Efects of a psicomotor program in people with autism spectrum disorders
Abstract program in people with autism spectrum disorders
The autism was described by Kanner, in 1943, and later by Hans Asperger, as a disruption of development with a deficit associated with motor skills and fine motor general. Wing (1988) establishes a triad that is a spectrum of disorders with a common core of the affected areas: i) social relationships; ii) communication and iii) lack of imagination. Our purpose was to evaluate the effects of a program of psychomotor development on motor coordination, in three subjects with autism spectrum disorders. We applied tests of motor coordination and laterality in three moments of evaluation. To assess motor coordination we applied: i) dynamic balance test (walking straight on the beam, adapted from KTK); ii) global motor coordination test (jump over the blocks of foam, adapted from KTK); iii) hand-eye coordination test (launch the ball to topple a pin bowling); and iv) foot-eye coordination test and foot preference test consisting in kicking the ball to topple a pin bowling. The manual preference was evaluated by a collection test of ten objects. Statistical procedures comprise descriptive statistics (mean and standard deviation) and the Friendman’s test. The level of significance was set at p ? 0,10. Main conclusions: (i) The group showed improvement in foot-eye coordination and hand-eye coordination, being this last the most developed; (ii) At individual level, the ability that most evolved in subjects A. and C. was the dynamic balance and, in the subject B., was the foot-eye coordination; (iii) All subjects presented a left-hand and a left-foot preference. However, subjects A. and B. showed a higher evolution, after the program, with their right hand and right foot.
1. Introdução
O autismo foi descrito pela primeira vez por Kanner, em 1943. No início, Kanner acreditava que todas as crianças com autismo possuíam níveis normais de desenvolvimento intelectual o que, mais tarde, se veio a revelar como incorrecto. O autismo surge frequentemente associado a disfunções da fala e a deficiências intelectuais, motoras ou sensoriais. Um ano mais tarde, em 1944, Asperger identificou outro grupo semelhante de crianças com autismo (Jordan, 2000). Surgiram, então, duas designações para uma patologia muito semelhante: Autismo Infantil e Síndrome de Asperger (Wing, 1979, cit. por Correia, 2006). Wing (1988) identificou uma tríade que hoje pauta todos os critérios de diagnóstico relativos às perturbações do espectro do autismo (PEA): a Tríade de Lorna Wing. Segundo a autora, esta tríade consiste num espectro de perturbações com um tronco comum de áreas afectadas, que inclui problemas em três domínios: i) interacção social; ii) comunicação; iii) imaginação. Kanner (1943), aquando da publicação dos seus artigos sobre este tipo de perturbação, referiu uma falta de coordenação motora geral, especialmente na marcha, e Asperger (1944) falava mesmo em falta de coordenação fina, principalmente no que dizia respeito à escrita. Segundo Correia (2006), as PEA têm diversas formas de se manifestar em pessoas diferentes; no entanto, parece existir, de uma forma geral mais ou menos regular, um comprometimento motor nomeadamente ao nível da coordenação motora geral. Neste contexto, Ferreira (1993) refere que a psicomotricidade é um meio óptimo para retirar a pessoa com deficiência da sua inactividade e fraca iniciativa, permitindo assim a integração social, aceitação da relação com os outros e maximização das suas potencialidades.
É neste sentido que se dá maior relevância ao aperfeiçoamento das capacidades coordenativas, uma vez que são parte vital na formação corporal de base. Estas surgem como imprescindíveis para as populações com necessidades especiais, porque contribuem para o desenvolvimento perceptivo-motor facilitando, deste modo, o seu relacionamento com o meio ambiente. Também permitem que o indivíduo adquira, através da actividade corporal, os alicerces sensório-perceptivo-motores que vão estar na base de comportamentos exigidos pelo meio, abrindo-lhes novos horizontes (Pires, 1992). A lateralidade, nos indivíduos com PEA, estabelece-se mais tarde que em pessoas com desenvolvimento considerado normal, definindo-se com mais frequência à esquerda ou permanecendo indeterminada. Contudo, também neste domínio, são por vezes observadas aptidões particulares, designadamente ao nível de manipulações finas com grande precisão. Neste caso, a destreza manual não é aplicada em actividades funcionais, mas é geralmente posta ao serviço de comportamentos repetitivos (Rogé, 1998). Assim, podemos afirmar que a preferência manual esquerda tem uma incidência maior nas PEA do que na população em geral, atingindo cerca de 18% dos indivíduos. Do mesmo modo, 36% têm preferência manual ambígua. No entanto este valor está mais relacionado com indivíduos com PEA com fraco desenvolvimento cognitivo do que com indivíduos com PEA sem comprometimento cognitivo, onde a ambiguidade parece não existir (Aram et al., 1988; McManus et al., 1992; Bradshaw et al., 1996, cit. por Correia, 2006). Soper e Satz (1984, cit. por Aram, 1988), depois de uma meta análise, chegaram à conclusão de que quando uma pessoa é em simultâneo sinistrómana e sofre de PEA, a possibilidade de que a lesão do hemisfério esquerdo seja primária é muito elevada, assim como a probabilidade de as preferências manual esquerda e ambígua serem patológicas também está aumentada.
Desta forma, e de acordo com os autores, existem boas razões para acreditar que as PEA estão associadas a lesões bilaterais do cérebro, principalmente ao hemisfério esquerdo (Correia, 2006). No que concerne à educação motora, o indivíduo com PEA, inicialmente, desenvolve o equilíbrio corporal, a autoconfiança e a sociabilização, esperando a sua vez, imitando movimentos e adaptando-se às regras dos jogos (Furneaux e Roberts, 1979), sendo, por isso, a actividade física um meio fundamental para reduzir os comportamentos estereotipados característicos desta perturbação (Levinson e Reid, 1993). É neste sentido que incluímos no nosso trabalho um método de intervenção alternativo – a Equitação Terapêutica – relacionando-o especificamente com as PEA. O ritmo do passo do cavalo é um factor importante, uma vez que esse ritmo corresponde sensivelmente ao nosso ritmo cardíaco, favorecendo a calma e a descontracção. Os movimentos rítmicos e harmoniosos do cavalo, a emissão do calor produzido pelo seu corpo, descontraído e distendido, favorecem a actividade muscular. Por outro lado, o facto desta acção se desenrolar na posição sentado significa uma diminuição da carga corporal (Deppisch, 1997, cit. por Lobo, 2003). Por conseguinte, a equitação como método terapêutico é benéfica para indivíduos com PEA, no que concerne às suas competências gerais. Desenvolve com harmonia as qualidades de equilíbrio, coordenação motora geral, coordenação óculo – manual, agilidade, destreza, dá uma sensação de força física e faz aumentar a autoconfiança, a vontade, o espírito de decisão, iniciativa e de resolução. Melhora as relações inter – pessoais, a adaptação às mudanças e as respostas emocionais.
2. Objectivos
Objectivo Geral
- Avaliar os efeitos de um programa de psicomotricidade no desenvolvimento da coordenação motora, em três indivíduos com PEA. Objectivos Específicos
- Comparar os resultados do teste de preferência manual e pedal entre os três momentos de avaliação do programa de psicomotricidade, em cada indivíduo e ao nível do grupo.
- Comparar os resultados e a evolução do desempenho, no teste de equilíbrio dinâmico; coordenação dinâmica geral; coordenação óculo-manual e coordenação óculo-pedal entre os três momentos de avaliação do programa de psicomotricidade, em cada indivíduo e ao nível do grupo.
- Investigar qual dos testes de coordenação motora apresentou maior evolução e qual apresentou a menor evolução ao longo do programa de psicomotricidade, em cada indivíduo.
- Verificar em qual dos membros, superiores e inferiores, se registou maior evolução do primeiro para o último momento, em cada indivíduo.
3. Material e Métodos
Amostra
A amostra foi constituída por três indivíduos adultos com PEA que frequentam a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA – Norte), sendo que 2 utentes são do sexo masculino (A. e B.) e 1 do sexo feminino (C.). Procedimentos Metodológicos Depois de obtida a devida autorização para a aplicação do programa psicomotor com os utentes da APPDA, demos início ao nosso trabalho, em Novembro de 2006, com uma avaliação do estado inicial dos alunos, terminando em Junho de 2007 com a avaliação final.
Instrumentos
- Avaliação da Lateralidade e Preferência Manual Para a avaliação da lateralidade, aplicamos um teste que consistiu na recolha simples de dez objectos colocados alternadamente pelo avaliador em cima de uma mesa, no sentido de percebermos qual a preferência manual dos indivíduos da amostra (destrímanos ou sinistrómanos). Para chegarmos às percentagens, quer da preferência manual quer da preferência pedal (direita ou esquerda), usamos a fórmula do quociente de lateralidade: QLATM = [(Mão direita – Esquerda)/(Mão Direita + Esquerda)]x100; para a preferência manual; QLATP = [Pé direito – Esquerdo)/(Pé Direito + Esquerdo)]x100; para a preferência pedal. O valor resultante pode variar entre -100% e +100%. Quando o valor é menor ou igual a zero consideramos a preferência esquerda e quando o valor é superior a zero consideramos a preferência direita (Porac e Coren, 1981).
- Avaliação do Equilíbrio Dinâmico (adaptado do KTK) Relativamente à avaliação do equilíbrio dinâmico, os avaliandos tinham que realizar três percursos caminhando apenas para a frente numa barra de ferro, sendo contabilizadas, em cada percurso, as vezes em que o aluno colocava o pé no solo.
- Avaliação da Coordenação Dinâmica Geral (adaptado do KTK) Para avaliar a coordenação dinâmica geral utilizamos o teste de saltar sobre blocos de espuma. Quando o avaliando conseguia saltar sobre o obstáculo acrescentavase, em altura, outro bloco e assim sucessivamente até falhar as três tentativas seguidas.
- Avaliação da Coordenação Óculo-Manual e Óculo-Pedal Para a avaliação da coordenação óculo-manual e óculo-pedal utilizamos os testes dos dez lançamentos/chutos. O avaliando, colocado atrás da linha de lançamento, lançava/pontapeava a bola tentando derrubar um pino colocado a 2,5m de distância. Foi registado o número de vezes em que o pino foi derrubado.
Procedimentos Estatísticos
Realizamos o tratamento dos dados através do programa estatístico SPSS – Statistical Package for the Social Sciences, versão 15.0. Usámos a estatística descritiva, média (x) e desvio padrão (dp), para a análise do grupo. Recorremos à estatística inferencial; teste de Friedman, para comparar os indivíduos ao longo dos três momentos de avaliação. O nível de significância foi estabelecido em p ? 0,10.
4. Apresentação e Discussão dos Resultados
Resultados Individuais
Os Quadros 1, 2 e 3 apresentam os resultados dos testes de coordenação motora e os quocientes de lateralidade manual e pedal dos alunos A., B. e C. nos três momentos de avaliação.
Quadro 1 – Resultados dos testes de coordenação motora e dos testes de preferência manual e pedal dos três momentos de avaliação do aluno A.
Quadro 1. Efects of a psicomotor program in people with autism spectrum disorders
Quadro 2. Efects of a psicomotor program in people with autism spectrum disorders
Quadro 3. Efects of a psicomotor program in people with autism spectrum disorders
Quadro 4. Efects of a psicomotor program in people with autism spectrum disorders
Resultados do Grupo
5. Conclusões
Aluno A.
Aluno B.
Aluno C.
References
- Asperger, H. (1944). Die ‘aunstisehen Psychopathen’ im Kindesalter. Archiv fur psychiatrie und Nervenkrankheiten, Vol. 117, 76 – 136.
- Correia, Natália (2006). Estudo Exploratório dos Níveis de Coordenação Motor em Indivíduos com Perturbações do Espectro do Autismo.
- Dissertação de Mestrado em Ciência do Desporto – área de especialização em Actividade Física Adaptada. Faculdade de Ciências de desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Edição do autor.
- Ferreira, L. (1993). Participação em Sociedade: Desporto para Todos/ Desporto Adaptado. In Revista Integrar, Nº1, 42 – 45.
- Jordan, Rita (2000). A Educação de Crianças e Jovens com Autismo. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional – Ministério da Educação.
- Kanner, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child, Vol. 2, 217 – 250.
- Levinson, L.; Reid, G. (1993). The effects of exercise intensity on the stereotypic behaviours of individual autism. Adapted Physical Quarterly. Canada: Human Kinetics Publishers, Vol.3, Nº10, 255 – 266.
- Lobo, A. (2003). Equitação Terapêutica: A influência de um Programa de Equitação Terapêutica em jovens com Problemas/ Distúrbios comportamentais portadores de Deficiência Mental Ligeira. Dissertação de Mestrado em Ciência do Desporto – área de especialização em actividade física adaptada. Faculdade de Ciências de Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Edição do autor.
- Pires, L. (1992). Elaboração teórico-prática de um programa de ensino para o desenvolvimento da coordenação geral num grupo de deficientes intelectuais. Dissertação de Licenciatura em Ciência do Desporto – área de especialização em Actividade Física Adaptada. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Edição do autor.
- Porac, C.; Coren, S. (1981). Lateral preferences and human Behavior. Springer – Verlag. New York.
- Rogé, B. (1998). Educautisme – Infância (0-3 anos, 3-6 anos, 6-12 anos). CNEFEI e APPDA. Educautisme. Projecto Horizon.
- Wing, L. (1988). The continum of autistic characteristics. In Schopler e G. B. Mesibov. Nova Iorque: Plenum Press.