The decision making in rink hockey – comparative study between 1st and 2nd division athletes, in counterattack situations
ABSTRACT
The investigation in decision making has allowed to verify that the general relation between the training situations and the posterior application in the game is not linear, being conditioned by the specifity of the situations that is verified in the competition. With the intention to analyse the decision making by the light of an ecological perspective, we constructed an instrument (test) that may allow us to evaluate the quality of the offensive decision making in counterattack situations. The test was based on 19 real and high level game situations of counterattack, of which only 15 had been validated by the experts that became the final situations of the test. Later, according to the established protocol, it was applied to a sample of 57 athletes. We compared the results obtained in function of the division, the specific rank (position) and of the experience’s years as players in this sport modality. After the analysis of the data, we evidenced that the athletes of 1st division were, in a general way, the ones that had gotten better results. In the matter of the specific rank, the defenders/midfielders achieved the best results.
INTRODUÇÃO
1.1. PERTINÊNCIA E ÂMBITO DO ESTUDO Todo o jogo desportivo colectivo caracteriza-se pelo confronto hostil e complexo entre dois grupos de executantes, visando a posse do objecto de jogo e respectivo controlo racional, os quais se objectivam na concretização da finalidade máxima do jogo – a vitória (Martins, 2004). O Hóquei em Patins (HP) não foge à regra e afirma-se como um dos Jogos Desportivos Colectivos (JDC) em que mais esse confronto se acentua, através de disputas de bola intensas, efectuadas a grande velocidade e sob grande pressão. Além destes aspectos, o facto de ser uma modalidade onde a locomoção é executada sobre patins confere-lhe uma rapidez de alternância entre situações de ataque e defesa quase única sendo que, podemos recuperar a bola junto da nossa baliza e, em três segundos, estarmos a finalizar o contra-ataque na baliza adversária. Então, é essa natureza que faz com que seja preponderante para o sucesso nesta modalidade uma rápida e eficaz tomada de decisão. Tal como nos diz Mesquita (2005), nos JDC a táctica assume uma elevada plasticidade, entrelaçando o linear com o caótico, em função das condições concretas do jogo, sendo que a acção não se pode separar da decisão. O grande objectivo do treino é melhorar o desempenho do jogador em competição. Jogar “bem” significa, sobretudo, decidir “bem” no decurso da competição (Araújo & Volossovitch, 2005). Mas nem sempre, ou melhor, na maioria dos casos, as situações que surgem no jogo não são iguais às do treino, seja pela forma como os adversários defendem e se colocam em campo, seja pela forma como fintam. É por isso fundamental que o jogador se torne autónomo e que seja capaz de “ler” adequadamente cada situação, resolvendo-a em tempo útil, no sentido de atingir o objectivo que é partilhado pela equipa. Como consequência, torna-se importante desenvolver competências que transcendam a execução propriamente dita e valorizem as capacidades relacionadas com as estratégias cognitivas que guiam a captação de informação e a tomada de decisão (Garganta, 2005). No contexto da investigação do processo da tomada de decisão, o desenvolvimento simultâneo de modelos teóricos e tecnológicos da ciência da computação tem contribuído para o aumento considerável das investigações nesta temática. Analisar e compreender o comportamento do atleta em situação real do jogo é extremamente difícil, pelo que se socorre, também, de situações simuladas no laboratório (Tavares, 1999b). No entanto, no HP, “a escassez de estudos nacionais e internacionais relativos, quer a aspectos estruturais (táctico-técnicos), quer aos condicionais (físicos), quer a todos os outros aspectos associados à modalidade (antropométricos, fisiológicos, psicológicos, sociológicos, etc), colocam-na “na cauda” das modalidades desportivas colectivas, cuja intervenção do pesquisador ou estudioso menos se tem feito notar” (Martins, 1994). Dado este panorama, e como praticantes da modalidade, entendemos ser necessário, já que no HP não existem estudos nesta área, aprofundar e explorar a temática da tomada de decisão por parte dos jogadores. Contudo, tendo em conta a natureza do trabalho, apenas nos iremos centrar em situações ofensivas, nomeadamente de contra-ataque (CA). 1.2. OBJECTIVOS Na sequência do que foi dito anteriormente, surge então este estudo. Importa salientar que se trata de um trabalho de natureza exploratória, e de carácter pioneiro no nosso país no que diz respeito ao HP. Assim, com a sua execução, traçamos os objectivos a seguir mencionados. 1.2.1. OBJECTIVO PRINCIPAL Construir um instrumento que vise avaliar a qualidade da tomada de decisão ofensiva (TDO) do atleta de HP, nomeadamente ao nível das situações de CA. 1.2.2. OBJECTIVOS SECUNDÁRIOS – Comparar a qualidade da TDO em CA de atletas da 1ª divisão com atletas da 2ª divisão. – Comparar a qualidade da TDO em CA dos atletas de acordo com os postos específicos. – Comparar a qualidade da TDO em CA dos atletas de acordo com os anos de prática de HP. 1.3. HIPÓTESES De acordo com os objectivos estabelecidos, passamos a formular as nossas hipóteses: Hipótese nº 1 – Os atletas da 1ª divisão apresentam uma qualidade da TDO em CA superior aos atletas da 2ª divisão. Hipótese nº 2 – Os atletas com características mais ofensivas apresentam uma qualidade da TDO em CA superior quando comparada aos atletas com características mais defensivas. Hipótese nº 3 – Os atletas com mais anos de prática de HP apresentam uma qualidade da TDO em CA superior quando comparada aos atletas com menos anos de prática.
METODOLOGIA
2.1. CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO O principal objectivo deste trabalho é a construção de um instrumento que permita analisar a qualidade da tomada de decisão de atletas de HP, em situações de CA. Para tal, e à imagem do que foi feito por Ferreira (1999), começamos por seleccionar um conjunto de situações de ataque respeitantes a filmagens do 36º Campeonato do Mundo de HP, realizado em Oliveira de Azeméis, de 27 de Setembro a 4 de Outubro de 2003, nomeadamente dos jogos de Portugal com a França, Holanda, Argentina e Itália. Utilizamos estas filmagens pois, tal como refere Adelino (1987, cit. por Tavares & Cruz, 2002), as fases finais das competições internacionais são momentos óptimos para a observação e análise de características e tendências de evolução das modalidades, onde se estabelecem referenciais de desenvolvimento. Após a recolha das situações de ataque, e no intuito de ir de encontro ao tema por nós abordado, realizamos uma selecção das situações de CA existentes, a qual foi sujeita a uma triagem posterior que nos permitiu dispor de 19 situações para a fase de peritagem. Para efectuarmos a peritagem e validação do instrumento contactámos seis treinadores de renome nacional e internacional. Com o intuito de manter a ecologia do instrumento, adoptamos uma estrutura de apresentação que fosse ao encontro do que acontece no jogo, ou seja, que implicasse uma análise perceptivo-dinâmica, que sujeitasse os atletas a uma pressão temporal na tomada de decisão, e por fim, que criasse uma carga decisional sequencial. Para tal, decidimos efectuar de forma contínua o visionamento das situações e respectivas opções, dentro do seguinte: cada situação duraria aproximadamente 6 segundos, após os quais ficaria a imagem parada por mais 3 segundos no último frame, ou seja, no momento em que o portador da bola iria ter de tomar uma acção. De seguida, surgiriam as 3 opções possíveis com uma apresentação de apenas 5 segundos. No final desse tempo, surgiria nova situação, e assim por diante até ao final do teste. Para o efeito, foi construída uma ficha de registo para os atletas, onde estes, além dos seus dados, assinalavam as suas respostas. 2.2. AMOSTRA A nossa amostra é constituída por 6 equipas do escalão sénior masculino, divididas por 2 grupos, sendo que 3 seriam da 1ª divisão e outras 3 da 2ª divisão, o que perfez um total de 57 atletas, dos quais 29 jogam na 1ª divisão e os restantes 28 na 2ª divisão.
Gráfico 1 – Número de atletas por divisão.
Escolhemos as equipas, de modo a que pudessem retratar as características da 1ª e da 2ª divisão. Por isso, escolhemos equipas que se mantivessem há bastantes anos na respectiva divisão. Assim, como equipas da 1ª divisão seleccionamos o Futebol Clube do Porto (FCP), a União Desportiva Oliveirense (UDO) e a Associação Cultural e Recreio de Gulpilhares (ACRG). Como equipas da 2ª divisão seleccionamos o Académico Futebol Clube (AFC), o Clube Infante Sagres (CIS) e o Centro Recreativo Popular da Freguesia de Lavra (CRPFL).
Gráfico 2 – Número de atletas por equipas da 1ª divisão.
Gráfico 3 – Número de atletas por equipas da 2ª divisão.
2.3.MATERIAL E MÉTODOS Para a realização do presente estudo, utilizamos o material, aplicações e instrumentos que de seguida mencionamos: – Computador pessoal Pentium IV; – Vídeo-gravador LG; – Portátil Asus A6; – Portátil Asus M2N; – Microsoft Windows Movie Maker v.5.1; – Microsoft Word 2003; – TMPGEnc 3.0 XPress; – Opus Presenter 5; – Datashow Samsung; – Tela de apresentações; – SPSS v.14.0 for Windows. Para a aplicação do instrumento, utilizamos o método de apresentação em vídeo, através de um data show e projectado numa tela, de modo a que todos os atletas estivessem nas mesmas condições de realização. 2.4. PROTOCOLO DE APLICAÇÃO O instrumento em questão foi construído de forma tornar-se facilmente aplicável, não só pelo seu conteúdo atractivo para os atletas, de características vincadamente ecológicas, mas também pelo pouco tempo necessário para o aplicar e pelo facto de poder ser passado a uma equipa inteira em simultâneo, não obrigando, assim, a que os atletas executem o teste individualmente. Assim, de cada vez que aplicámos o instrumento, chegámos mais cedo ao local, de modo a preparar o espaço para a apresentação. Concluída esta etapa, preparámos as fichas de registo e a disposição em que os atletas ficariam. Após o preenchimento dos dados individuais, iniciávamos a apresentação do teste e dissipávamos todas as dúvidas quanto ao objectivo, mecânica e método de preenchimento do teste, bem como outras que pudessem surgir. 2.5. PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO No que concerne ao protocolo de avaliação, ficou definido atribuir uma classificação às respostas dadas pelo atleta. Desta forma, são atribuídos ao atleta em cada situação 5, 3 ou 1 valores, caso ele responda, respectivamente, à melhor solução, à solução intermédia e à pior solução. Assim, o atleta obtém uma maior pontuação quanto melhor for a sua resposta. No final, procede-se ao somatório das cotações obtidas em cada situação, e quanto maior a pontuação, melhor será a qualidade da tomada de decisão, no nosso caso, em contra-ataque. 2.6. TRATAMENTO ESTATÍSTICO Para a realização da análise estatística utilizamos no nosso estudo os seguintes procedimentos: • A estatística descritiva, que nos permitiu calcular a média, o desvio padrão, máximo e o mínimo de cada um dos dois grupos que constituíam a amostra (1ª e 2ª divisão), de uma forma geral e por postos específicos; • O T-teste de amostras independentes e a Anova unidimensional, serviram para comparar as diferenças entre as médias dos resultados gerais e por postos específicos dos dois grupos, ou seja, entre 1ª e 2ª divisão; • O teste de Tukey foi usado para identificar as diferenças entre as médias dos resultados obtidos de acordo com os postos específicos, entre as duas divisões, e em cada uma delas; • Foi utilizado o teste de Mann-Whitney para comparar as diferenças dos resultados obtidos segundo os postos específicos entre as duas divisões; • O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para verificar a associação entre os resultados obtidos e a experiência dos atletas (anos como jogador de HP) em cada uma das divisões, de uma forma geral, e também por postos específicos; • Em todos os procedimentos foi mantido um nível de significância de 5% (p=0,05).
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1. RESULTADOS MÉDIOS Após inserirmos todos os dados recolhidos, com a aplicação do teste no SPSS, foi possível iniciar a sua análise. Para tal, começamos pelo aspecto mais geral, ou seja, pela comparação da média dos resultados obtidos por cada grupo, isto é, em cada divisão.
Quadro 1 – Valores dos resultados por divisão.
Após observarmos o Quadro 1, verificamos que a média da 1ª divisão (62,24±5,98) é superior à da 2ª divisão (60,57±5,56), embora a diferença não seja estatisticamente significativa. Para além disso, e a confirmar a tendência dada pelos valores médios, constatamos que o melhor resultado registado (73), ocorreu na 1ª divisão. Parece-nos então que, podemos conjecturar uma melhor qualidade da TDO dos atletas de 1ª divisão, quando comparados com atletas de 2ª divisão. Tal com diz Tenenbaum et al. (1993, cit. por Ferreira, 1999), para que haja uma tomada de decisão correcta, o atleta tem de “re”conhecer o meio, captar as informações necessárias e definir estratégias em função do que o jogo lhe apresenta. Ferreira (1999), comparando atletas de futebol federados de alto nível com atletas federados de baixo nível, registou que os primeiros obtiveram um resultado superior, de forma estatisticamente significativa, no que diz respeito ao número de respostas certas num teste de conhecimento declarativo. Também Greco et al. (1999, cit. por Ferreira, 1999) concluiu, num estudo realizado com atletas escolares e federados, que os segundos apresentavam melhores resultados ao nível do conhecimento táctico. Este facto, evidencia-nos que, jogadores que competem a um nível mais elevado, possuem uma qualidade de tomada de decisão maior do que jogadores que competem num nível mais baixo, embora as causas que expliquem esta tendência, possam estar não só ligadas ao nível de competição, como também ao nível da instrução e da qualidade do treino. Em relação à interferência dos anos de experiência como jogador de HP nos resultados obtidos por parte dos atletas, registamos os seguintes valores:
Quadro 2 – Correlação entre os resultados e os anos de experiência, por divisão.
Após relacionarmos os anos de HP com os resultados obtidos no teste de TDO, verificamos que existe uma correlação negativa fraca, mas presente, no que diz respeito à 1ª divisão. Já em relação à 2ª divisão, a relação é positiva, mas indiferente. Estes resultados apontam-nos para duas possíveis situações: – Em relação à 1ª divisão, observa-se que os atletas, que tendencialmente registaram os melhores resultados, foram os que menos anos de experiência possuem. Parece-nos então viável considerar a possibilidade de que os atletas com menos anos de experiência tenham sido sujeitos a um treino e instrução de melhor qualidade. Pelo contrário, os atletas mais experientes, não foram eventualmente sujeitos, durante a sua formação e carreira, à qualidade de treino que hoje em dia se verifica, e que tende a melhorar. – Já em relação à 2ª divisão, julgamos que o facto de haver uma relação indiferente, mas positiva, está relacionado com um pior nível de instrução e de treino a que estes atletas foram sujeitos durante a sua formação, e que, em muitos casos, mesmo na actualidade, pode ser considerado inferior quando comparado com a 1ª divisão. Posto isto, parece-nos que, na 2ª divisão, o aumento da qualidade da tomada de decisão, acontece, essencialmente, à custa da experiência acumulada pelos anos como jogador de HP. Este resultado corrobora o estudo realizado por Tavares (1993, cit. por Tavares, 1999a), no qual investigou a capacidade de decisão táctica em jogadores de basquetebol, comparando os processos perceptivo-cognitivos de jogadores seniores e cadetes. A partir da análise dos principais resultados, verificou que os jogadores mais experientes eram mais rápidos e correctos a decidir tacticamente pela resposta adequada. Também Tenenbaum et al. (1993, cit. por Tavares, 1999a) realizou um estudo no andebol, no qual procurou relacionar a capacidade de decisão, com algumas características dos jogadores, que estavam agrupados pelo factor experiência. Os resultados levaram os autores a concluir que os jogadores mais experientes tomaram decisões mais qualificadas nos três tipos de situações apresentadas. 3.2. COMPARAÇÕES INTRA-DIVISÃO Passando agora a uma análise mais exaustiva, decidimos comparar os resultados obtidos no teste de TDO dentro de cada uma das divisões por postos específicos e também comparar os resultados por postos específicos entre as duas divisões.
Quadro 3 – Valores dos resultados por divisão de acordo com os postos específicos
O Quadro 3 permite-nos observar quais os atletas que, segundo postos específicos, nomeadamente guarda-redes (GR), defesas/médios (DM) ou médios/avançados (MA), obtiveram os melhores resultados, em cada uma das divisões. Assim sendo, dos resultados obtidos constata-se que, embora não hajam diferenças estatisticamente significativas, em ambas as divisões os melhores classificados foram os DM. Parece-nos que este resultado está associado ao facto de, no HP, os jogadores que normalmente são responsáveis pelas tarefas de organização do jogo colectivo, são atletas que ocupam essa posição, e portanto, estão especificamente mais afinados a questões de análise de jogo. Este facto vem corroborar aquilo que Coulibay (1984, cit. por Tavares, 1999a), ao analisar as escolhas tácticas de jogadores de voleibol de alto nível, relativamente à sua especialização nas diferentes posições do jogo, concluiu: a regulação das opções está associada ao nível de elaboração do pensamento táctico, pensamento esse que é mais elaborado nos passadores do que nos rematadores, devido à seu especialização no jogo. Também o facto de os MA, sendo os jogadores com mais características ofensivas, não terem obtido no teste de TDO os resultados mais elevados, vai ao encontro dos resultados encontrados por Ripoll (1988, cit. por Tavares, 1999a), que ao analisar as escolhas (soluções) e o pensamento táctico de jogadores de voleibol, concluiu que os rematadores possuíam um menor grau de compreensão táctica, algo que permite especular que a especialização dos rematadores, cuja tarefa é a de concluir a acção, não lhes permite desenvolver opções tácticas da mesma natureza das que são levadas a cabo pelos treinadores e distribuidores, podendo mesmo ser consideradas como genuínas estratégias de jogo. Continuando este tipo de análise, avançamos para a comparação dos resultados intra-divisão por postos específicos.
Quadro 4 – Comparação dos resultados médios entre postos específicos, por divisões.
O teste de Tukey permite-nos perceber, de uma forma mais incisiva, as diferenças de resultados entre os postos específicos de cada uma das divisões. Por conseguinte, é possível verificar que, tanto na 1ª divisão como na 2ª, não existem diferenças estatisticamente significativas. No entanto, reparamos que é na 2ª divisão que se encontram as maiores diferenças entre postos específicos, nomeadamente, em primeiro lugar, entre os DM e os GR, e em segundo, entre os DM e os MA. Estas diferenças verificam-se, devido ao maior destaque, em termos de resultados obtidos, que os DM nesta divisão obtêm em relação aos restantes postos. No que concerne à 1ª divisão, as maiores diferenças, embora inferiores às da 2ª divisão, encontram-se entre os DM e os MA, igualmente devido à preponderância dos primeiros. Julgamos que é possível atribuir ao tipo de instrução, nomeadamente à menor qualidade desta, o facto de se encontrarem as maiores diferenças entre postos específicos na 2ª divisão e não na 1ª. Além do acima referido, julgamos que a superioridade de resultados dos DM, e no caso da 1ª divisão também dos GR, em relação aos MA, pode estar relacionada com o que concluiu Ferreira (1999), num estudo envolvendo atletas federados, dos quais os que apresentavam melhores resultados ao nível do conhecimento declarativo, na resolução de situações táctico-técnicas ofensivas, eram os GR e os defesas centrais. Greco (1999a, cit. por Ferreira, 1999) complementa, afirmando que esta aparente contradição pode ser explicada pelo maior tempo de observação que os jogadores destas posições têm durante os jogos, e pelas soluções que eles necessitam de encontrar para obstar às concretizações dos avançados contrários. De seguida, no Quadro 5, vamos verificar e comparar a associação existente entre a experiência dos atletas, ou seja, o número de anos como jogador de HP, com os resultados obtidos em cada posto específico, dentro de cada uma das divisões.
Quadro 5 – Correlação entre os resultados e os anos de experiência, por postos específicos.
De acordo com os valores registados, é possível constatar que a relação entre os anos de experiência como jogador de HP com os resultados obtidos, acompanham, de uma forma geral, a tendência que se verificou em cada uma das divisões, com a excepção para os GR, no caso da 1ª divisão, e para os DM, no caso da 2ª divisão. Mais uma vez, julgamos ser possível atribuir à qualidade de instrução os resultados encontrados, reflectindo assim o que acontece, de forma geral, em cada uma das situações. No entanto, pensamos que o facto de os DM inverterem esta tendência na 2ª divisão está, mais uma vez, relacionado com o facto de estes serem, normalmente, os responsáveis pelas questões organizativas em jogo, o que aliado à recente melhoria na formação, faz com que os jogadores menos experientes obtenham melhores resultados, à imagem do que acontece na 1ª divisão. 3.3. COMPARAÇÕES INTER-DIVISÕES Vamos agora efectuar a comparação entre os resultados obtidos nas duas divisões, mas tendo em conta os postos específicos, ou seja, vamos comparar os resultados médios obtidos pelos GR, DM e MA da 1ª divisão com os obtidos na 2ª divisão.
Quadro 6 – Comparação dos resultados médios entre divisões, por postos específicos.
Após a aplicação do teste de Mann-Whitney, os resultados revelaram que, mais uma vez, não existem diferenças estatisticamente significativas, agora no que diz respeito à comparação por postos específicos entre cada uma das divisões. No entanto, é possível verificar que as maiores diferenças se encontram no grupo dos GR (p=0,139), algo que mais uma vez julgamos dever-se à qualidade da instrução e ao nível competitivo. De salientar ainda que, entre os DM da 1ª e da 2ª divisão praticamente não se registam diferenças (p=1,000), cuja explicação remetemos, novamente, para o tipo de funções que estes atletas geralmente desempenham em jogo, mais concretamente de organização.
CONCLUSÕES
De acordo com os objectivos e hipóteses propostos inicialmente no nosso estudo, e tendo por base os resultados obtidos e a sua discussão, passamos a salientar as seguintes conclusões: 1. A Hipótese nº 1 foi confirmada, ou seja, os atletas da 1ª divisão apresentam uma qualidade da TDO em CA superior aos atletas da 2ª divisão, sendo que as diferenças encontradas não são estatisticamente significativas. Julgamos ser possível conjecturar que as causas que explicam este facto podem estar não só ligadas ao nível de competição, como também ao nível da instrução e da qualidade do treino. 2. Comparando os resultados obtidos, a nossa Hipótese nº 2 não se verificou, sendo mesmo contrariada, mas sem significado estatístico, dado que foram os DM, atletas de características mais defensivas do que os MA, que obtiveram em ambas as divisões os resultados mais elevados. Este resultado pode ser explicado pela função organizativa que, normalmente, os DM desempenham em jogo, bem como pelo facto de, habitualmente, terem mais tempo de observação durante os jogos, e pelas soluções que têm de formular para se oporem às acções dos avançados contrários. 3. No que diz respeito à Hipótese nº 3, esta apenas se confirmou na 2ª divisão, embora sem resultados estatisticamente significativos, onde verificamos que os atletas com mais anos de prática de HP apresentam uma qualidade da TDO em CA superior, quando comparada com a dos atletas com menos anos de prática. Já no caso da 1ª divisão, julgamos que os resultados obtidos, em nossa opinião e face à nossa experiência como praticante em exercício, podem denunciar uma melhor qualidade dos métodos de treino a que os atletas com menos anos de prática de HP foram sujeitos, em relação aos atletas mais experientes. 4. Analisando as diferenças de resultados entre os postos específicos de cada uma das divisões, pudemos verificar que, tanto na 1ª divisão como na 2ª, não existem diferenças estatisticamente significativas. 5. Os resultados revelaram que, mais uma vez, não existem diferenças estatisticamente significativas, agora no que diz respeito à comparação por postos específicos entre cada uma das divisões. 6. No que se refere à inexistência de diferenças estatisticamente significativas ao longo do nosso estudo, estamos em crer, que esta se deve a três factores: a reduzida dimensão da amostra, o eventual baixo número de situações que compõem o teste desenvolvido e a possível facilidade de resolução das situações apresentadas.
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