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18 Jun 2012

The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

This study pretends to investigate, in primary school children, the effect of hand preference and sex on manual dexterity and intermanual transfer.

Autor(es): Olga Vasconcelos; Miguel Magalhães
Entidades(es): Universidade do Porto
Congreso: II Congreso Internacional de Ciencias del Deporte
Pontevedra 2008
ISBN:9788461235186
Palabras claves: Hand Preference, Laterality, Intermanual Transfer, Manual Dexterity 

The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

RESUMEN COMUNICACIÓN/PÓSTER

This study pretends to investigate, in primary school children, the effect of hand preference and sex on manual dexterity and intermanual transfer. The sample comprises 87 children, 42 right-handed (22 males; 21 females) and 45 left-handed (24 males; 20 females). The children’s age varies from 9 to 11 years old. They come from various Primary schools of the municipalities of Santa Maria da Feira and Ovar. To assess hand preference we used the Hand Preference Questionnaire (Van Strien, 1992) and to assess hand dexterity we used the Purdue Pegboard Test (Lafayette Instrument). Subjects were divided into two groups, according two different transfer conditions: from the preferred to the non preferred hand and from the non preferred to the preferred hand. They were counterbalanced on the task’s starting hand. Statistics procedures included descriptive statistics and inferential statistics (Student t test and ANOVA factorial). Significance level: p?0,05. Major conclusions: (i) regarding manual dexterity, in general, there did not appear significant differences between the sexes. These differences only appear in the right-handed group, girls presenting a significantly better performance than boys; (ii) the hand preference presents a significant effect on the manual dexterity, right-handed showing a superior performance than left-handed: (iii) For the right-handed, we verified a symmetrical inter manual transfer of learning, identical from the preferred to the non preferred hand and from the non preferred to the preferred hand; (iv) for the left-handed, we verify an asymmetrical inter manual transfer of learning, being significantly superior from the non preferred to the preferred hand; (v) we verify a greater intermanual transfer of learning in left-handers than in right-handers, in the non preferred to the preferred hand‘s situation. Regarding the situation from the preferred hand to the non preferred hand, the intermanual transfer of learning is identical in the two groups of preference.

1. Introdução

A mão reflecte a assimetria mais óbvia do comportamento humano, ao ser escolhida, em detrimento da outra, para tarefas unimanuais ou, em tarefas bimanuais, expressando diferentes comportamentos: uma, funcionando de forma mais activa e a outra mais ao nível da ajuda, do suporte ou da sustentação. Tendo a mão um papel tão relevante na vida dos indivíduos, torna-se assim pertinente compreender o desenvolvimento do seu comportamento assimétrico, quer ao nível da preferência quer da proficiência e funcionalidade. No entanto, parece que os comportamentos de assimetria manual não são apanágio da espécie humana. Diversos estudos têm verificado assimetrias ao nível de outras espécies, tendo sugerido, em chimpanzés, factores genéticos na determinação da sua preferência manual (Hopkins et al., 2006; cit. Vasconcelos, 2007). A preferência manual define-se como sendo a mão mais frequentemente usada para executar tarefas unimanuais. Cerca de 90% da população tem preferência pela mão direita, enquanto que os restantes 10% têm a mão esquerda como a preferida. A mão preferida (MP) também tende a ser a mais rápida e proficiente (Annett, 1985). A relação entre a preferência manual, ou seja, o uso da MP no desempenho de diferentes tarefas e a proficiência manual, foi estudada por vários autores, no sentido de verificar até que ponto a preferência manual pode influenciar o desempenho (Vasconcelos, 1993; Nalçaci et al., 2001). Os modelos mais recentes (e.g. Ronnqvist e Domellof, 2006; cit. Vasconcelos, 2007) sugerem que a preferência manual é o resultado de um complexo conjunto de interacções entre os factores genéticos (responsáveis por despoletar as assimetrias) e os factores pré-natais, peri-natais e pós-natais (como o envolvimento sócio-cultural ou o tipo de tarefa a executar). A possibilidade de um ganho de força num membro ou extremidade não exercitada como resultado do treino do grupo muscular contralateral daquele membro, encontra-se bem documentada, na área da fisiologia. Coloca-se então a seguinte questão: Ocorrerão efeitos semelhantes na destreza manual? Assim, no domínio da preferência manual e da aprendizagem motora, constituindo um ponto de convergência, surge a questão colocada por Ammons (1958, cit. Vasconcelos, 1991): “Ocorre mais transferência do membro não preferido para o preferido ou vice-versa?”. Apesar de os estudos mais recentes apoiarem transferência bilateral da aprendizagem idênticas entre os membros (e.g. Teixeira, 2006) e, de entre os que sugerem o carácter assimétrico da transferência bilateral da aprendizagem, os mais recentes defenderem maiores ganhos do membro não preferido para o membro preferido (e.g. Haaland e Hoff, no futebol, 2003), esta é uma questão longe de estar resolvida.

Quanto à relação entre a transferência bilateral da aprendizagem e a preferência manual, os últimos estudos têm vindo a defender a ausência de qualquer associação (Fagard e Corroyer, 2003; Van Mier e Petersen, 2006), apesar de outros defenderem o contrário (e.g. Kumar e Mandal, 2005). Daqui concluímos que o fenómeno da transferência bilateral da aprendizagem e a sua relação com a preferência manual é um campo de investigação em aberto. Tendo em consideração o desenvolvimento motor da criança, deveremos dar mais atenção e valorizar todo o tipo de trabalho que proporcione a definição da preferência manual e, consequentemente, que promova o desenvolvimento das habilidades motoras, nomeadamente as que estão implicadas nos movimentos de destreza manual e que exijam níveis elevados de proficiência quer com um membro superior, quer com o outro. Geralmente o membro preferido é aquele que proporciona maiores oportunidades para um sucesso rápido na aquisição e no treino das habilidades. O outro membro permanece bastante ignorado até que o praticante se encontre numa situação onde a falta bilateral de competências faça a diferença. Deste modo, para que estes factores relacionados com a preferência manual, a destreza manual e a transferência inter manual de aprendizagem tenham um bom desenvolvimento e, nesse processo, interactuem da melhor forma possibilitando expressões eficientes e eficazes da performance, o nosso objectivo é tentar conhecer melhor as crianças nestes aspectos.

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2. Objectivos

O presente estudo tem como objectivos investigar (i) o efeito da preferência manual na transferência inter manual numa tarefa de destreza manual, com crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico; (ii) Comparar os níveis de destreza manual (avaliação inicial, aquisição e transferência) em função do sexo, no geral e em cada grupo de preferência, (iii) Verificar o efeito da preferência manual na destreza manual, em cada momento de avaliação, no geral e em cada sexo; (iv) Investigar a percentagem de transferência inter manual nos destrímanos e nos sinistrómanos.

3. Metodologia

Para a avaliação da preferência manual foi usado o Questionário de Preferência Manual The Dutch Handedness Questionnaire (Van Strien, 2002). Após as crianças responderem ao questionário, calculamos o quociente de preferência manual (QLAT), aplicando a fórmula: QLAT = D – E / D + E x 100. Se o resultado fosse superior a zero, o sujeito seria classificado como destrímano. Se o resultado fosse igual ou inferior a zero, o sujeito seria classificado como sinistrómano. Para avaliar a transferência inter manual foi utilizada uma tarefa de destreza manual, recorrendo-se ao Purdue Pegboard Test – ( Lafayette Instrument). Os sujeitos (sexo masculino e feminino, destrímanos e sinistrómanos) foram contrabalançados em relação à mão de início da tarefa. Em seguida, foram divididos em dois grupos, relativos a duas condições diferentes de transferência: da MP para a mão não preferida (MNP) e da MNP para a MP. Realizaram então o teste Purdue Pegboard com as seguintes directivas: (i) colocar a maior quantidade de pinos e o mais rapidamente possível nos respectivos orifícios, em trinta segundos; (ii) cada sujeito realizou vinte e uma tentativas, sem tempo de descanso, que foram divididas em três momentos distintos: avaliação inicial (três tentativas), aquisição (quinze tentativas) e transferência (três tentativas).

Durante a condição de transferência da MP para a MNP, os sujeitos realizaram as três tentativas da avaliação inicial com a sua MNP, as quinze tentativas de aquisição com a sua MP e as três tentativas de transferência com a sua MNP. Durante a condição de transferência da MNP para a MP, os sujeitos realizaram as três tentativas da avaliação inicial com a sua MP, as quinze tentativas da aquisição com a sua MNP e as três tentativas de transferência com a MP. Em cada situação, foi registado o número de pinos introduzidos nos respectivos orifícios. O índice de transferência manual de aprendizagem (Woodworth e Scholsberg, 1971): valor médio de pinos introduzidos nas primeiras três tentativas (avaliação inicial) menos o valor médio de pinos introduzidos nas três últimas tentativas de transferência a dividir pelo valor de pinos introduzidos nas três primeiras tentativas (avaliação inicial). Procedimentos estatísticos: estatística descritiva (média e desvio de padrão) e estatística inferencial (teste t de Student para medidas independentes e ANOVA 2 factores). O nível de significância fixou-se em p ? 0,05.

4. Resultados

Níveis de destreza manual (avaliação inicial, aquisição e transferência) em função do sexo, no geral e em cada grupo de preferência. Em seguida iremos apresentar os resultados dos níveis de destreza manual (número de pinos colocados) em função do sexo e da preferência manual (em destrímanos e sinistrómanos) nos três momentos de avaliação (avaliação inicial, aquisição e transferência), através dos Quadros 1, 2 e 3. O Quadro 1 apresenta-nos os níveis de destreza manual em função do sexo nos três momentos de avaliação.

Quadro 1 – Níveis de destreza manual (número médio de pinos colocados) em função do sexo nos três momentos de avaliação. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 1. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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A análise do Quadro 1 mostra-nos que nos três momentos de avaliação é o sexo feminino que tem uma média de pinos colocados superior à do sexo masculino. Contudo, podemos observar que não há diferenças significativas nos três momentos de avaliação, apesar do sexo feminino apresentar uma tendência para desempenhos superiores relativamente ao sexo masculino. Na avaliação inicial e na transferência o valor de p está muito próximo do nível de significância estabelecido. Podemos acrescentar que a média de pinos colocados vai sendo superior desde a avaliação inicial até à transferência. Através do desvio de padrão, também se verifica uma maior variabilidade no sexo feminino do que no sexo masculino nos três momentos de avaliação. O Quadro 2 apresenta-nos nos destrímanos, os níveis de destreza manual em função do sexo nos três momentos de avaliação.

Quadro 2 – Destrímanos. Níveis de destreza manual (número médio de pinos colocados) em função do sexo nos três momentos de avaliação. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 2. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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A análise do Quadro 2 mostra-nos que nos três momentos de avaliação, são os destrímanos do sexo feminino que têm melhor média de pinos colocados em relação aos destrímanos do sexo oposto. Contudo, apenas na avaliação inicial a diferença entre o sexo masculino e o sexo feminino se revelou estatisticamente significativa (p = 0,019). À semelhança do Quadro 1, a média de pinos colocados vai sendo maior desde a avaliação inicial até à transferência. Quanto ao desvio de padrão, este também é superior no sexo feminino nos três momentos de avaliação, sugerindo uma maior variabilidade neste grupo. O Quadro 3 apresenta-nos nos sinistrómanos, os níveis de destreza manual em função do sexo nos três momentos de avaliação.

Quadro 3 – Sinistrómanos. Níveis de destreza manual (número médio de pinos colocados) em função do sexo nos três momentos de avaliação. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 3. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 3, observamos que nos três momentos de avaliação, à semelhança do Quadro 2, são os sinistrómanos do sexo feminino que têm melhor média de pinos colocados em relação aos sinistrómanos do sexo oposto. Contudo, as diferenças não se revelaram estatisticamente significativas. Também a média de pinos colocados vai sendo superior desde a avaliação inicial até à transferência. Quanto ao desvio de padrão verificamos que, à excepção da aquisição, este é mais elevado no sexo feminino. Efeito da preferência manual na destreza manual, em cada momento de avaliação, no geral e em cada sexo. Em seguida iremos apresentar os resultados da destreza manual (número de pinos colocados) em função da preferência manual e do sexo (masculino e feminino) nos três momentos de avaliação, através dos Quadros 4, 5 e 6. O Quadro 4 apresenta-nos os níveis de destreza manual em função da preferência manual nos três momentos de avaliação.

Quadro 4. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 4 observamos que os destrímanos apresentam um desempenho significativamente superior aos sinistrómanos. Assim, observamos diferenças significativas entre destrímanos e sinistrómanos na avaliação inicial (p = 0,001), na aquisição (p = 0,023) e na transferência (p = 0,009). Podemos observar que, em ambos os grupos, a media dos pinos colocados vai aumentando, segundo os três momentos de avaliação. Ou seja, a média na avaliação inicial (12,60 e 11,44) é a mais baixa e a da transferência (13,81 e 12,94) é a mais elevada. Em relação ao desvio de padrão, este é superior nos sinistrómanos, na avaliação inicial e na transferência. O Quadro 5 apresenta-nos no sexo masculino, os níveis de destreza manual em função da preferência manual nos três momentos de avaliação.

Quadro 5 – Sexo masculino. Níveis de destreza manual (número médio de pinos colocados) em função da preferência manual nos três momentos de avaliação. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 5. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 5 observamos que os destrímanos apresentam superioridade na destreza manual em relação aos sinistrómanos. Mas apenas se verificam diferenças significativas na avaliação inicial (p = 0,050). Em relação às fases de aquisição e transferência não se verificam diferenças significativas, se bem que na transferência (p = 0,052), praticamente existe significância entre destrímanos e sinistrómanos. À semelhança dos Quadros anteriores, observamos que tanto nos destrímanos como nos sinistrómanos, a média destreza manual vai melhorando ao longo dos três momentos de avaliação. Verificamos que pelos valores do desvio de padrão, que os sinistrómanos são mais variáveis que os destrímanos. O Quadro 6 apresenta-nos no sexo feminino, os níveis de destreza manual em função da preferência manual nos três momentos de avaliação.

Quadro 6 – Sexo feminino. Níveis de destreza manual (número médio de pinos colocados) em função da preferência manual nos três momentos de avaliação. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 6. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 6 observamos que os destrímanos do sexo feminino apresentam melhor desempenho do que os sinistrómanos do mesmo sexo. As diferenças são significativas, para a avaliação inicial (p = 0,004) e para a transferência aproximamse do valor de significância (p = 0,070). Também aqui observamos que a destreza manual vai melhorando ao longo dos três momentos de avaliação. À excepção no momento da aquisição, o desvio de padrão é sempre mais elevado nos sinistrómanos, embora na transferência, a diferença entre destrímanos (1,62) e sinistrómanos (1,63) seja irrelevante. Após termos apresentado em separado o efeito do sexo sobre a destreza manual e o efeito da preferência manual sobre a destreza manual, para uma melhor apreciação e análise dos resultados, pretendemos ir um pouco mais além na investigação sobre a interacção destes dois factores na destreza manual. Recorremos então à ANOVA II Factores, que demonstrou que a interacção Sexo x Preferência Manual não apresenta um efeito significativo na destreza manual, quer na fase de avaliação inicial (F=1,00, gl=1, p=0,248), quer na fase de aquisição (F=0,138, gl=1, p=0,711), quer na fase de transferência (F=0,049, gl=1, p=0,825). Transferência inter manual e preferência manual Em seguida iremos apresentar os resultados da percentagem de transferência inter manual, da MP para a MNP e da MNP para a MP, em destrímanos e sinistrómanos, e também em cada situação de transferência de acordo com a preferência manual através dos Quadros 7 e 8. O Quadro 7 apresenta-nos a percentagem de transferência inter manual da MP para a MNP e da MNP para a MP.

Quadro 7 – Percentagem de transferência inter manual. Percentagem da média de transferência da MP para a MNP e da MNP para a MP, em destrímanos e sinistrómanos. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 7. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 7 observamos que nos destrímanos, a transferência inter manual praticamente é a mesma quer com MP quer com a MNP. Nos sinistrómanos, verifica-se maior transferência inter manual da MNP para a MP. Apenas verificamos diferenças significativas nos sinistrómanos (p = 0,017). Existe maior variabilidade na transferência da MNP para a MP nos destrímanos e da MP para a MNP nos sinistrómanos, uma vez que o desvio de padrão é superior nestes dois casos. O Quadro 8 apresenta-nos a percentagem de transferência inter manual em destrímanos e sinistrómanos para cada situação de transferência.

Quadro 8 – Percentagem de transferência inter manual em destrímanos e sinistrómanos para cada situação de transferência. Média, desvio de padrão, valores de t e de p.

Quadro 8. The effect of hand preference and sex on the manual dexterity and intermanual transfer, in primary school children

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Na análise ao Quadro 8 observamos que nos sinistrómanos a transferência inter manual é superior. Apenas verificamos diferenças significativas na transferência inter manual da MNP para a MP (p = 0,019) tanto em destrímanos como em sinistrómanos. Em relação ao desvio de padrão verificamos que, este é superior na transferência da MNP para a MP nos destrímanos e da MP para a MNP nos sinistrómanos. A ANOVA II Factores demonstrou que a interacção preferência manual x direcção da transferência inter manual (da MP para a MNP ou da MNP para a MP) não apresenta um efeito significativo na percentagem de transferência ocorrida (F=3,613, gl=1, p=0,061), embora o valor de p se situe próximo do nível de significância considerado. Isto significa que o facto de se ser destrímano ou sinistrómano e de executar a transferência inter manual da MP para a MNP ou da MNP para a MP poderá ter algum efeito importante nos valores que ocorrem de percentagem de transferência inter manual da aprendizagem.

5. Discussão

Neste estudo observamos que não houve diferenças significativas entre os sexos, embora na avaliação inicial e na transferência o valor de significância esteja muito próximo do nível estabelecido. Na literatura também existem estudos cujos resultados não revelaram diferenças significativas na comparação entre os sexos (e.g. Vasconcelos e Sobral, 1992; Williams et al., 2001; Carneiro, 2005), muito embora os resultados apontem para uma superioridade dos homens em relação às mulheres, em termos de precisão e consistência das suas respostas. Em relação à preferência manual, observamos que foram os destrímanos e os sinistrómanos do sexo feminino que tiveram melhor desempenho a nível da destreza manual. Kilshaw e Annett (1983) realizaram um estudo, onde avaliaram a relação entre a preferência manual e a proficiência manual (tarefa de peg-moving) em função do sexo e da idade (desde os 3½ até aos 50 anos). Os autores concluíram que, ao contrário do nosso estudo, os sinistrómanos do sexo masculino foram os mais rápidos em praticamente todos os grupos etários. As explicações orientam-se para o possível handicap do hemisfério direito nos destrímanos ou para o facto deste grupo apresentar uma assimetria lateral superior à dos sinistrómanos, resultado de um menor uso da sua mão esquerda comparativamente ao uso que é dado à direita por parte dos sinistrómanos.

À semelhança do nosso estudo, Tavares e Vasconcelos (1995) observaram ainda que os sinistrómanos, especialmente as raparigas, executaram menos erros na velocidade de reacção de escolha. Porac e Coren (1981) interpretaram esta observação sugerindo que, nos sinistrómanos, com uma organização cerebral mais bilateral, parece ocorrer uma transferência inter hemisférica da informação superior à dos destrímanos. Neste estudo observamos no geral que os destrímanos tiveram um desempenho superior aos sinistrómanos ao longo dos três momentos de avaliação, uma vez que colocaram em média mais pinos. Segundo Vasconcelos (2004), o carácter cultural que tenta explicar a preferência manual sugere que o mundo humano está construído a partir de uma sólida tendência direita-esquerda. Esta tendência resulta de uma lateralidade desenvolvida a partir do próprio homem e cuja origem se situa na preferência que ele nutre pela mão direita. Vasconcelos (1993b), num estudo sobre proficiência motora em crianças destrímanas e sinistrómanas entre os 11 e os 14 anos, também verificou que, para a MP, os destrímanos apresentaram desempenhos de precisão manual e destreza manual superiores aos dos sinistrómanos. Contudo, no que respeita à MNP, foram os sinistrómanos a revelar melhor performance. Francis e Spirduso (2000) realizaram um estudo a um grupo de 81 sujeitos destrímanos (40 jovens e 41 idosos). Foi avaliada a destreza manual, a precisão, a velocidade e a coordenação manual. Os autores observaram que todos os sujeitos tiveram melhor desempenho com a sua MP (a direita). Com isto, concluíram que a grande maioria das pessoas utilizam a sua MP para executarem grande parte das tarefas, uma vez que é essa a mão que realiza com maior rapidez e eficácia em comparação com a MNP. No entanto, apesar de a maior parte das vezes ser a MP escolhida para realizar certas tarefas, não significa que seja a mais eficaz, pelo contrário, por vezes é a MNP a mais proficiente (Porac e Coren, 1981). Verificamos que ao longo dos três momentos de avaliação o desempenho dos destrímanos e dos sinistrómanos melhorou, ou seja, em ambos os grupos de preferência, houve melhorias em relação à destreza manual, quer com a MP quer com a MNP. Neste estudo observamos que houve diferenças significativas entre destrímanos e sinistrómanos nos três momentos de avaliação. Também se pode observar através dos resultados que existe uma maior variabilidade nos sinistrómanos em relação aos destrímanos.

Observamos também que foram os destrímanos e os sinistrómanos do sexo masculino que demonstraram ter melhor desempenho a nível da destreza manual comparativamente aos destrímanos e sinistrómanos do sexo oposto. Também constatamos que os rapazes e as raparigas sinistrómanos são mais variáveis que os destrímanos de ambos os sexos. Neste estudo observamos, nos destrímanos, transferência inter manual da MP para a MNP e da MNP para a MP, com ausência de diferenças significativas entre as duas situações. Ou seja, quer o treino tenha sido realizado com a mão direita ou com a mão esquerda, ocorreu transferência inter manual idêntica. Vários estudos demonstraram que a MNP (mão esquerda nos destrímanos e mão direita nos sinistrómanos) beneficia mais do treino da MP do que a MP sobre o treino da MNP (e.g. Halsband, 1992), enquanto outros estudos obtiveram o efeito oposto. Outros autores demonstraram haver uma maior transferência da mão esquerda para a direita em indivíduos destrímanos, ou seja de preferência manual direita. Num estudo realizado por Kumar e Mandal (2005), onde foram avaliados 20 destrímanos e 20 sinistrómanos, foi avaliada a transferência bilateral. Os autores observaram que esta foi maior da MNP para a MP, mas apenas para a velocidade, não para a precisão. Em relação aos sinistrómanos, observamos uma transferência inter manual significativamente superior da MNP para a MP relativamente à situação da MP para a MNP. Quer isto dizer que houve uma maior transferência inter manual, através do treino com a mão direita. No nosso estudo, quanto à preferência manual, foram os sinistrómanos que tiveram uma maior transferência inter manual da MP para a MNP, bem como da MNP para a MP (tendo sido, neste caso a diferença estatisticamente significativa relativamente aos destrímanos). Ou seja, os sinistrómanos da nossa amostra demonstraram maior transferência inter manual, quer com a mão direita, quer com a mão esquerda, em relação aos destrímanos. Mesmo assim, verificou-se uma maior transferência inter manual quando os sinistrómanos realizaram o treino com a mão direita. Actualmente, a maior parte dos estudos sugere que os efeitos da dominância funcional cerebral são menos evidentes nos sinistrómanos, e que estes apresentam uma transferência inter-hemisférica superior relativamente aos destrímanos. Por último, e talvez um dos aspectos mais importantes a reter, é que, segundo estes últimos autores, os dois hemisférios trabalham sobretudo de forma integrada e não independente.

Outros estudos obtiveram resultados em que a MP demonstrou superioridade de desempenho em relação à MNP (e.g. Vasconcelos, 1993; Francis e Spirduso, 2000). No nosso estudo observamos diferenças significativas na transferência inter manual da MNP para a MP entre destrímanos e sinistrómanos. Isto quer dizer que ocorreu uma transferência inter manual significativamente superior nos sinistrómanos, no treino realizado com a mão direita, relativamente aos destrímanos, no treino executado com a mão esquerda. Há indivíduos que apresentam uma superioridade de desempenho com a MP, mas outros têm melhor desempenho com a MNP. Com isto, a relação entre preferência manual e proficiência manual não é tão linear. Isto indica que a supremacia de desempenho manual não é ditada por um factor único, havendo grande variação de tarefa para tarefa (Teixeira e Paroli, 2000). Assim, dos nossos resultados concluímos que, quer o sexo quer a preferência manual parecem ter um efeito significativo na destreza manual. No geral, os rapazes e os destrímanos apresentaram desempenhos superiores de destreza manual relativamente às raparigas e aos sinistrómanos, respectivamente. Em relação à transferência inter manual, esta parece ser simétrica nos sujeitos destrímanos, enquanto que, para os sinistrómanos, a transferência inter manual revelouse assimétrica, com percentagens superiores de transferência da MNP para a MP. O nosso estudo verificou ainda, percentagens mais elevadas de transferência inter manual nos sinistrómanos relativamente aos destrímanos.

6. Conclusões

– O sexo feminino que apresenta melhor desempenho quer no geral, quer em cada grupo de preferência manual.

– Foram sempre as crianças destrímanas que tiveram mais destreza manual ao longo dos três momentos de avaliação. Também observamos que em relação ao sexo, foram os rapazes e as raparigas destrímanas que revelaram maior destreza manual em relação aos sinistrómanos de ambos os sexos. Assim, concluímos que a preferência manual tem um efeito significativo na destreza manual.

– Enquanto para os destrímanos a percentagem de transferência inter manual é idêntica da MP para a MNP e da MNP para a MP, nos sinistrómanos a percentagem de transferência inter manual da MNP para a MP é significativamente superior do que a transferência inter manual da MP para a MNP. Assim, concluímos que houve transferência inter manual simétrica de aprendizagem nos destrímanos e assimétrica nos sinistrómanos.

– A transferência inter manual de aprendizagem é superior nos sinistrómanos relativamente aos destrímanos para a situação da MNP. Nesta, os sinistrómanos apresentaram percentagem de transferência inter manual significativamente superior aos destrímanos.

 

Referencias

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