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8 May 2006

Percepção de hábitos de postura corporal em ambiente escolar – estudo realizado em alunos portugueses do 9 ano do ensino básico

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Com base no princípio de que a incidência das alterações posturais na população jovem é cada vez maior (Tobar, 2004) e que os hábitos de postura corporal inadequados (posturas biomecanicamente incorrectas)…

 
Autor(es): MARIA EMÍLIA MOURA ALVES, JOSÉ LUÍS GARCIA SOIDÁN
Entidades(es): Faculdade de Ciências da Educación. Pontevedra – Universidade de Vigo
Congreso: II Congreso Internacional de las Ciencias del Deporte
Pontevedra:08-10 de Mayo de 2006
ISBN: 978-84-612-3518-6
Palabras claves: body posture, school level.postura corporal, ambiente escolar. body posture, school level.

RESUMEN COMUNICACIÓN/PÓSTER

Com base no princípio de que a incidência das alterações posturais na população jovem é cada vez maior (Tobar, 2004) e que os hábitos de postura corporal inadequados (posturas biomecanicamente incorrectas) podem criar situações de prejuízo significativo para as estruturas que compõem a coluna vertebral (Martelli e Traebert, 2006), procurámos conhecer um pouco melhor o comportamento dos indivíduos relativamente aos seus hábitos de postura corporal em ambiente escolar. A 557 estudantes (de ambos os sexos), com idades entre os 14 e os 15 anos, aplicámos um questionário de “percepção sobre a postura adoptada em ambiente escolar”, validado por Ritter et al. (2004). O estudo foi realizado na totalidade das escolas pertencentes ao Concelho de Penafiel, distrito do Porto, com o universo dos alunos do 9º ano do ensino básico. Os valores encontrados parecem revelar que os alunos do 9º ano de escolaridade apresentam hábitos de postura corporal em ambiente escolar inadequados, nomeadamente, nos parâmetros: “como normalmente se senta” (82,6%), “como normalmente se senta para escrever” (58,1%), “como apanham um objecto pesado do chão” (59,7%) e “como apanham um objecto leve do chão” (71,8%). No entanto, verificou-se que no caso do “transporte do material escolar”, 88,3% dos alunos utilizam o material adequado (a mochila) e destes, 78,5% usam-no correctamente, ou seja, com o peso distribuído por ambos os ombros. Na comparação entre sexos, na maioria dos itens avaliados foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, variando a predominância do sexo, nos diferentes parâmetros. No caso do transporte do material escolar, os resultados indicam que as raparigas, em média, transportam a mochila com maior correcção (duas alças distribuídas por ambos os ombros) (p<0,05). Todavia, a percentagem de rapazes a utilizar a mochila para transportar o material escolar é superior à das raparigas (91,5% e 84,8%, respectivamente). De um modo geral não se verificaram diferenças (com significado estatístico) nos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, entre os alunos do 9º ano das escolas do meio rural e as escolas do meio urbano. Considerando os valores de referência, os índices de postura corporal inadequada encontrados no nosso estudo parecem deixar alguns motivos susceptíveis de intervenção, mostrando-se como excepção o caso do “transporte do material escolar”, cujos resultados observados fornecem uma perspectiva animadora.

RESUMEN COMUNICACIÓN/PÓSTER

The incidence of postural changes among the young population is becoming higher (Tobar 2004) and the inadequate habits of body posture (bio mechanically incorrect postures) can do serious harm mainly at the level of the structures which make up the vertebral column (Martelli and Traebert, 2006). We aim forward at a better understanding of the behaviour of individuals regarding their postural attitude in a school environment. We surveyed 557 students (376 girls and 281 boys), ages ranging 14/15 years old. The questionnaire was about the “perception about the posture adopted in a school environment”, validated by Ritter et al. (2004). This study was made among 9th grade students of all the schools of the Municipality of Penafiel, Oporto district. From the analyses of the results we concluded that 9th grade students seem to have inadequate body posture habits, namely in the parameters: “how they sit” (82.6%), “how they sit to write” (58.1%), “how they lift a heavy object from the ground” (59.7%) and “how they lift a light object from the ground” (71.8%). Meanwhile, regarding “the carry of school material”, 88.3% of the students use adequate material (the backpack) and among these, 78.5% use it correctly, distributing the weight by both shoulders. Regarding gender, it was statistically found significant differences. The different parameters faced a variation in gender predominance. Regarding the carrying of school material, results show that in average girls carry their bag more correctly (one stripe in each shoulder) (p<0.05). However, the percentage of boys using the bag to carry their school material is higher than the percentage of girls (91.5% and 84.8% respectively). Generally speaking, there are no differences (with statistic relevance) in the habits of body posture in a school environment between the 9th grade students either in a rural or urban environment. Taking the reference values into account, the indexes of inadequate posture found in our study seem to uncover some aspects for concern that might demand an intervention. The only exception concerns the “carry of school material”, whose results give us a positive perspective.

RESUMO:

Com este estudo procurámos identificar os hábitos de postura corporal dos alunos do 9º ano do ensino básico e verificar a diferença entre os sexos e entre as escolas situadas no meio rural e no meio urbano. Os valores encontrados parecem revelar que os hábitos de postura corporal em ambiente escolar são inadequados. Na maioria dos parâmetros estudados, observaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, ao contrário dos hábitos de postura corporal entre os alunos das escolas do meio rural e as escolas do meio urbano, cujas diferenças não foram significativas. Considerando os valores de referência, os índices de postura inadequada encontrados no nosso estudo parecem deixar alguns motivos susceptíveis de intervenção.

SUMMARY:

This study aimed to identify the habits of body posture among 9th grade students and to check the difference in gender, both in rural and urban schools. The results seem to reveal that these same habits are inadequate, at the school level. In almost every parameter, there were differences, statistically significant, in gender and not necessarily in the dichotomy level rural / urban. Taking the reference values into account, the levels of inadequate posture found in our study seem to indicate the need of intervention.

INTRODUÇÃO

Apresentação

Desequilíbrios posturais resultantes de habituais posturas inadequadas são cada vez mais frequentes entre crianças e adolescente (Verderi, 2002) e, portanto, é necessário que esses vícios posturais que se adquirirem, nessa etapa da vida, sejam devidamente corrigidos. A idade escolar é a melhor altura para se adquirir os bons hábitos posturais, não só por se tratar de uma idade de crescimento das estruturas ósseas, mas também por ser um período da vida aonde há uma maior facilidade de aprendizagem (Sánchez et al., 2001). A persistência de maus hábitos posturais do indivíduo, podem levar a que as alterações funcionais e transitórias das curvaturas naturais da coluna vertebral, possam tornar-se exageradas e progridam para desvios na postura. Segundo Ragonese citado por Júnior et al. (2004), a repetição de determinado tipo de posições e movimentos habituais e de sobrecargas, leva a um processo de adaptação orgânica, que resulta num alto potencial de desequilíbrios musculares com efeitos nocivos para equilíbrio postural. A “dor nas costas”, manifestadas em nestas idades, está fortemente associada a desequilíbrios musculares, devido à adopção de hábitos posturais inadequados (Salminen et al., 1992; Janda, 2002; Pinto e Lópes, 2001), e pressões adicionais sobre a estrutura óssea da coluna vertebral (Pascoe et al., 1997; Link et al., 2001).

Levantamento do problema

Segundo Trevelyan e Legg (2006) a procura pela redução à exposição de factores de risco presentes em ambiente escolar é apontada como uma das necessidades de pesquisa no âmbito da postura corporal. Como tal, será importante que os hábitos de postura corporal dos nossos alunos sejam identificados para que posteriormente se possam criar estratégias que vão de encontro a essa redução de factores de risco. Progressivamente, enquanto presentes em ambiente escolar, fomo-nos apercebendo que de facto, frequentemente, as crianças e adolescentes apresentam desequilíbrios na postura corporal e, em simultâneo, fomos observando que determinados comportamentos habituais dos alunos em nada favoreciam a sua postura corporal. Assim, partindo essencialmente desses hábitos observados in loco, sentimos a curiosidade de verificar quais seriam efectivamente as características dos alunos com que nós diariamente trabalhamos. Ou seja, para além da habitual preocupação com a identificação precoce dos desvios posturais, num sentido preventivo, nós questionamos, como é que se encontram os alunos quando chegam à idade de 14/15 anos, em termos de postura corporal? Em que medida é efectivamente realizado um trabalho preventivo precoce e em que estado de postura corporal é que se encontram esses alunos? Perante estas nossas dúvidas e, porque, especificamente, no âmbito da caracterização dos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, os estudos são escassos, principalmente nas idades que pretendíamos estudar, interessamo-nos, numa primeira fase, por investigar este tema.

Justificação do problema

As razões para a realização deste trabalho prendem-se, entre as demais, com o facto de se poder tornar uma mais-valia na nossa intervenção pedagógica, no sentido de dar ênfase a uma das finalidades previstas no Programa de Educação Física (EF) do 3º ciclo, “educar numa perspectiva de qualidade de vida, da saúde e do bem-estar”. Para além disso, na sociedade actual a aparência física é uma constante preocupação, associando-se este facto à procura de um estado mais saudável, os profissionais da actividade física não podem ficar indiferentes a estas constatações. Até porque esta é uma questão que irá, também, influenciar no desenvolvimento da personalidade e qualidade de vida dos alunos (González, 2003), tornando-se um objectivo fundamental, que não deverá ser apenas da responsabilidade da área da EF, mas sim, um objectivo da Educação em geral. Conscientes, então, de que, como profissionais de EF nos cabe a responsabilidade de encontrar respostas para estes problemas, decidimos avançar para este tema de investigação, que incidirá essencialmente numa identificação dos hábitos de postura corporal, como factores de risco presentes no ambiente escolar.

Objectivos, perguntas e hipóteses da investigação

No nosso trabalho, onde pretendemos, por um lado, identificar os hábitos de postura corporal em ambiente escolar dos alunos do 9º ano do ensino básico, e por outro, verificar a diferença entre os sexos e a diferença entre as escolas situadas em meio rural e as situadas no meio urbano, apresentamos como questões da investigação as seguintes: ¿Será que os alunos que frequentam o 9º ano do ensino básico têm hábitos de postura corporal em ambiente escolar, inadequados? ¿Será que existem diferenças significativas relativamente aos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, entre os rapazes e as raparigas que frequentam o 9º ano do ensino básico? ¿Será que existem diferenças significativas nos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, entre os alunos que frequentam o 9º ano das escolas do meio rural e as escolas do meio urbano? Uma vez colocadas as questões, partimos para as seguintes hipótese: H01: Os alunos que frequentam o 9º ano do ensino básico não têm hábitos adequados de postura corporal em ambiente escolar. H02: Os hábitos de postura corporal dos alunos que frequentam o 9º ano do ensino básico não diferem significativamente entre os sexos. H03: Não existem diferenças significativas nos hábitos de postura corporal em ambiente escolar entre os alunos do 9º ano das escolas do ensino básico do meio rural e os alunos do 9º ano das escolas do ensino básico do meio urbano.

Variáveis da investigação

– Variável dependente: os hábitos de postura corporal em ambiente escolar. -Variáveis independente: sexo; localização/meio (rural/urbano); comportamentos / hábitos (estar sentado, sentado quando escreve, transportar o material escolar, apanhar um objecto pesado do chão e apanhar um objecto leve do chão).

METODOLOGIA

Introdução

Com o objectivo de identificarmos os hábitos de postura corporal dos alunos do 9º ano do ensino básico e verificar a diferença entre os sexos e entre as escolas situadas no meio rural e no meio urbano, realizamos um estudo na totalidade das escolas pertencentes ao Concelho de Penafiel, distrito do Porto. A investigação constou de duas partes: 1ª PARTE: elaboração/adaptação do questionário ao português de Portugal e realização do teste de fiabilidade onde obtivemos a garantia de que o mesmo estava ajustado à nossa população (com valores de correlação entre os 0,67 e 0,96). 2º PARTE: Aplicação do questionário e análise estatística dos resultados.

Constituição da amostra

A amostra inicial foi constituída por 880 alunos, com uma média de idades de 15,08±0,91, pertencentes às 7 escolas do concelho e cujo desenho da sua constituição pode ser observado no quadro 1.

Quadro 1 – Constituição total da amostra inicial, por escolas e por localização (meio rural e urbano)

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 8

Uma vez que o intervalo de idades encontrado entre os elementos da amostra inicial era muito elevado (entre 14 e 17 anos), para o nosso estudo apenas consideramos os indivíduos com idades entre os 14 e 15 anos de ambos os sexos (critério de inclusão), uma vez que é essa a idade a que corresponde à normal frequência do 9º ano de escolaridade. Deste modo, a amostra ficou constituída por 557 estudantes (376 raparigas e 281 rapazes), com uma média de idade de 14,63±0.48.

Descrição do Instrumento de investigação

No presente trabalho foi utilizado como instrumento um questionário validado por Ritter et al. (2004), “Instrumento para conhecimento da percepção dos alunos sobre a postura adoptada no ambiente escolar”, dos quais obtivemos autorização para a sua utilização. O questionário é composto por 6 questões relacionadas com hábitos de postura em ambiente escolar, tendo os inquiridos, em cada questão, de escolher uma das 4 figuras representativas de uma determinada postura corporal, nomeadamente: “como normalmente se senta”; “como normalmente se senta para escrever”; “como normalmente transporta o material escolar”; “como normalmente apanha um objecto pesado do chão” e “como normalmente apanha um objecto leve do chão”. Cada resposta foi valorizada utilizando uma avaliação mecânica dos gestos, baseadas nos critérios de Rocha e Souza (1999), tendo sido atribuídos, para cada alternativa de resposta, valores de 1 (postura inadequada) e de 2 (postura correcta).

Procedimentos

Calendarização

Na realização do nosso trabalho obedecemos uma calendarização previamente elaborada. Assim, os meses de Setembro a Janeiro foram dedicados a uma pesquisa cuidada da literatura, aproveitando-se, também, essa fase, solicitarmos a autorização para aplicação do questionário, aos pais e respectivos órgãos competentes. Durante os meses de Março e Abril foi realizado o teste-reteste, para testar a fiabilidade do instrumento, que veio a ser utilizado na fase experimental realizada no mês de Maio de 2006. A análise estatística dos resultados e a redacção final da investigação foi efectuada no mês de Junho e Julho, respectivamente.

Protocolo de aplicação do questionário

A aplicação dos questionários, que teve a participação voluntária dos alunos, foi efectuada pelo próprio investigador a todas as turmas, sempre na parte inicial da aula. No início de cada aplicação do questionário fez-se sempre referência a um conjunto de pontos nomeadamente: a) Identificação do investigador e a sua habilitação académica e profissional; b) Objectivo do trabalho e o âmbito da sua realização; c) A leitura atenta das instruções do questionário, assim como, de todas as questões; d) Ao preenchimento da data de nascimento e identificação do sexo; e) Que não existiam respostas certas nem erradas, o importante é que cada elemento preenchesse de acordo com o seu caso e não procurasse assinalar a imagem/postura mais correcta; f) Ao preenchimento individual; g) Que não contava para a avaliação da disciplina; h) Que a participação era voluntária e que seria importante que ao optarem por participar o fizessem com a máxima sinceridade e seriedade.

REVISÃO DA LITERATURA

Hábitos de postura corporal em ambiente escolar

Os distúrbios anatomo-fisiológicos que advêm de alterações posturais relacionadas com posturas inadequadas, manifestam-se, geralmente, segundo Kavalco (2000), na fase da adolescência e pré-adolescência. Como tal, os maus hábitos posturais dos alunos (posturas biomecanicamente incorrectas), em fase de crescimento, podem criar situações de prejuízo significativas, principalmente nas estruturas que compõem a coluna vertebral (Zapater et al., 2004). I Estudada a relação entre as características antropometrias de crianças americanas, com idades entre os 11 e 13 anos, e o mobiliário escolar, verificou-se que apenas em 18,9% dos estudantes existia um equilíbrio apropriado (Parcells, 1999 citado por Gouvali e Boudolos, 2006). Pesquisas evidenciam melhorias em relação à “dor nas costas”, com aparente redução de escolioses e cifóses, no caso de alunos cujas cadeiras das secretárias da escola eram reguláveis (Kovacs citado por González, 2003). Por outro lado, Watson et al (2002) citado por Trevelyan e Legg (2006), referem que 65% dos problemas de “dor nas costas” dos estudantes é atribuída ao carregar do saco escolar. Dados estes que corroboram os resultados apresentados por Bertolini e Gomes (1995), que constataram que 40% dos alunos estudados, com uma faixa etária entre os 11 e 14 anos, apresentavam cifose associada ao transporte de material escolar com carga igual ou superior a 10% do seu peso corporal. Portanto, quando se trata de crianças e adolescentes e não de adultos, o esqueleto está em fase de formação e, como tal, está mais susceptível a deformações e com menor capacidade para suportar cargas, independentemente do seu tipo. De facto, não podemos deixar de concordar que hoje em dia os hábitos de postura corporal observados nos nossos alunos, nas escolas, se tornam preocupantes. Principalmente, se não nos esquecermos que, quando falamos em hábito, estamos a reforçar a automatização, tanto de posturas como de acções e, portanto, se estas são correctas, serão habituais, mas se são incorrectas, também, habituais serão (Soutullo e Couto, 2000).

A postura corporal em idade escolar numa perspectiva de prevenção

A idade escolar compreende a fase ideal para recuperar disfunções da coluna vertebral de maneira eficaz, uma vez que a maioria das alterações posturais podem ser consideradas reversíveis (Martelli e Traebert, 2006). Segundo Verderi (2002), a falta de informação preventiva, com objectivos de consciencialização corporal, leva a que a incidência dos problemas relacionados com os desequilíbrios posturais sejam cada vez mais frequentes. Sabe-se que, quanto mais precocemente se trabalhar no sentido de reeducação postural, com uma acção eficaz junto daqueles que apresentem alterações, maiores são os índices de possibilidade de sucesso na vida adulta (Pinto e López, 2001; Martelli e Traebert, 2006). Coury citado por Zapater et al. (2004), destaca a idade escolar como uma fase importante para a instalação de hábitos saudáveis, nomeadamente relativos à estrutura músculo-esquelética. Considerando o mesmo autor que, programas educacionais podem produzir mudanças no conhecimento e possibilitar acções preventivas longitudinais, que podem ser para toda a vida. Deste modo, a escola pode ser vista como um local ideal para a actuação dos profissionais de Educação Física, que, para além de leccionarem na área dos desportos, da dança e da recreação, também, desempenhem um papel importante na educação postural dos alunos, prevenindo e orientando os desequilíbrios posturais. Verderi (2003), vai mais longe, quando propõe que nas escolas deveriam ser implementados sectores de avaliação e acompanhamento do desenvolvimento motor das crianças e em simultâneo orientá-las para importância dos bons hábitos posturais nas actividades diárias, possibilitando uma boa biomecânica.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Introdução

Neste capítulo serão apresentados e discutidos apenas os resultados mais relevantes do estudo, salvaguardando que tivemos dificuldade em comparar alguns dos valores detectados na nossa pesquisa, uma vez que da revisão da literatura efectuada não encontramos, nem a nível nacional nem a nível internacional, estudos que caracterizassem exclusivamente os hábitos de postura corporal dos alunos em ambiente escolar. A discussão dos resultados será efectuada por estimação de postura adequada ou inadequada, consoante o valor médio se aproximar mais do valor 1 ou do valor 2, respectivamente.

Hábitos de postura corporal em ambiente escolar

Relativamente à primeira hipótese colocada, e relacionada com a ausência de hábitos de postura corporal em ambiente escolar, podemos observar na tabela I dados sobre algumas questões do questionário utilizado no estudo.

Tabela I – Valor médio e respectivo desvio-padrão (sd), assim como, a percentagem (%) de alunos que adoptam postura inadequada (valor 1) ou postura adequada (valor 2), referente às questões: Questão 1 (Quest. 1) – “como normalmente se senta”; ii) Quest. 2 – “como normalmente se senta para escrever”; iii) Quest. 3 – “como normalmente transporta o material escolar”; iv) Quest.4C – “a forma como costuma transporta a mochila”; v) Quest. 5 – “como normalmente apanha um objecto pesado do chão” e Quest. 6 – “como normalmente apanha um objecto leve do chão”.

Contenido disponible en el CD Colección Congresos nº 8

Pela análise dos resultados apresentados na tabela I, verificamos que 82,6% dos alunos habitualmente adoptam posturas próximas das inadequadas (1,18±0,38) quando estão “sentados”, diminuindo o valor percentual para 58,1%, quando se encontram na posição de “sentado a escrever”, que apesar de possuir valores médios mais altos, os mesmos, também se encontram próximos da postura inadequada (1,42±0,49). De qualquer modo, os 58,1% registados no nosso estudo apresentam-se moderadamente inferiores aos 68,4% encontrados por González e Soidán (2006), no estudo realizado com alunos de idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos, que manifestaram não ter qualquer tipo de cuidado quando estão a escrever e/ou a ler sentados. De certa forma, os nossos resultados poderão tornar-se preocupantes se se reflectirem no que é defendido por Verderi, (2002) e Zapater et al. (2004) que, se um indivíduo realiza posturas incorrectas no momento em que está sentado, pressões inter-discais com potenciais alterações na postura corporal acabam por se verificar. Também as médias encontradas, tanto para o caso de “apanhar um objecto pesado do chão” (1,40±0,49), “como apanhar objectos leves do chão” (1,28±0,45), parecem revelar-nos que os hábitos de postura corporal dos indivíduos estudados, nestes casos, não são adequados. Visto numa relação de 59,7% de casos com hábitos inadequados ao apanhar um objecto pesado, para 71,8% ao apanhar um objecto leve. De certa forma parece que, pelos resultados dos valores médios encontrados, os indivíduos estudados têm uma maior consciencialização no que se refere ao hábito de apanhar do chão objectos pesados em relação aos objectos leves. No entanto, importa referir que qualquer flexão para além dos limites fisiológicos, seja com carga externa adicionada ou não, exige o respeito por determinados princípios, no sentido de proteger a coluna de uma sobrecarga excessiva (Tribastone, 2001). Como podemos verificar pelos dados da tabela I, a utilização de mochila foi o material de transporte assinalado pela maioria dos alunos (88,3%) do nosso estudo, com valores médios de 1,88±0,32, muito próximo do considerado como adequado em termos de postura corporal. Este dado pode ser corroborado pelo estudo realizado por Whittfield et al (2001) citado por Trevelyan e Legg (2006), em que 89,3% dos estudantes, com idades entre 11 aos 14 anos, referem ser a mochila o saco mais usado para transportar material escolar. Alguns autores registaram valores de 70,7% e 64,5% de alunos que manifestaram transportar correctamente a mochila, ou seja, com o peso distribuído pelos dois ombros (Whittfield et al, 2001 citado por Trevelyan e Legg, 2006 e González e Soidán, 2006, respectivamente). Valores, esses, ligeiramente inferiores aos 78,5% encontrados no nosso trabalho. Por outro lado, na nossa pesquisa, apenas 9,5% dos alunos que referiram utilizar erradamente a mochila, um resultado semelhante, com valores de 10,7%, foi encontrado no estudo apresentado por Whittfield et al (2001) citado por Trevelyan e Legg (2006). Pela observação dos resultados parece que de facto existe algum conhecimento e consequente aplicação, quanto à forma de como a mochila deve ser utilizada, uma vez que a média das respostas se encontra muito perto do valor 2 (postura adequada) (1,90±0,31).

Diferença entre sexos

A relação entre hábitos de postura corporal entre ambos os sexos parece não ter sido ainda objecto de estudo por parte dos investigadores. Na pesquisa bibliográfica que efectuamos não encontramos qualquer estudo que nos permitisse uma comparação directa com os nossos dados. No entanto, frequentemente, a “dor nas costas” e as alterações posturais, têm sido associadas a hábitos de postura inadequados e aí sim, embora com alguma controvérsia, alguns estudos revelam diferenças entre os sexos (Salminen et al., 1992; Burton et al citado por Trevelyan e Legg, 2006; Martelli e Traebert, 2006; vários citado por Trevelyan e Legg, 2006). Na tabela II estão registados os principais resultados referentes à segunda hipótese do trabalho – a não existência de diferenças entre sexos -, que nos levaram às interpretações que a seguir se apresentam.

Tabela II – Valores médios e respectivos desvios-padrão (sd), dos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, referentes às questões 1, 2, 3, 4C, 5 e 6 e respectiva percentagem de frequência (%), assim como os valores de p, entre ambos os sexos (feminino e masculino).

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Através dos dados da tabela II podemos verificar que apenas na questão 5 (“como apanha um objecto pesado do chão”) é que não existem diferenças significativas (p>0,05), entre os sexos. Nas restantes questões as diferenças encontradas (p<0,05), à excepção das questões 3 e 5, apresentam valores médios que se aproximam mais de posturas inadequadas (valor 1) do que adequadas (valor 2). Segundo alguns autores os rapazes parecem apresentar maior incidência de desequilíbrios posturais do que as raparigas (Verderi, 2003; Trevelyan e Legg, 2006), indicando-nos, à partida, que os hábitos de postura corporal das raparigas são mais adequados que os dos rapazes. No entanto, no nosso estudo podemos observar que em alguns dos parâmetros (na “forma como se senta” e o “apanhar um objecto leve no chão”), embora ambos os sexos apresentem valores médios próximos de 1 (hábito inadequado), existem diferenças significativas (p<0,05), cujos rapazes em média apresentam indicies ligeiramente superiores aos das raparigas (1,21±0,41; 1,41±0,49 e 1,15±0,36; 1,18±0,38, respectivamente). O facto dos nossos dados reflectirem de que os valores das raparigas, em média, se apresentam próximos do valor 1, portanto, da postura inadequada, poderão de certa forma relacionar-se com os estudos realizado por Oliveira (1999) e Salminen et al. (1992), com indivíduos com idades semelhantes à nossa amostra, em que demonstraram que a incidência de lombalgias correspondente a 30% e 39,2%, respectivamente, é apresentada com um maior número de queixas nas raparigas do que nos rapazes. Todavia, os nossos dados parecem contrariar esta relação, quando os valores encontrados na “forma como se senta para escrever”, as raparigas apresentam valores médios estatisticamente superiores aos dos rapazes (1,50±0,50 e 1,31±0,46, respectivamente) (p<0,05). De qualquer modo, os nossos resultados, se associados à prevalência de desvios posturais, parecem estar de acordo com González (2003) quando refere que na idade escolar, nomeadamente em alunos com a idade da nossa amostra, os desvios da coluna vertebral afectam progressivamente tanto os rapazes como as raparigas. Diferenças estatisticamente significativas foram, igualmente, encontradas nas questões referentes a “como normalmente transporta o material escolar” e “à forma como transporta a mochila”, cuja diferença entre as médias é superior nos rapazes no primeiro caso (1,93±0,25 e 1,85±0,36, respectivamente) e no segundo caso é superior nas raparigas (1,95±0,22 e 1,83±0,38). A interpretação dos dados pode sugerir que as raparigas, em média, transportam a mochila com maior correcção (peso distribuído pelos dois ombros) do que os rapazes. Contudo, a percentagem de rapazes a utilizar mochila para transportar o material escolar é superior à das raparigas (91,5% e 84,8%, respectivamente).

Diferença entre escolas do meio rural e escolas do meio urbano

Também no caso das questões relacionadas com a nossa terceira hipótese – não existe diferenças nos hábitos de postura corporal de indivíduos que habitam em meio rural e meio urbano -, na literatura consultada não encontramos qualquer estudo que nos permitisse fazer comparação com os nossos dados, assinalados na tabela III.

Tabela III – Valores médios e respectivos desvios-padrão (sd), dos hábitos de postura corporal em ambiente de escolas do meio rural e escolas do meio urbano, relativamente às questões 1, 2, 3, 4C, 5 e 6 e respectiva percentagem de frequência (%), assim como o valor de p entre os dois meios.

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Na nossa pesquisa apenas a questão referente a “como apanha um objecto leve do chão” é que apresentou diferenças significativas (p<0,05), entre médias das escolas do meio rural e as escolas do meio urbano (1,23±0,42 e 1,32±0,47, respectivamente), embora ambas com valores muito próximos de postura inadequada. De um modo geral, da comparação dos resultados das escolas do meio rural e das escolas do meio urbano verifica-se que, em ambos os meios, em termos médios, os hábitos de postura corporal não são adequados (valores iguais ou inferiores a 1,47±0,49). À excepção do uso da mochila para transportar o material escolar (1,88±0,32, ambos os casos) e a forma como a devem utilizar (1,88±0,33 e 1,91±0,28, escolas do meio rural e escolas do meio urbano, respectivamente), que nos dois meios os valores médios são próximos de posturas adequadas. Os valores médios de 1,91±0,28 do meio urbano (muito próximo do valor 2), parecem sugerir que tendencialmente esses alunos utilizam a mochila de forma mais correcta que os alunos do meio rural (1,88±0,33).

CONCLUSÕES

Partindo da análise do estudo efectuado pensamos ser possível destacar as seguintes conclusões:

No caso dos parâmetros “como normalmente se senta”, “como normalmente se senta para escrever”, “como normalmente apanha um objecto pesado do chão” e “como normalmente apanha um objecto leve do chão”, as médias dos valores encontrados parecem revelar que os alunos que frequentam o 9º ano do ensino básico apresentam hábitos de postura corporal em ambiente escolar inadequado. Confirmando-se, neste caso, a nossa primeira hipótese experimental.

Verificou-se, no entanto, que relativamente ao parâmetro “como normalmente transporta o material escolar”, na sua maioria os alunos do 9º ano transportam o material escolar de forma adequada, ou seja, utilizam a mochila e com o peso distribuído por ambos os ombros.

Foram encontradas diferenças significativas entre sexos nas médias de percepção de hábitos de postura corporal, em alguns dos parâmetros estudados, nomeadamente nos casos de, “como normalmente se senta”, “como normalmente se senta para escrever” e “como normalmente apanha um objecto leve do chão”. Logo, neste caso, a segunda hipótese nula é rejeitada.

Quanto à predominância do sexo nas diferenças encontradas nos valores médios, a mesma varia nos diversos parâmetros.

No caso do transporte do material escolar, parece que as raparigas, em média, transportam a mochila com maior correcção (peso distribuído pelos dois ombros) do que os rapazes. Todavia, a percentagem de rapazes a utilizar a mochila para transportar o material escolar é superior à das raparigas.

De um modo geral não se verificaram diferenças significativas nos hábitos de postura corporal em ambiente escolar, entre os alunos do 9º ano das escolas do meio rural e alunos do 9º ano das escolas do meio urbano, confirmando-se, assim, a nossa terceira hipótese nula.

Apenas no parâmetro “como normalmente apanha um objecto leve do chão”, embora com valores próximos da postura inadequada, foram registadas diferenças significativas, apresentando o meio urbano um índice mais alto, do que a média dos alunos do meio rural.

Apesar de não terem sido encontradas diferenças significativas, entre as escolas do meio rural e as do meio urbano, no parâmetro “como costuma transportar a mochila”, os valores médios ligeiramente mais elevados, encontrados nas escolas do meio urbano, sugerem que tendencialmente esses alunos utilizam a mochila de forma mais adequada do que os alunos do meio rural.

Os índices de postura inadequada encontrados no nosso estudo, independentemente do sexo ou do meio em que a escola se situa, parecem deixar alguns motivos susceptíveis de preocupação/intervenção. Contudo, seriam necessários mais estudos para poder sustentar esta nossa consideração.

Os resultados observados no parâmetro “como normalmente transporta o material escolar”, fornecem uma perspectiva animadora no que se refere à aquisição de bons hábitos de postura corporal da população jovem.

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