La iniciación deportiva desde una perspectiva educativa y lúdica. La estructuración del programa Segundo Tiempo en Brasil.
Resumen
A prática esportiva no Brasil esteve, por muito tempo, atrelada a ações descontextualizadas e sem implicações formativas mais significativas. Essa situação e prática constituíram no imaginário social de nossa população uma visão restrita sobre o fenômeno esportivo e sua potencialidade formadora. Porém, como é de conhecimento geral, pois foi e é ainda muito citado nas produções técnico-científicas da área, houve um questionamento geral dessa condição a partir da década de oitenta em nosso país.
INTRODUCCIÓN
A prática esportiva no Brasil esteve, por muito tempo, atrelada a ações descontextualizadas e sem implicações formativas mais significativas. Essa situação e prática constituíram no imaginário social de nossa população uma visão restrita sobre o fenômeno esportivo e sua potencialidade formadora. Porém, como é de conhecimento geral, pois foi e é ainda muito citado nas produções técnico-científicas da área, houve um questionamento geral dessa condição a partir da década de oitenta em nosso país. Esse período geral de crítica provocou grandes avanços para a área da Educação Física e para o seu profissional. Isso não quer dizer que já estejamos em uma área de consenso e tranquilidade acadêmica, o que esperamos também não aconteça, pois o consenso é uma forte representação do autoritarismo e do domínio. A divergência, oposição e ideias conflituosas nos impelem a avanços e saltos qualitativos importantes. Nesse sentido, a divergência acadêmica é extremamente saudável e importante, desde que não caia na crítica vazia e sirva apenas para registro de posição sem indicativos de superação de quadros conceituais temporais. O Programa Segundo Tempo vem, desde a sua criação, buscando superar essas contradições e encontrar um caminho que possa potencializar suas intencionalidades formativas e integradoras, com o uso do esporte em sua complexidade para a emancipação de seus participantes. Essa intenção é por demais ambiciosa para um único programa social, temos ciência desse fato, contudo, há o entendimento de que se conseguirmos contribuir e fazer nossa parte eficientemente, potencializaremos o processo formativo e novas gerações poderão desfrutar dessa formação ampliada. Entender o esporte para além das linhas das quadras e das regras padronizadas é ponto básico dessa intenção formativa. Para tanto, apresentamos algumas indicações e rápidas reflexões para auxílio nessa forma de entender e trabalhar o esporte no Programa Segundo Tempo (PST).
O esporte para o Programa Segundo Tempo
Um ponto de destaque nessa nova significação atribuída ao esporte no PST é o de que o esporte ultrapassa a ideia de estar voltado apenas para o ensino das técnicas, táticas e regras dos esportes, embora inclua esses aspectos. Muito mais que isso, cabe aos professores e monitores de Educação Física vinculados ao PST problematizar, interpretar, relacionar, compreender com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal, de tal forma que os alunos compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais. O fenômeno esporte passa a ser conteúdo e estratégia para entendimentos ampliados da sociedade. É conteúdo a partir do momento que se tem a intenção básica de utilizar sua estrutura para o aprendizado das técnicas motoras básicas e específicas e táticas do próprio esporte. Mas transcende a esse aspecto básico ao ser utilizado como estratégia para demonstração, ensinamento e reflexão sobre seus constituintes de forma mais aprofundada (padrões motores, coordenativos, aptidão física, saúde, cooperativismo, autoconhecimento, etc.) e também das relações possibilitadas nas diferentes situações da vida (vencer, perder, cooperar, superar, equilíbrio social, regras sociais, economia, direito, antropologia, etc.). Com o esporte podemos trabalhar as regras sociais e como cumpri-las, por que cumpri-las e como alterá-las. Como adaptar as situações do cotidiano de forma a atender aos envolvidos, como aceitar as limitações e/ou dificuldades alheias, como entender nossas próprias limitações e desfrutar livremente e sem preconceitos as delícias do esporte. Contudo, os alunos só terão acesso a essa visão se os professores envolvidos conseguirem enxergar e exemplificar também de forma diferente. Se as visões não forem problematizadas e demonstradas de forma divergente da tradicional, poucas chances os envolvidos terão de acessá-las. Assim, os professores precisam ter suas concepções questionadas e simultaneamente transgredir seus paradigmas a fim de potencializar as ações e reflexões no cotidiano das aulas e encontros. Para atingir essa condição os envolvidos devem atentar-se para as exigências metodológicas implícitas, ou seja, entender que os momentos a serem vivenciados não podem ser simplesmente colocados sem o devido planejamento e adequada estruturação das ideias e temas de trabalho. Sem o preparo e devido estudo das etapas e suas exigências, o trabalho pode ser perdido e esse tempo precioso de formação desperdiçado. O Programa Segundo Tempo quer fazer a diferença na formação de nossas crianças e adolescentes, para tanto, estimula o desenvolvimento e prática do esporte para além das regras e códigos básicos. Dessa forma, estrutura-se dentro da concepção do esporte participação e inclusão, no qual a essência é a possibilidade de agir livremente e dentro das limitações pessoais de cada um. O PST advoga um processo formativo e informativo em toda a sua estrutura. As proposições do processo de iniciação esportiva rompem com o paradigma da esportividade básica especializada com vistas a estruturar um processo que consiga, por meio de ações lúdicas planejadas e hierarquicamente orientadas, contribuir na consolidação de uma base motora, técnica e tática que suporte futuras ações mais complexas e exigentes em todos os sentidos. Nesse sentido, a estrutura pedagógica organizada para o PST busca constituir seu corpo de conhecimento com base na pedagogia do esporte, nos conhecimentos da psicologia do desenvolvimento, do crescimento e desenvolvimento motor, da iniciação esportiva, das questões da inclusão, de gênero e também dos processos avaliativos. Tal estrutura serve como sendo a base aos responsáveis pelo desenvolvimento dos trabalhos vinculados ao PST, pois entendemos que sem eles as ações podem se perder no livre fazer e sem propósitos. Não é porque se trata de um programa social que a ação de planejar, organizar e avaliar não se faz presente, muito pelo contrário, é justamente nesse tipo de ação que mais se exige dessas áreas do conhecimento a fim de se potencializar cada atividade desenvolvida.
O Programa Segundo Tempo
O PST vem gradativamente conquistando espaços e formas inovadoras de intervenção, diversificando seus modelos e práticas de acordo com as novas populações a serem atendidas. O Brasil é gigante em espaço e em diversidade cultural, o que faz com que tenhamos um enorme cuidado em planejar e avaliar as ações. Temos realidades diferentes em nosso país, portanto, com exigências também diferenciadas de abordagens. Com essa estrutura territorial e diversidade cultural, o PST procurou apoio junto às Universidades Brasileiras e constituiu o que denominou de rede do PST, são as Equipes Colaboradoras (ECs) que são constituídas por professores universitários e alunos de mestrado e/ou doutorado que nos auxiliam a acompanhar pedagogicamente e administrativamente os quase 6 mil núcleos do PST pelo Brasil. Essas ECs são em número de 20 e agrupam aproximadamente 160 profissionais. As ações das ECs vão de um processo de análise dos Planejamentos Pedagógicos dos Núcleos, acompanhamento das atividades dos Núcleos, plantões às dúvidas e anseios dos coordenadores, capacitação presencial e a distância, organização de experimentos para o PST, organização de material pedagógico e suporte geral no processo de reflexão sobre o PST. Hoje, essa estrutura coloca-se como fundamental à existência desse programa em nosso país. Com essa estrutura é possível que consigamos monitorar os quase 6 mil núcleos espalhados pelo país afora, em todos os estados da federação, e atender aos 6.500 coordenadores e quase 12 mil monitores (estudantes universitários) que atuam no PST. Esse contingente profissional atende, por sua vez, a aproximadamente 1 milhão de crianças em situação de vulnerabilidade social em nosso país. Por conta dessa magnitude numérica e qualidade de todo o processo que estamos desenvolvendo, o PST tem conseguido avanços significativos no imaginário social e conquistado espaços imprescindíveis ao aumento de sua capacidade de atendimento, inclusive em outros órgãos e ministérios. A partir de 2010, o Programa Segundo Tempo está sendo incorporado a outro programa federal “Programa Mais Educação” vinculado ao Ministério da Educação, que visa levar a condição de turno ampliado às escolas brasileiras. Com essa junção, já para o ano de 2010 estamos ampliando o atendimento do PST para mais 400 mil crianças e a expectativa de no ano de 2011, chegarmos ao total de 3 milhões de crianças a serem atendidas pelo PST em sua plenitude. Por fim, tendo o PST como um dos maiores Programas Sociais com o envolvimento do esporte, entendemos que o mesmo deva transcender a condição de um programa que tem a característica de um programa de governo e que passe a ser considerado um programa de Estado que, independentemente de qual gestor e ou bandeira partidária venhamos a ter em nosso país, o mesmo tenha a sua continuidade e possa atender ao preceito constitucional de disponibilizar a população brasileira o direito do acesso ao esporte. O esporte como uma construção social humana, pode ser o que quisermos que ele seja, do adestramento à libertação e emancipação bastando, para tanto, que saibamos utilizá-lo.