de férias ou treinamento para otimização do uso deste recurso didático.
Bibliografía
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