Os estilos de vida dos adolescentes e a sua relação com os níveis de sobrepeso, obesidade e capacidade cardiorrespiratória
A investigação sobre os estilos de vida das crianças e adolescentes, mais concretamente os relacionados com a saúde, tem sido uma constante em muitos estudos realizados…
INTRODUCCIÓN.
A investigação sobre os estilos de vida das crianças e adolescentes, mais concretamente os relacionados com a saúde, tem sido uma constante em muitos estudos realizados (e.g. Balaguer, 2002; Biddle & Mutrie, 2007; Matos, 2008; Mota & Sallis, 2002), considerando-se, no entanto, fundamental, a continuidade dos mesmos, em termos descritivos, correlacionais e preditivos, uma vez que, apesar das evidências existentes, relativamente à influência de alguns dos seus determinantes, ainda não ocorreram alterações significativas nos comportamentos dos sujeitos que se situam nestes escalões etários, após um conjunto de estratégias, acções e programas já desenvolvidos neste domínio, pelo poder político, a nível regional, nacional e mesmo internacional (e.g. Estratégia NAOS, Programa PERSEO, Programa PACE, Programa Peso; Programa Nacional de Intervenção Integrada sobre Determinantes de Saúde Relacionados com o Estilo de Vida). Muitos dos comportamentos incluídos no estilo de vida dos adolescentes podem influenciar, directa ou indirectamente, a saúde a curto e longo prazo. É neste momento globalmente aceite, que os comportamentos e processos protectores para a saúde têm de ser estudados, do mesmo modo que os comportamentos e processos ligados aos seus riscos. A sociedade tem vindo a alterar os seus comportamentos ao longo das últimas décadas como consequência da evolução científica e tecnológica, passando dum estilo de vida em que a actividade física era uma dominante, para um outro em que o sedentarismo e as rotinas predominam. Segundo Giddens (2000: pp 153) “Os nossos corpos estão a ser invadidos pela influência da ciência e da tecnologia, dando origem a novos dilemas”. Estas tecnologias foram definidas por Foucault (1988), citado por aquele autor, como tecnologias sociais que afectam o corpo. A este propósito dizia ainda que o corpo é cada vez mais algo que temos de criar e não simplesmente aceitar. Por outro lado, os baixos índices de participação em actividades físicas e desportivas em crianças, jovens e adultos, assim como os inadequados hábitos alimentares e de consumo de substâncias nocivas para a saúde, nomeadamente o tabaco e o álcool, são um motivo de preocupação permanente na sociedade em que vivemos. A este propósito, Balaguer, Castillo e Pastor (2002), referiam que o consumo de cigarros e álcool, as dietas ricas em gorduras e a falta de exercício, constituem alguns exemplos dos comportamentos pouco saudáveis ou de risco. Como consequência destes factos, algumas doenças, designadas hoje como doenças crónicas não transmissíveis, têm evoluído até aos nossos dias, e apesar do conhecimento das suas origens, de algum controlo e das campanhas de sensibilização realizadas, não têm ocorrido alterações substanciais dos comportamentos da sociedade. A relação entre o sindroma metabólico e o estilo de vida dos adolescentes tem sido um dos objectos de estudo mais em evidência no âmbito das ciências da saúde. Pan e Pratt (2008) analisando os dados fornecidos pelo National Health and Nutrition Examination Survey e referentes ao período entre 1999-2002, com jovens adolescentes de idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, utilizando como variáveis, para além da idade, o sexo, a etnia, a glicémia em jejum, triglicéridos, colesterol, pressão arterial, circunferência da cintura, a actividade física e a dieta, puderam concluir sobre a prevalência do sindroma metabólico nos sujeitos do género masculino, da influência da actividade física e da ingestão de alguns dos alimentos considerados como mais saudáveis sobre o mesmo e ainda que o sindroma metabólico era 16 vezes superior nos adolescentes com índice de massa corporal igual ou acima do percentil 95. Aproximadamente 2 milhões de mortes todos os anos são atribuíveis à inactividade física. Resultados preliminares em vários estudos sobre factores de risco, sugerem que estilos de vida sedentários são das principais causas de morte e morbilidade no mundo. Como foi referido, a inactividade física aumenta a mortalidade, dobra o risco de doença cardiovascular, diabetes tipo II e obesidade. Também aumenta os riscos de câncer no cólon e no peito, hipertensão, osteoporose, depressão e ansiedade (Dunn, Trivedi & O’Neal, 2001; Hankinson, 2008).
OBJETIVOS DO ESTUDO:
Caracterizar os elementos da nossa amostra relativamente aos estádios de adesão à prática de actividade física, hábitos alimentares, consumo de tabaco e bebidas alcoólicas, composição corporal e capacidade cardiorrespiratória; Comprovar se existem relações significativas entre os estádios de adesão à prática de actividade física, a capacidade cardiorrespiratória e os factores da composição corporal considerados neste estudo, nomeadamente, o índice de massa corporal, a percentagem de massa gorda e a percentagem de massa muscular; Verificar se os hábitos alimentares estão relacionados com a prática de actividade física, a capacidade cardiorrespiratória e os parâmetros da composição corporal definidos para este estudo; Verificar se os hábitos de consumo de tabaco e de álcool assim como as horas de sono estão relacionados com a prática de actividade física, a capacidade cardiorrespiratória e os parâmetros da composição corporal definidos para este estudo; Analisar a influência da idade, género e meio onde residem os elementos da nossa amostra relativamente ao estádio de adesão e motivações para a prática de actividade física, aos parâmetros da composição corporal definidos para este estudo e à capacidade cardiorrespiratória, aos hábitos alimentares, ao consumo do tabaco e de álcool.
AMOSTRA DO ESTUDO:
Participaram no estudo 1053 adolescentes e jovens adultos com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos, sendo 51% do género masculino e 49% do feminino.
CONCLUSÕES:
Aproximadamente 50% dos elementos que constituíam a amostra do estudo não praticava actividade física regular nos últimos seis meses; Um número significativo de indivíduos revela ter sobrepeso ou mesmo obesidade. Tendo como referência a percentagem de massa gorda, 35.7% apresentava excesso de gordura ou era obesos. A maioria dos sujeitos da amostra apresenta uma fraca capacidade cardiorrespiratória. De entre os sujeitos avaliados, 57,5% encontrava-se abaixo do percentil 50. A grande maioria dos elementos da amostra não dá cumprimento às regras alimentares recomendadas. Concluímos que a maioria dos sujeitos que apresentavam melhores hábitos alimentares se caracterizavam por comer mais fruta, beberem mais água, usarem menos sal, comerem mais vegetais diariamente e menos fritos. A maior parte dos sujeitos com piores hábitos alimentares raramente comem fruta, comem fritos várias vezes por semana e bebem menos água. O estádio de adesão à prática de actividade física apresentou-se correlacionado positivamente com a capacidade cardiorrespiratória (VO2 máx.) e a percentagem de massa muscular e negativamente com a percentagem de massa gorda. Verificámos ainda uma relação positiva com as horas de sono e hábitos alimentares. No que diz respeito à prática de actividade física, mas de natureza extra-curricular, verificámos a existência de correlações positivas entre esta e o VO2 máx., assim como com as horas de sono, os hábitos alimentares e o hábito de tomar bebidas alcoólicas ao fim de semana. Concluímos que seria possível predizer a percentagem de massa gorda através do índice de massa corporal, sendo mais relevante quando calculado para cada um dos géneros dos sujeitos de per si. Constatámos a existência de correlações significativas entre a capacidade cardiorrespiratória (VO2 máx.), a percentagem de massa muscular e a percentagem de massa gorda, esta última com sentido negativo. Encontrámos ainda uma correlação positiva entre aquela capacidade, o consumo de álcool e o valor de omegaa (variável relacionada com o tipo de alimentos e a forma como são confeccionados). O género apresentou-se como variável discriminatória relativamente à composição corporal, revelando os elementos do género feminino valores mais elevados, no que respeita à percentagem de massa gorda e mais baixos no que se refere ao índice de massa corporal e percentagem de massa muscular. Os elementos do género feminino praticam menos actividade física regular e extra-curricular do que os do género masculino, apresentam pior capacidade cardiorrespiratória, menor motivação para a prática da actividade física, embora pareça terem melhores hábitos alimentares (omega0). As influências dos outros significativos, parecem ser mais evidentes nos elementos do género masculino. Relativamente ao consumo de cigarros/dia e hábito de ingerir bebidas alcoólicas ao fim de semana, também se registaram diferenças significativas entre os dois grupos, sendo os elementos masculinos os maiores consumidores relativamente a qualquer das substâncias. A idade também se revelou como variável discriminatória relativamente às variáveis relacionadas com a composição corporal, estádio de adesão à prática de actividade física, VO2 máx., hábitos alimentares (omega0), consumo de cigarros/dia, ingestão de bebidas alcoólicas ao fim de semana. Embora revelando-se discriminatória, a sua relação não se apresenta linear, uma vez que existem oscilações entre os vários escalões etários.