Pedagogia da psicomotricidade
Pedagogia da psicomotricidade
PEDAGOGIA
A pedagogia é uma ciência ou disciplina cujo objetivo é a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica do processo educativo.
A palavra pedagogia tem origem na Grécia antiga, paidós (criança) e agogé (condução).
O objetivo de estudo da pedagogia é a educação, que trata do conhecimento, da informação e da dimensão cognitiva do educando para perceber, aprender, apreender e se apropriar de forma crítico-reflexiva do conhecimento e das informações. Logo, o sujeito da pedagogia é o ser humano enquanto educando (UNIV. UBERABA, 2009).
A pedagogia se aplica em vários ramos, porém, importa-nos o ramo escolar, o qual tem seu olhar para o processo formativo-educativo de ensino e aprendizagem nas instituições de ensino formal: as escolas. Aí o processo é curricular, ainda que complementado por atividades extracurriculares.
Shigunov e Pereira (1993), indicaram alguns processos para a pedagogia da educação física, que envolve o esporte, destacando seus componentes afetivos e desportivo-motores, com ênfase na aprendizagem pelo movimento ao longo da infância e adolescência, segundo os quais, constitui um período crucial para estabelecer uma base sólida de aquisição de conhecimentos e equilíbrio comportamental.
PEDAGOGIA DO MOVIMENTO
Trata-se de uma área que envolve a investigação acadêmica do ensino e a formação do professor. Na literatura internacional, diferentes termos definem a pedagogia do movimento humano: pedagogia da atividade física, pedagogia do esporte e pedagogia do ensino da educação física.
As pesquisas em ensino tem focado basicamente três aspectos: planejamento curricular, ação didática e resultados de aprendizagem. Particularmente, os estudos sobre ação didática procuram analisar a adequação dos objetivos, a eficiência de diferentes metodologias e as relações entre conteúdos de ensino e objetivos (FERRAZ, et al, 2011).
Atributos pessoais são considerados nas investigações que envolvem a pedagogia do movimento humano, uma vez que, no passado, as crianças brincavam mais intensa e vigorosamente, nas ruas ou em espaços livres. Atualmente, por questões de segurança e restrições de tempo dos pais, as crianças ficam em suas casas e apartamentos e em atividades como a televisão, o videogame, o computador e outras conveniências conducentes ao sedentarismo (GRAHAM et al, 2004). Considere-se ainda, que os novos hábitos alimentares incluem o consumo de alimentos industrializados e altamente calóricos (LIMA, 1999).
Conforme Graham et al (2004), em nenhum outro momento a Educação Física foi tão importante para as crianças como nos dias atuais.
PSICOMOTRICIDADE
A psicomotricidade apresenta o aspecto comunicativo do indivíduo e pode-se dividi-la em funcional e relacional. Os conceitos funcionais se referem à locomoção, manipulação e tônus como estruturas psicomotoras definidas como básicas. É através dessas estruturas que as ações e sua qualidade são percebidas e mensuradas, uma vez que interagem o corpo como unidade. Já a psicomotricidade relacional gera atitudes relacionais operando em aspectos psicoafetivos, em ações da própria e reconhecida unidade corporal (indivíduo) com o grupo, em espaço de jogo espontâneo e, assim, experimentar o prazer.
Para Lapierre e Aucoutorier (1998), isso possibilita à criança, expressar suas dificuldades relacionais, como ponto de partida para que se possa ajudá-la a superá-las. Para esses autores, o poder agir associado ao poder sentir (funcional; relacionável) trazem nova dimensão ao prazer do movimento: ação, vivências de movimentos simples e de movimentos complexos.
Para melhor entender tal aspecto comunicativo entre o indivíduo e sua interação em um determinado espaço e tempo, Fonseca (1988) refere que a psicomotricidade pode ser concebida como integração superior da motricidade, originada da relação com o meio. Assim, a consciência se forma e se materializa.
A identidade da psicomotricidade, para esse autor, se legitima por uma síntese entre os aspectos afetivo e cognitivo, que pode resultar de aprendizagens dentro dos contextos sócio-cultural e sócio-histórico.
Assim, o corpo não pode ser entendido apenas como instrumento mecânico, mas visa a organização práxica expressiva do indivíduo. Seu enfoque centra-se sim, na importância da qualidade relacional e na mediatização. Ela privilegia a totalidade do ser, as possibilidades de evolução e a unidade psicossomática, situando-se mais próxima da neurologia, psicologia, psiquiatria e outras áreas afins.
Meur e Staes (1992), definem nesse âmbito, psicomotricidade como posição global do sujeito, entendendo que o ser humano sintetiza psiquismo e motricidade, o que permite uma adaptação harmoniosa do indivíduo com o meio envolvente. Ou seja, isso pode ser entendido como a relação entre a motricidade e o psiquismo, ou entre o indivíduo global e o mundo exterior. A organização de atividades psicomotoras, devem então, possibilitar à pessoa, conhecer o seu ser e o ambiente imediato, para atuar de uma maneira adaptada.
Isso remete então, à abordagem da pedagogia da psicomotricidade, tendo como foco a educação física e aos esportes, para cuja gama de movimentos envolvidos, conquista-se progressivas adaptações e criações.
PSICOMOTRICIDADE, EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES
A psicomotricidade atua na formação e estruturação do esquema corporal, ao incentivar a prática do movimento durante todo o período da infância. Cada vez mais, educadores recomendam que os jogos e as brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar.
Tem como essência, o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito o ser natureza e o ser sociedade. Ela se associa à afetividade e à personalidade, uma vez que o indivíduo utiliza o seu corpo para demonstrar o que sente. Para Fonseca (1988), é a integração superior da motricidade, como produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio.
O trabalho da educação psicomotora visa prever a formação de base do desenvolvimento motor, afetivo e psicológico. Trata-se de se conscientizar-se sobre o próprio corpo por meio de jogos e atividades lúdicas, inicialmente e, dos esportes, posteriormente.
Para ser trabalhada, a educação psicomotora necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e sócio-motoras, o que permite explorar o ambiente e, assim, passar por experiências concretas e indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual (BARRETO, 2000).
Os exercícios psicomotores envolvem engatinhar, rolar, balançar, dar cambalhotas, equilibrar-se em um só pé, andar para os lados ou sobre uma linha no chão, passeios ao ar livre em terrenos variados e outros.
Le Boulch (1987), oferece nesse sentido a educação psicomotora na idade escolar por meio de uma variabilidade de práticas lúdicas, com e sem aparelhos, explorando o esquema corporal, a noção espacial e temporal, as coordenações e a integração do ser humano com o meio, promovendo a sua totalidade.
Com relação à psicomotricidade e os esportes, ou à prática de esportes, tal associação tem sido objeto de estudos envolvendo praticantes normais e também deficientes (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2000).
Tanto para os normais como para os deficientes, há um caminho a seguir visando a estruturação dos aspectos do movimento, do pensamento e do controle emocional que se ajustam à prática de esportes por uma sucessão de transposição de barreiras ou desafios, os quais são alcançados e conquistados passo a passo e se firmam nos praticantes adolescentes e jovens (PEREIRA, 1991).
Os jogos esportivos, coletivos e individuais, vão necessitar o domínio de movimentos específicos, só possíveis de alcançar com a base psicomotora anteriormente desenvolvida, pois tem seu grau de complexidade aumentado, tanto no aspecto da técnica quanto da tomada de decisão e equilíbrio emocional.
O esporte, sendo cultural, exige tal conhecimento, compreensão,discernimento e superação. Como prática psicomotora, terá que continuar influindo sobre a formação humana muito alem da mecânica de movimentos coordenados, ajustados e eficientes. Terá que atingir a independência humana para a vida.
CONSIDERAÇÕES
A pedagogia como ciência que orienta o ensino com instrumentos que permitem as aprendizagens e a conseqüente apropriação do movimento com significado e função, atua nesse caso por meio da psicomotricidade, tanto funcional como relacional.
A quantidade, a qualidade e a diversidade de ações psicomotoras, em ambiente lúdico, certamente produzirá efeitos favorecedores da progressiva formação humana, desde seus atributos biopsicológicos até o domínio mais complexo de ações relacionadas ao seu dia-a-dia, à educação física e à prática de esporte.
Em suma, a pedagogia e a psicomotricidade se fundem em método pedagógico capaz de promover os sentidos, as percepções e o conhecimento, os quais irão durar a vida inteira, sendo assim instrumentos imprescindíveis no âmbito da educação.
Pode-se assim afirmar, que a educação física possui um impacto positivo no conhecimento, no pensamento e ação, nos domínios cognitivos, na vida do ser humano.
Referências
BARRETOS, S. J. Psicomotricidade, educação e reeducação. 2 ed. Blumenau: Livraria Acadêmica, 2000
DE MEUR, A; STAES, L. Psicomotricidade – educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1989
FONSECA, V. Da filogênese a ontogênese da psicomotricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987
LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia do movimento, psicomotricidade e educação. Curitiba: Filosofart, 2004
LE BOULCH, J. Educação Psicomotora. A psicomotricidade na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987
PEREIRA, V. R. Estudo da Influência de um Programa Desportivo-Motor Centrado no Andebol sobre o Desenvolvimento Psicomotor de Crianças em Idade Escolar (9-10 anos). Tese de Doutorado. Porto: Universidade do Porto, 1991
SILVA, G. C. P. da; SILVA, I. F. da; PEREIRA, V. R. O esporte como meio de desenvolvimento psicomotor de pessoas com deficiência visual. Arq. Cienc. Saúde 4 (2): 135-140, mai-ago.2000
SHIGUNOV, V.; PEREIRA, V. R. Pedagogia da Educação Física. Os aspectos afetivos – o desporto na escola. São Paulo: Ibrasa, 1993
UNIVERSIDADE DE UBERABA. Pedagogia. Série Pedagógica etapa VII, Vol. 3. Uberaba, 2009