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18 Jun 2012

Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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This study pretends to investigate the effect of lateral preference (hand, foot, eye and hear), sex and age in motor coordination in primary school children.

Autor(es): Jorge Barroso, Olga Vasconcelos
Entidades(es): University of Oporto, Portugal
Congreso: II Congreso Internacional de Ciencias del Deporte
Pontevedra 2008
ISBN:9788461235186
Palabras claves: Lateral preference, manual preference, motor coordination, motor dexterity, children

Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

RESUMEN COMUNICACIÓN/PÓSTER

This study pretends to investigate the effect of lateral preference (hand, foot, eye and hear), sex and age in motor coordination in primary school children. The sample comprises 193 children (98 males; 95 females), between 6 and 10 years old (mean age 7,69±1,28 years old). They come from various primary schools of the city of Guimarães and Santo Tirso. The sample was divided according lateral preference, sex and age. A Lateral Preference Questionnaire (Van Strien, 2002; Coren et al., 1981) was used to assess the lateral preference. The Minnesota Manual Dexterity Test was used to assess the manual dexterity and The Foot Tapping Test was used to assess the pedal dexterity. The statistics procedures included descriptive and the inferential statistic (non parametric tests). The level of significance was p?0,05. Main conclusions: (i) The right handers did not present superior levels of lateral preference consistency comparatively to the left handers; (ii) Boys did not present superior levels of lateral preference consistency relatively to the girls; (iii) The oldest children did not present superior levels of lateral preference consistency comparing the newest children; (iv) The right handers did not present superior levels of lateral preference congruence regarding the left handers; (v) Boys did not present superior levels of lateral preference congruence comparatively to the girls; (vi) The oldest children did not present superior levels of lateral preference congruence relatively to the newest children; (vii) Manual preference and sex did not present a significant effect in the manual dexterity. (viii) Foot preference and sex did not present a significant effect on pedal dexterity. (ix) age presents a significant effect on manual dexterity and pedal dexterity. (x) Consistency of lateral preference and the occurrence of cross lateral preference did not present a significant effect on manual dexterity and pedal dexterity.

1. Introdução

O comportamento do ser humano é expresso em movimentos que, para terem sucesso, devem ser coordenados tendo em vista a obtenção de um objectivo, com a maior eficiência possível e o menor dispêndio energético. Quando se observa, em pormenor, esse comportamento, verifica-se uma preferência de um determinado lado do corpo humano para executar a maioria das tarefas, ou seja, existe uma assimetria motora funcional que parece favorecer um dos lados, normalmente o direito, que é expresso no uso da mão, do pé, do olho e até mesmo do ouvido. A existência de uma preferência lateral não deixa de ser intrigante, visto que, quando observamos o nosso corpo verificamos que ele é simétrico, dando a ideia que se o pudéssemos dividir, verticalmente, ao meio, ficaríamos com duas partes iguais. Contudo, se a observação for mais minuciosa, essa simetria é apenas aparente.

Basta verificarmos as expressões faciais para concluirmos que somos mais expressivos de um lado do que do outro. Quando possuímos pares de órgãos, o tamanho entre eles também não é igual (ex. pulmões, rins). Até mesmo o comprimento dos nossos braços não é igual. Para além desta assimetria estrutural, possuímos também assimetrias funcionais, quando por exemplo, utilizamos diferenciadamente um dos membros em exercícios onde apenas um pode ser utilizado. Isto sugere a existência de uma preferência lateral que pode ser observada numa variedade de tarefas como o escrever, o pontapear uma bola, o subir uma escada, o lançar a bola. Estes comportamentos lateralizados têm merecido a atenção de diversos investigadores, nomeadamente a lateralidade manual, que é segundo Porac e Coren (1981) definida como o uso diferencial de uma mão nas situações em que apenas uma delas pode ser usada e é, por excelência, a expressão de lateralidade cerebral mais facilmente observada (Peters, 1995). Alguns padrões de preferência lateral têm sido associados a uma diversidade de variáveis individuais, como a etnia, a idade, o sexo, a educação, a integridade neurológica, a ordem de nascimento, o stress de nascimento, a idade parental, ou a preferência manual parental (Porac e Coren, 1981). Apesar de existir uma grande preocupação na investigação destas diferenças, a ciência carece do desenvolvimento de um quadro teórico para a justificação deste fenómeno.

Com o aparecimento de métodos mais eficazes de determinação da preferência lateral, tem sido possível investigar a relação entre habilidades motoras específicas e a preferência manual. Dessas investigações emerge a ideia de que quando se compara destrímanos (indivíduos com preferência manual direita) e sinistrómanos (indivíduos com preferência manual esquerda) em várias situações de determinação de preferência e proficiência manual, os sinistrómanos demonstram uma maior performance com a mão não preferida, mas menos elevada com a mão preferida, o que parece indicar que os sinistrómanos não são tão lateralizados como os destrímanos, conseguindo, por isso, ter uma performance mais equilibrada quando se comparam ambos os lados (Mandell et al., 1984; Vasconcelos, 1992; Vasconcelos, 2004). Tendo em conta os estudos referidos anteriormente, verificando que existem diferenças de comportamentos entre sinistrómanos e destrímanos, a pesquisa sobre esta temática revela-se pertinente, visto que permitirá investigar se existe vantagem nalgum tipo de preferência lateral, quando os sujeitos são confrontados com tarefas de coordenação e destreza motora.

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2. Objectivo do estudo

O nosso estudo tem como objectivo avaliar o efeito da preferência lateral na coordenação motora (destreza manual e pedal) de crianças do 1º ciclo do ensino básico.

3. Material e Métodos

A amostra deste estudo é constituída por 193 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos (sendo a média de idades de 7,69 anos e o desvio padrão de 1,28 anos) que frequentam o 1º Ciclo do Ensino Básico nos concelhos de Guimarães e Santo Tirso. Destas 193 crianças, 98 são do sexo masculino e 95 são do sexo feminino. As preferências manual, pedal, visual e auditiva foram avaliadas por um Questionário de Preferência Lateral (Van Strien, 2002; Porac e Coren, 1981), composto por vinte e cinco perguntas sobre diversas tarefas, divididas pelos quatro índices. Isto permitiu calcular o quociente de lateralidade (QLAT) para os quatro índices, aplicando a fórmula: QLAT = D – E / D + E x 100. Um resultado superior a zero, classifica o sujeito como destrímano e igual ou inferior a zero, como sinistrómano. Para a avaliação da destreza manual foi utilizado o Minnesota Manual Dexterity Test (Teste de Destreza Manual de Minnesota – TDMM), da Lafaett Instruments. Este teste engloba duas baterias: o teste de colocação (tc) e o teste de volta (tv). Para a avaliação da destreza pedal foi utilizado o teste Tapping Pedal (Sapateado). Nos procedimentos estatísticos, foram calculados a média e o desvio padrão, para todas as variáveis. Após averiguarmos a não normalidade da amostra (teste de Shapiro- Wilk), utilizámos a estatística não paramétrica (Teste de Mann Whitney e Tabelas de Contingência envolvendo o teste do Qui – quadrado). O nível de significância estabelecido foi de p ?0,05.

4. Resultados

Efeito da preferência manual na consistência da preferência lateral Para avaliar a consistência da preferência lateral decidimos separar os sujeitos considerando a sua preferência manual. Assim, o Quadro 1 apresenta-nos a consistência da preferência lateral nos quatro índices de lateralidade (mão, pé, olho e ouvido) em indivíduos com preferência manual direita (destrímanos) e em indivíduos como sendo de preferência manual esquerda (sinistrómanos).

Quadro 1 – Consistência da preferência lateral em indivíduos destrímanos e sinistrómanos. Média em percentagem, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 1. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Da análise do Quadro 1 observa-se que só existem diferenças estatisticamente significativas na consistência da preferência manual entre os indivíduos destrímanos e os indivíduos sinistrómanos (p=0,031). Verifica-se então que os destrímanos são, em média, mais consistentes que os sinistrómanos. Apesar de não existirem diferenças estatisticamente significativas entre destrímanos e sinistrómanos nos restantes índices de lateralidade verifica-se que, no índice visual, há a tendência para as crianças destrímanas serem mais consistentes que as crianças sinistrómanas. Nos índices pedal e auditivo observa-se o contrário. Congruência da preferência lateral O Quadro 2 mostrar-nos a congruência da preferência lateral nos dois grupos.

Quadro 2 – Congruência da preferência lateral dos indivíduos destrímanos e sinistrómanos. Número de indivíduos e percentagem, valor de qui-quadrado e de p.

Quadro 2. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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A análise do Quadro 2 mostra-nos as diferenças na congruência da preferência lateral entre destrímanos e sinistrómanos. Apesar de não existir uma relação significativa entre a congruência da preferência lateral e a preferência lateral, verifica-se uma maior percentagem de sinistrómanos congruentes (89,1%) em relação aos destrímanos (83,7%). Isto é, a ocorrência de uma preferência pelos três índices do mesmo lado do corpo (direito ou esquerdo) é superior nos sinistrómanos. Efeito da preferência manual na coordenação motora O Quadro 3 apresenta os resultados do Teste de Minnesota, analisando o efeito da preferência manual na coordenação motora das crianças, quer no que diz respeito à destreza da sua mão preferida, quer à da sua mão não preferida, quer ainda à destreza combinada de ambas as mãos.

Quadro 3 – Efeito da preferência manual na coordenação motora –destreza manual das crianças. Média em segundos, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 3. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Através da análise do Quadro 3 verificamos que as crianças destrímanas obtiveram, em média, melhores resultados no teste de colocação com a mão preferida, relativamente às crianças sinistrómanas. As diferenças entre os dois grupos revelaramse significativas (p=,028). Apesar de no teste de colocação com a mão não preferida, não existirem diferenças significativas, verifica-se uma ligeira tendência para os sinistrómanos apresentarem melhores resultados do que os destrímanos. Relativamente ao teste de volta, envolvendo a participação das duas mãos, a tendência repete-se, ou seja, observam-se melhores resultados por parte dos sinistrómanos em relação aos destrímanos, mas sem diferenças significativas entre os grupos. Efeito da preferência pedal na coordenação motora De seguida iremos observar, através do Quadro 4, os resultados do Teste de Tapping Pedal, analisando o efeito da preferência pedal na coordenação motora – destreza pedal das crianças.

Quadro 4 – Efeito da preferência pedal na coordenação motora – destreza pedal. Média em número de toques, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 4. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Dos resultados observados no Quadro 4, observamos que as crianças com preferência pedal direita conseguem, em média, realizar um maior número de toques do que as crianças com preferência pedal esquerda, quando executam o teste de Tapping Pedal com o pé preferido. Estas diferenças são estatisticamente significativas (p=0,002). Por outro lado, quando as crianças realizam o teste de Tapping Pedal com o pé não preferido, apesar das diferenças não serem significativas, há uma ligeira tendência para os resultados se inverterem, ou seja, as crianças com preferência pedal esquerda obtêm, em média, melhores resultados que as crianças com preferência pedal direita. Efeito da consistência da preferência lateral na coordenação motora O Quadro 5 apresenta-nos o efeito da consistência da preferência manual na coordenação motora – destreza manual.

Quadro 5 – Efeito da consistência da preferência manual na coordenação motora – destreza manual. Média em segundos, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 5. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Analisando o Quadro 5, verificamos a ausência de diferenças significativas entre os resultados obtidos pelas crianças consistentes e pelas crianças não consistentes. Todavia, é interessante verificar uma tendência clara para os não consistentes apresentarem melhores desempenhos que os consistentes, nos três testes de destreza manual. Verifica-se, também, uma maior disparidade de resultados por parte dos consistentes, visto que os valores do desvio padrão dos três testes efectuados são superiores aos dos obtidos pelos não consistentes. O Quadro 6 mostra-nos o efeito da consistência da preferência pedal na coordenação motora – destreza pedal.

Quadro 6 – Efeito da consistência da preferência pedal na coordenação motora – destreza pedal. Média em número de toques, desvio padrão, valores de mean rank, valores de z e de p.

Quadro 6. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Da análise do Quadro 6, observamos que à semelhança dos resultados referentes ao efeito da consistência da preferência manual, na destreza manual,os valores obtidos pelas crianças não consistentes na sua preferência pedal apresentam uma tendência para melhor desempenho relativamente aos das crianças consistentes. Verifica-se também uma maior amplitude do desvio padrão nos resultados dos indivíduos consistentes, sugerindo uma maior divergência de resultados nesse grupo. Efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora Como já foi descrito no capítulo Materiais e Métodos, se a criança manifestasse a mesma preferência lateral nos índices mão, pé e olho, esta era considerada congruente. Por outro lado, bastava que a criança não manifestasse, num destes índices, a mesma preferência lateral que os restantes para que fosse considerada não congruente ou de preferência cruzada. Referimos também, no mesmo capítulo, a razão pela qual o ouvido não foi integrado na análise da preferência manual congruente ou cruzada. De acordo com Porac e Coren (1981), o ouvido é, dos quatro índices, aquele que menos interesse apresenta quanto à direcção da sua preferência e o que está menos associado aos outros três índices. Por outro lado, e segundo Vasconcelos (2008), é um órgão propenso a infecções, sugerindo uma fraca credibilidade na resposta sobre o lado preferido, pois o indicado como tal pode não ser o preferido mas sim o que melhor ouve. O Quadro 7 apresenta-nos os resultados do efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora – destreza manual.

Quadro 7 – Efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora – destreza manual. Média em segundos, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 7. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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Através da análise aos resultados do Quadro 7, verifica-se que a inexistência de diferenças significativas entre as crianças congruentes e as crianças de preferência lateral cruzada nos três testes de coordenação motora – destreza manual. Contudo, os resultados apresentados sugerem uma tendência para as crianças de preferência lateral cruzada apresentarem melhores desempenhos relativamente às crianças congruentes, em todos os testes. Verifica-se, também, que é no teste de colocação com a mão preferida que as crianças obtêm os melhores resultados, sendo estas pertencentes ao grupo de preferência lateral cruzada. O Quadro 8 mostra-nos os resultados do efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora – destreza pedal.

Quadro 8 – Efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora – destreza pedal. Média em número de toques, desvio padrão, valores de mean rank, de z e de p.

Quadro 8. Lateral preference and functional motor assymetry in primary school children

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No que concerne ao efeito da congruência da preferência lateral na coordenação motora – destreza pedal, os resultados expostos não apresentam diferenças significativas entre os dois grupos. Existe um forte equilíbrio quando comparamos os resultados do Tapping Pedal quer com o pé preferido quer com o pé não preferido, entre as crianças de preferência lateral congruente e as crianças e preferência lateral cruzada. Foi no Tapping Pedal com o pé preferido, em ambos os grupos, que as crianças obtiveram os melhores resultados (cerca de 30 toques em 10 segundos).

5 – Discussão dos Resultados

Relativamente ao efeito da preferência manual na consistência da preferência lateral, apesar de nos índices pedal e auditivo serem as crianças sinistrómanas que têm maior nível de consistência, os valores observados são bem mais baixos do que aqueles verificados pelas crianças destrímanas nos índices manual e visual. Este aspecto foi confirmado e interpretado por Porac e Coren (1981) como o resultado do efeito do “mundo destro”. Uma possível explicação, sugerida pelos autores, baseia-se no facto de os sinistrómanos, por força das circunstâncias e do meio em que vivem, terem de aprender a utilizar a sua mão direita para além do que seria necessário. Nestes indivíduos, o uso frequente da sua mão não preferida na manipulação de instrumentos poderá atenuar as diferenças de performance (particularmente as da força e destreza) entre as duas mãos. Swinnen et al. (1996) também concordam com esta explicação sugerindo uma menor lateralização dos sinistrómanos, visto estes usarem a sua mão não preferida com maior frequência do que os destrímanos usam a sua mão esquerda.

No que diz respeito ao efeito da preferência manual na congruência da preferencia lateral, no nosso estudo, apesar de diferir do de Annet e Turner (1974) pois incluímos três índices e não apenas dois, observamos que a percentagem de congruência é superior, os destrímanos com 83,7% e os sinistrómanos com 89,1%. Apesar de os sinistrómanos apresentarem uma percentagem de congruência superior aos destrímanos, estes apenas distam dos sinistrómanos cerca de 5 pontos percentuais. Num estudo elaborado por Iteya e Gabbard (1996) onde os autores avaliaram a congruência da preferência lateral em 606 crianças dos 4 aos 6 anos de idade, verificou-se que não existem diferenças significativas entre as crianças congruentes direitas e crianças congruentes esquerdas, confirmando assim os nossos resultados. Quanto ao efeito da preferência manual na coordenação motora a justificação para os melhores resultados dos destrímanos relativamente à sua mão preferida resultam, segundo Swinnen et al., (1996) do facto de estes usarem raramente a sua mão não preferida comparativamente aos sinistrómanos. Isto tem como consequência uma maior assimetria lateral e, portanto, um melhor desempenho com a mão preferida. Consequentemente, no desempenho de uma tarefa de coordenação bimanual ou numa unimanual com a mão não preferida, a mão esquerda dos destrímanos tende a ser menos precisa comparativamente à direita dos sinistrómanos, resultando, para estes últimos, uma menor assimetria funcional e, portanto, um melhor desempenho. Segundo Porac e Coren (1981), estas diferenças baseiam-se em algumas influências sociais que fazem com que a assimetria lateral não seja tão evidente nos sinistrómanos. Nestes indivíduos, o uso bimanual de muitas máquinas e instrumentos poderá atenuar as diferenças de performance (particularmente as da força e destreza) entre as duas mãos. Os mesmos autores sugerem, ainda, que os sinistrómanos, com uma organização cerebral mais bilateral, têm uma transferência da informação inter hemisférica superior à dos destrímanos, resultando num melhor desempenho em tarefas de coordenação bimanual. No que se refere ao efeito da preferência pedal, na coordenação motora – destreza pedal, verifica-se que as crianças com preferência pedal direita apresentam melhores resultados do que as crianças com preferência pedal esquerda, apenas no que diz respeito ao pé preferido.

Os autores Teixeira et al. (2003) obtiveram resultados idênticos aos nossos. Num estudo efectuado em crianças dos 12 aos 14 anos, verificaram, através da realização das tarefas de velocidade de drible com os pés, de remate a um alvo e de força de remate, que as crianças destras eram mais proficientes que as crianças esquerdas nas três tarefas efectuadas, quando executavam os exercícios com o seu pé preferido. Por outro lado, verificaram que havia uma maior transferência inter hemisférica nas crianças esquerdas relativamente às crianças destras, visto que os resultados dos testes com o pé não preferido foram significativamente mais favoráveis às crianças esquerdas. No que se refere ao efeito da consistência da preferência lateral na coordenação motora, verifica-se a ausência de diferenças significativas entre as crianças consistentes e as crianças não consistentes. No entanto, relativamente à destreza manual, a tendência é para as crianças consistentes obterem melhores resultados que as criança não consistentes. Quanto à destreza pedal, a tendência inverte-se. Gabbard et al. (1995) confirmaram os nossos resultados. Após terem avaliado a preferência manual através de algumas tarefas pertencentes a baterias conhecidas e a proficiência manual através de um teste de destreza digital, não observaram diferenças de performance quer entre os 3 grupos de preferência manual (destrímanos, sinistrómanos e ambidestros), quer entre os sexos.

Na consistência da preferência manual, apesar de, no nosso estudo, as diferenças não terem sido significativas, Gabbard et al. (1995a) confirmaram a nossa tendência para um melhor desempenho dos sujeitos consistentes. No que concerne à congruência da preferência lateral, os resultados obtidos mostram que esta não provoca nenhum efeito significativo tanto na destreza manual como na destreza pedal. Relativamente à destreza manual verifica-se a tendência para as crianças com preferência lateral cruzada serem mais proficientes que as crianças com preferência lateral congruente. Quanto à destreza pedal, os resultados são muito semelhantes entre os dois grupos. Os nossos resultados, apesar de não apresentarem diferenças significativas entre os grupos para a destreza manual, vão na linha dos de Faggard et al. (2003). Os autores pretenderam, entre outros aspectos, avaliar a relação entre a preferência lateral e a coordenação bimanual. Os autores estudaram 51 crianças entre os 3 e os 8 anos, tendo verificado uma associação entre estes dois aspectos: o desempenho foi superior nas crianças menos lateralizadas à direita e naquelas em que a relação entre a mão e o olho se manifestou cruzada. Provavelmente, os indivíduos com lateralidade cruzada possuem um controlo interhemisférico superior, resultando num bom desempenho em termos de coordenação uni e bimanual.

6 – Conclusões

As principais conclusões deste estudo foram: (i) os destrímanos não apresentaram níveis superiores de consistência da preferência lateral comparativamente aos sinistrómanos; (ii) os rapazes não apresentaram níveis superiores de consistência da preferência lateral relativamente às raparigas; (iii) as crianças mais velhas não apresentaram níveis superiores de consistência da preferência lateral em relação às crianças mais novas; (iv) os destrímanos não apresentaram níveis superiores de congruência de preferência lateral em relação aos sinistrómanos; (v) Os rapazes não apresentaram níveis superiores de congruência de preferência lateral comparativamente às raparigas; (vi) As crianças mais velhas não apresentaram níveis superiores de congruência de preferência lateral relativamente às crianças mais novas; (vii) a preferência manual e o sexo não apresentaram um efeito significativo na destreza manual; (viii) a preferência pedal e o sexo não apresentaram um efeito significativo na destreza pedal; (ix) a idade apresentou um efeito significativo na destreza manual e na destreza pedal; (x) a consistência da preferência lateral e a ocorrência de preferência lateral cruzada não apresentaram um efeito significativo na coordenação motora.

Referencias

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Gabbard, C., Hart, S. e Gentry, V. (1995). General Motor Proficiency and Handedness in Children. The Journal of Genetic Psychology, 156 (4), 411-416.

Iteya, M.; Gabbard, C. (1996). Laterlity patterns and visual-motor coordination of children. Perceptual and Motor Skills, 83, pp. 31-34.

Mandell, R. J.; Nelson, D. L.; Cermak, S. A. (1984). Differential laterality of hand function in righthanded and left-handed boys. Am J Occup Therapy, 38(2), pp. 114-120.

Peters, M. (1995): Handedness and its relation to other indices of cerebral lateralization. In Davidson, R. e Hugdahl, K. (Eds.): Brain asymmetry. MIT Press: Cambridge, pp.183-213.

Porac, C. e Coren, S. (1981). Lateral preferences and human behavior. New York: Springer-Verlag. Swinnen, S., Jardin, K., & Meulenbroek, R. (1996). Between-limb asynchronies during bimanual coordination: Effects of manual dominance and atencional cueing. Neuropsychologia, 34, pp. 1203–1213. Teixeira, L.; Silva, M.; Carvalho, M. (2003). Reduction of lateral asymmetries in dribbling: The role of bilateral practice. Universidade de S. Paulo, Brasil. Laterality, 8 (1), pp. 53-65.

Van Strien, J. W. (2002).The Dutch Handedness Questionnaire. Disponível em http://www.psyweb.nl/homepage/jan_van_strien_files/hquestionnaire_article.pdf Vasconcelos, O. (1992). Preferência manual: suas relações com os níveis de avaliação em educação física e com a assimetria motora funcional. Boletim da SPEF, 4 (2ª série), Primavera. Lisboa, SPEF, pp. 31-46.

Vasconcelos, O. (2004). Preferência lateral e assimetria motora funcional: uma perspectiva de desenvolvimento. In J. Barreiros, M. Godinho, F. Melo & C. Neto (Eds). Desenvolvimento e aprendizagem: perspectivas cruzadas. Lisboa: Edições FMH, pp. 67 – 93.

Vasconcelos, O.; Rodrigues P. (2008). Métodos de avaliação dos comportamentos de assimetria lateral: medidas de preferência e medidas de performance. In David Catela & João Barreiros (Eds.). Desenvolvimento Motor da Criança. (Aguarda Publicação). Lisboa: FMH.

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