Análise da pratica de actividade física e sedentarismo dos adolescentes da cidade de beja.
Com este trabalho pretendia-se identificar a prática de Actividade Física e os Hábitos de Sedentarismo dos jovens adolescentes do concelho de Beja. Para isso utilizou-se uma amostra de 334 alunos, representativa dos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14,5 anos.
ABSTRACT
Com este trabalho pretendia-se identificar a prática de Actividade Física e os Hábitos de Sedentarismo dos jovens adolescentes do concelho de Beja. Para isso utilizou-se uma amostra de 334 alunos, representativa dos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14,5 anos. Os dados foram recolhidos por questionário. Concluímos que existem diferenças entre os géneros no que se refere à prática da AF, sendo os rapazes quem mais pratica. Relativamente à intensidade e ao esforço aplicado na AF, os rapazes percepcionam que aplicam um intenso esforço nas actividades e as raparigas algum esforço. Quanto aos comportamentos sedentários, são as raparigas quem realizam mais, no entanto as preferências de ambos os géneros recaem maioritariamente sobre o visionamento de TV.
Introdução
O presente estudo tem como objectivos identificar a prática de Actividade Física (AF) e os Hábitos de Sedentarismo nos jovens adolescentes no concelho de Beja. Esperamos também que com este trabalho, possamos compreender os determinantes da AF e factores associados, na expectativa de que os resultados possam dar orientação a futuras investigações promotoras da AF e da qualidade de vida desta população. Por definição, a AF é percebida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que se traduz num aumento de dispêndio de energia (ACSM, 2003; Sánchez, 2001). A AF pode ser encarada como o resultado de um padrão de comportamentos voluntários. É também natural que a AF seja entendida como parte integrante de um estilo de vida saudável. Recentemente, esta ideia tem sido reforçada por novas evidências científicas que associam positivamente a AF regular a um vasto rol de benefícios na saúde física e mental. A ACSM (2003) preconiza um novo paradigma sobre a AF, em que os seus benefícios estão relacionados com actividades de intensidade moderada e é atribuído um significado acrescido à acumulação de períodos de AF desenvolvida em momentos mais curtos e intermitentes. Assim, este novo paradigma é mais abrangente, incluindo todas as formas de AF, não existindo qualquer tipo de hierarquia nem juízos de valor em relação aos méritos de uma ou outra actividade. A AF é um dos termos utilizados para fazer referência às pessoas fisicamente activas, no entanto existem outros termos que podem ter significados diferentes mas que, erradamente, são utilizados com o mesmo propósito como são os casos dos seguintes conceitos: AF, Exercício e Desporto. De acordo com IEDAR (2004) entende-se por Exercício uma parte da AF planeada e que procura um determinado objectivo. No caso do Desporto entende-se a AF exercida como competição que se rege por algumas normas.
Metodologia
O instrumento utilizado foi baseado num questionário validado e elaborado por Veloso (2002), denominado “Aventura Social – mexa-se mais”. O questionário era anónimo e de auto resposta, a ser preenchido por todos os sujeitos da amostra. Para além dos dados demográficos, o questionário incluiu cinco grupos que pretendiam avaliar: nível actual de AF, atitude, intenção, crença no comportamento, percepção do controlo do comportamento, processos de mudança, tempo, duração e intensidade da AF da última semana e comportamentos sedentários. Para efectuarmos a recolha de dados com base numa amostra representativa no conselho de Beja, foi necessária a colaboração das escolas da Cidade. Numa primeira fase foi necessário recorrer às escolas com 7º, 8º e 9º de escolaridade, a fim de verificar o número de alunos inscritos nos referidos anos. Seguidamente, enviou-se um ofício a todos os presidentes do concelho executivo das escolas, com o objectivo obter autorização para o mesmo. Após a aprovação foram identificados os professores da disciplina de educação física para que estes pudessem disponibilizar alguns momentos durante uma das suas aulas para a passagem dos questionários aos alunos. Foram entregues então envelopes pelas escolas, dirigidos a esses professores durante o mês de Novembro de 2006. A recolha dos questionários decorreu durante o mês de Janeiro 2007.
Amostra
Neste estudo participaram 334 alunos representativos da população escolar do 7º, 8º e 9º ano de escolaridade do ensino público da cidade de Beja. As escolas que colaboraram foram a Escola E.B.2,3 Santa Maria, E.B.2,3 Santiago Maior, E.B.2,3 Mário Beira, Escola Secundária D. Manuel I, e a Escola Diogo Gouveia. Do total da amostra, 36,2% alunos frequentava o 7º ano de escolaridade, 16,8% alunos frequentava o 8º ano e 47% frequentava o 9º ano. Relativamente ao género, verificámos que a nossa amostra era constituída por 59% raparigas e 41% rapazes, com uma média de idades de 14,5 anos, com um desvio padrão de 1,2.
Analise e Discussão dos Resultados
Neste ponto iremos apresentar os resultados a que chegámos e procedermos à sua interpretação e discussão. Começaremos por apresentar resumidamente o tratamento estatístico dos nossos dados, para posteriormente os relacionarmos com os resultados alcançados noutras investigações. Verificamos que existem diferenças na categoria Desporto Escolar relativamente ao número de praticantes quer sejam do género masculino ou feminino, verificando-se que os rapazes (26,0%) praticam mais Desporto Escolar que as raparigas (7,1%). Os dados sugerem que é necessário proceder-se a estudos adicionais no sentido de ajudar as raparigas a manterem-se mais activas. Este resultado vai de encontro a vários estudos que têm demonstrado que o género é um factor predictor bastante significativo para estas diferenças de prática de AF (Sallis & Owen, 1999). Tentando perceber se esta tendência se aplica mesmo em diferentes níveis etários, verificamos que os jovens da nossa amostra praticam em maior percentagem (20,7%), Desporto Escolar, entre os 16-18 anos, embora esta diferença não seja significativa. Em relação ao modelo transteórico também se verificam diferenças, onde os rapazes se percepcionam maioritariamente como activos (92,0%) bem como as raparigas (74,6%), sendo as diferenças entre géneros significativas. O ano de escolaridade é outra variável que difere em termos de percepção quanto à prática da AF, mais concretamente no 8º e 9º ano de escolaridade, onde a maioria se percepcionam activos. Na variável nível de AF verifica-se que em ambos os géneros a maior percentagem concentra-se ao nível da AF insuficiente onde os rapazes apresenta valores de 50,4% e as raparigas de 57,9%, o mesmo se verifica em relação ao ano de escolaridade onde o 8º (42,9%) e 9º (61,8%) ano apresentam AF insuficiente. Concluímos que, as actividades mais praticadas pelos rapazes são: Futebol/futesala (53,3%),Andar a pé (46,6%), Correr (43,8%), Bicicleta (33,6%), Ciclismo (26,3%) e Andebol/Atletismo (19,7%). Já as raparigas as escolhas recaem nas seguintes actividades: Andar a pé (50,5%), Correr (26,0%), Trabalho doméstico (25,0%), Dança (21,4%), Bicicleta (20,9%) e Dança como divertimento (19,4%). As diferenças entre géneros mostram-se significativas em apenas algumas actividades, a saber: o Futebol, a actividade preferida pelos rapazes em contraste claro com as raparigas que não a selecciona entre as seis mais escolhidas; a Corrida onde 44% dos rapazes afirmam praticar enquanto as raparigas apenas 26% o referem; no andar de Bicicleta verifica-se uma maior evidência de prática por parte do género masculino (34%). Os nossos resultados podem considerar-se relativamente similares aos apresentados no estudo HBSC (2006), em que os rapazes preferem praticar mais Desporto e nas modalidades futebol, basquetebol e o ciclismo. Em contrapartida no mesmo estudo, as raparigas demonstram preferir a ginástica e natação, o que, difere das preferências apontadas pelas raparigas da nossa amostra. Esculas e Mota (2005), encontraram diferenças entre os géneros quanto às preferências das modalidades mais praticadas. Os rapazes parecem preferir actividades de exterior e desportos dirigidos, no caso das raparigas, estas dedicam-se mais a actividades artísticas. Estes resultados alcançados pelos autores de alguma forma revelam que as diferenças entre os géneros, tal como acontece com a nossa amostra, são essencialmente ao nível do desempenho físico, i.e., os rapazes parecem preferir actividades mais vigorosas enquanto as raparigas preferem actividades moderadas. Ao analisarmos o cruzamento entre o género e à idade, mais concretamente entre os 13-15 anos e os 16-18 anos, verificamos também que existem diferenças significativas. Assim no grupo etário do 13 aos 15 anos, a prática de Futebol/futesala(48,8%), Correr (38%) e Bicicleta (31%) são de maior prática por parte dos rapazes enquanto que as raparigas seleccionam o Trabalho doméstico (28%), Correr (27%) e andar de Bicicleta (24%). No caso dos mais velhos (16-18 anos) e dos rapazes, as actividades escolhidas são muito semelhantes aos mais novos, diferindo nas duas ultimas actividades mais seleccionadas, enquanto no caso das raparigas as diferenças para as mais novas é muito mais divergente. Relativamente à análise entre géneros, verificamos diferenças apenas ao nível do Andar a pé, sendo as raparigas que manifestam clara preferência (78%). No geral, os rapazes com idades compreendidas entre 16-18 anos praticam em maior percentagem todo o tipo de actividades. No estudo HBSC (2006) as diferenças significativas entre as modalidades mais praticadas ocorrem entre os grupos de idade mais distantes aos extremos.
Tabela 1 – Analise das Actividades Físicas mais praticadas na última semana
A Tabela 1 apresenta as actividades físicas praticadas durante a última semana. Ao analisarmos as diferenças entre géneros quanto às modalidades mais praticadas verificamos que todas elas diferem no que se refere à forma como optam por praticar a actividade. Passaremos a analisar as cinco modalidades mais referidas. Assim no Andar a pé verifica-se que as raparigas (sete) superam os rapazes (um/cinco) no que respeita ao número de dias que fazem esta actividade. Na actividade Correr, constata-se que, são novamente as raparigas quem pratica mais vezes por semana (3 vezes), no entanto são os rapazes que afirmam mais realizar Esforço intenso na referida actividade, e realizam a actividade na companhia de um Amigo, enquanto as raparigas afirmam realizar Algum esforço na actividade e fazem-no na companhia de um Adulto. Na actividade Futebol/Futesala, são os rapazes a praticam mais vezes por semana (2 vezes), diferindo das raparigas apenas na média de minutospor dia (120 min.). Na actividade andar de Bicicleta os rapazes superam as raparigas quanto aonúmero de dias que praticam a actividade por semana, o tempo de médias de minutos por dia também é superior (120 min nos rapazes e 60 min as raparigas), na intensidade também se verificam diferenças (Esforço intenso no caso dos rapazes e nas raparigasAlgum esforço), preferindo a companhia de um amigo, enquanto as raparigas preferem praticar a actividade Sozinha. No Trabalho doméstico apesar de serem as raparigas quem mais pratica esta actividade, são os rapazes quem afirmam aplicar um maior esforço.
Tabela 6 – Analise de prática e não pratica quanto às categorias de actividade física
Observando a Tabela 6, verificamos que no que respeita à categoria Exercício, os rapazes entre os 16-18 anos são quem mais pratica (74,5%). Existem também diferenças entre os residentes no meio urbano e meio rural, verificando-se que os residentes na cidade são aqueles que mais praticam Exercício (76,8%). De acordo com o modelo transteórico as diferenças existem entre os que praticam Desporto e se percepcionam como activos 76,5%) e os que menos praticam percepcionam-se como pré-contemplativos (25,0%). As diferenças encontradas entre os grupos contemplativos e activos vão de encontro aos resultados alcançados por Veloso (2002), distinguindo-se apenas nas categorias Desporto e Exercício, não havendo diferenças entre os grupos na categoria AF. Estes resultados podem dever-se ao facto de o grupo dos activos ser provavelmente constituído mais pelos jovens que praticam de forma regular e intensa uma modalidade desportiva. De acordo com a categoria AF, as diferenças verificam-se ao nível do género, onde são os rapazes que afirmam praticar mais (48,5%), mas é importante realçar a elevada taxa de não pratica em ambos os géneros. Na variável idade e ano de escolaridade verifica-se diferenças significativas sendo os mais novos (13-15 anos e 7º ano) os que mais afirmam praticar (47,1% e 52,9%, respectivamente). Na categoria Desporto, constata-se que as diferenças significativas incidem na variável género e na variável modelo transteórico. Os indivíduos do género masculino (77,4%) praticam mais do que os femininos (62,8%). Na variável o modelo transteórico os indivíduos classificados como activos são os que mais praticam (76,5%) e os que os menos praticam são os indivíduos pré-contemplativo (25,0%).Nas variáveis Desportos Colectivos e Desportos Individuais, as discrepâncias entre incorrem nas categorias, género, ano de escolaridade e modelo transteórico. Janz, Witt e Mahoney (1995) referem que as raparigas preferem praticar Desportos Individuais, nomeadamente a natação, a dança, a ginástica e a patinagem, enquanto que os rapazes preferem a prática de Desportos Colectivos e/ou de intensidade vigorosa. Isto é, o futebol, o ténis e o ciclismo. Estes resultados demonstram que, mais uma vez os estereótipos sociais se evidenciam parecendo que existem desportos tipicamente praticados por rapazes e outros por raparigas.
Tabela 7 – Comportamentos sedentários realizados pelos adolescentes na ultima semana
Analisando a Tabela 7 verificamos que são as raparigas quem apresentam mais comportamentos sedentários exceptuando nas categorias jogos de computador e jogos de vídeo. Nas categorias anteriormente referidas os rapazes praticam-nas 69,3% e 62,0% respectivamente, contrapondo com 51,0% e 34,2% das raparigas. Nos últimos sete dias o comportamento sedentário mais praticado e durante mais dias da semana é Ver TV ou Vídeo (80%), praticado pelos rapazes. Em relação ao tempo despendido a praticar cada comportamento sedentário (média de minutos em cada dia), verificamos que são rapazes quem despende mais horas (3 a 5 horas) a praticar jogos de computador e jogos de vídeo. Tal como era de supor, os nossos resultados vão de encontro aos estudos que referem que os adolescentes de uma forma geral, têm comportamentos sedentários merecedores de alguma atenção, principalmente no que diz respeito ao elevado consumo de televisão durante todos os dias da semana. Loureiro (2004), também indicou que as raparigas são quem mais apresentam comportamentos sedentários. Colley et al (1992, cit Mota & Sallis 2002), chegaram às mesmas conclusões, em que as crianças e jovens da sua amostra, despendem um reduzido período do seu tempo livre à AF o inverso do que acontece com o tempo despendido em actividades sedentárias. Como grandes conclusões do estudo, podemos verificar que existem diferenças entre os géneros quanto à prática da AF, sendo os rapazes quem apresentam níveis superiores de prática desportiva e que praticam mais modalidades colectivas e com contacto físico do que as raparigas. Em contra partida as raparigas preferem praticar mais modalidades individuais e sem contacto físico. O ano de escolaridade também nos parece ser um indicador da prática da AF. Em termos de percepção quanto à prática da AF, os 8º e 9º anos de escolaridade, percepcionam-se maioritariamente como activos. Este dado permite-nos inferir que o ano de escolaridade influencia a prática da AF, sendo que o número de praticantes parece ir aumentando conforme aumenta o ano de escolaridade. Nas modalidades mais praticadas pelos adolescentes, o nosso estudo indica-nos que existem também diferenças entre os géneros, relativamente às preferências seleccionadas. Os rapazes demonstram uma preferência maioritária para o futebol, enquanto que as preferências das raparigas incidem na actividade andar a pé. Na tentativa de caracterizar a AF dos adolescentes relativamente à frequência, intensidade, tipo e duração, os dados parecem indicar que os adolescentes masculinos referem aplicar um intenso esforço na maioria das actividades praticadas. Em contra partida as raparigas mencionam aplicar algum esforça na maioria das actividades. Quanto ao meio de proveniência dos jovens, os nossos resultados também apontam algumas diferenças, sendo os jovens provenientes do meio urbano quem pratica mais AF. Relativamente aos comportamentos sedentários, verificamos que são as raparigas quem apresentam comportamentos acentuados de sedentarismo. No entanto não podemos deixar de prestar atenção ao elevado consumo de televisão, uma vez que este surge como o principal comportamento sedentário apontado pelos jovens. No entanto, consideramos que, em termos globais, o nosso estudo pode contribuir para uma melhor percepção sobre a prática de AF e os comportamentos sedentários que os jovens do Concelho de Beja manifestam. Por outro lado, acreditamos que conhecendo os motivos que levam os jovens a praticar qualquer que seja a modalidade desportiva, será mais fácil encontrar estratégias para os motivar nesse sentido. Os nossos dados permitem-nos levantar algumas sugestões quanto a possíveis investigações futuras, principalmente no que se refere à elevada percentagem de comportamentos sedentários manifestados pelas raparigas. Será por isso importante investigar a fundo esta questão para podermos dar um rumo melhor aos nossos jovens, principalmente, na promoção de hábitos e estilos de vida saudáveis.
BIBLIOGRAFÍA
- ACSM (2003). Manual de pesquisa das directrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Editora de Guanabara Koogan.
- Matos, M., & Equipa do Projecto Aventura Social & Saúde (2003). A saúde dos adolescentes portugueses (Quatro anos depois). Lisboa: Edições FMH.
- Mota, J. & Sallis, J. (2002). Actividade física e saúde – Factores de influência da actividade física nas crianças e adolescentes. Porto: Campo das Letras – Editores, S. A.
- Sallis, J., & Owen, N. (1999). Physical activity & behavioural medicine. California: Sage Publications.
- Sánchez, P. (2001). Actividad física, condición física y salud. Sevilha: Wanceulen.