Happiness, physical activity and tobacco consume in adolescents of different geographical areas of Portugal
The purpose of this study was to analyse the levels of happiness in function of the physical activity and tobacco consume of teenagers by gender, age and geographical area. Were analysed 1080 teenagers (41% of the masculine gender and 59% of the feminine gender) between 12 and 20 years…
RESUMEN COMUNICACIÓN/PÓSTER
The purpose of this study was to analyse the levels of happiness in function of the physical activity and tobacco consume of teenagers by gender, age and geographical area. Were analysed 1080 teenagers (41% of the masculine gender and 59% of the feminine gender) between 12 and 20 years, that went to schools of the Littoral and Interior North of Continental Portugal and of the Madeira Island. The variable age was divided in three scales: 12-15, 16-17 and over 17. In the variable geographical area were considered: Littoral, Interior and Island. The physical activity was divided in two categories: physical exercise and sportive practice. The happiness was evaluated through a translated and adapted version of “General Happiness Scale” (1) and the physical activity and the tobacco consume were evaluated through the “Inventário de comportamentos relacionados com a Saúde dos adolescentes” (2). Main results: (a) the most happiness boys and girls of the three age scales and of the three geographical areas were the ones that were most physically active; (b) the teenagers who smoked the most were the less happiness. The were found meaningful differences in the girls, age scale of 12-15 and in the three geographical area.
INTRODUÇÃO
A felicidade é a componente afectiva do bem-estar subjectivo – indicador emergente de qualidade de vida, onde é o próprio indivíduo que avalia aspectos importantes da sua vida (3). Resulta do balanço entre os afectos positivos – divertimento, entusiasmo, contentamento, orgulho, afeição, felicidade, êxtase – e negativos – culpa e vergonha, tristeza, ansiedade e preocupação, irritação, stress, depressão, inveja (4, 5). Nesta perspectiva, as pessoas sentem-se felizes quando experienciam mais emoções agradáveis do que desagradáveis, quando estão envolvidas em actividades interessantes, quando sentem mais prazer do que sofrimento (6).
Apenas recentemente os psicólogos têm procurado conceptualizar e avaliar o bem-estar subjectivo em crianças e adolescentes (7, 8), sendo um dos focos a relação com os comportamentos ligados à saúde. O que se justifica uma vez que é nestas idades que se vão modelar as condutas que prejudicam ou beneficiam a saúde ao longo da vida (9). Alguns estudos têm indicado que a felicidade relaciona-se positivamente com comportamentos protectores da saúde e negativamente com comportamentos de risco para a saúde na adolescência (10, 11, 12, 13, 14).
O objectivo do presente estudo foi analisar os níveis de felicidade dos adolescentes em função dos comportamentos prática de actividade física e consumo de tabaco, relativamente ao sexo, idade e área geográfica.
METODOLOGIA
Amostra
Este estudo contou com a colaboração de 1080 jovens, 41% do sexo masculino (n= 447) e 59% do sexo feminino (n= 633), entre os 12 e os 20 anos de idade, que frequentavam escolas do 3º ciclo e do ensino secundário. As escolas onde foram recolhidos os dados pertenciam aos distritos do Porto (Litoral) e de Viseu (Interior) no Norte de Portugal Continental, e à Ilha da Madeira (Ilha), no arquipélago português.
Instrumentos
Para medir a felicidade, foi utilizada a Escala de Felicidade Geral, que é uma versão traduzida e adaptada da General Happiness Scale (GHS) desenvolvida por Lyubomirsky e Lepper (1). Nesta escala a avaliação é feita através de quatro itens do género: “De uma forma geral, considero-me uma pessoa feliz…”. A escala de resposta varia entre 1 (discordo completamente) e 5 (concordo completamente).
Os comportamentos de saúde foram avaliados através do “Inventário de comportamentos relacionados com a Saúde dos adolescentes” desenvolvido por Corte-Real et al. (2). Dentro dos comportamentos incluídos neste questionário, apenas foram analisados os referentes à actividade física e ao consumo de tabaco.
Relativamente à actividade física foram consideradas as categorias exercício físico (EF) – andar de bicicleta, correr, saltar à corda – e prática desportiva (PD) – andebol, atletismo, natação, basquetebol, voleibol, futebol, ginástica…).
Os adolescentes responderam às seguintes perguntas: “Fora da Escola, com que frequência e duração fazes actividades como andar de bicicleta, correr, saltar à corda,…?”, “Com que frequência e duração praticas desporto fora da Escola?”, “Com que frequência fumas actualmente?” Com base nas respostas dos adolescentes, foram criados três grupos diferentes (ver Quadro 1):
- Grupo I, constituído pelos jovens com comportamentos de risco elevado;
- Grupo II, constituído pelos jovens com comportamentos de risco mais moderado;
- Grupo III, constituído pelos jovens com comportamentos protectores da saúde.
Quadro 1. Actividade física, consumo de tabaco e os diferentes níveis considerados neste estudo
Variáveis
As variáveis utilizadas no presente estudo foram: o Sexo;a Idade, agrupada em três escalões etários (12/15, 16/17 e >17 anos); a Área geográfica, constituída em função das regiões onde estavam inseridas as escolas (Litoral, Interior e Ilha), a Felicidade;a Actividade física, considerando-se as categorias EF e PD; e o Tabaco.
Procedimentos estatísticos
O questionário teve leitura óptica no Laboratório de Psicologia do Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto através de um programa informático “Teleform”. Otratamento estatístico foi efectuado no programa de análises estatísticas denominado SPSS (Statistical Package for Social Science – Windows) versão 14.0.
Na análise dos dados foi utilizada uma estatística descritiva com apresentação das frequências para as variáveis nominais, médias e desvio padrão para as variáveis contínuas. Recorreu-se ainda à análise da variância (Anova) seguida do teste de comparações múltiplas de Scheffé, sendo os níveis de significância considerados os de P< 0,05.
RESULTADOS
Quanto ao EF, verificou-se que: os adolescentes que praticavam EF regularmente referiram maiores níveis de felicidade. Esta diferença era significativa nas raparigas, nos adolescentes pertencentes aos três escalões etários, nos do Litoral e nos da Ilha (ver Quadro 2).
Quadro 2. Felicidade em função do EF na amostra global, por sexos, idades e áreas geográficas.
Quanto à PD, verificou-se que: os adolescentes que praticavam desporto regularmente referiram elevados níveis de felicidade. Esta diferença era significativa tanto nas raparigas como nos rapazes, nos adolescentes dos três escalões etários e nos das três áreas geográficas (ver Quadro 3).
Quadro 3. Felicidade em função da PD na amostra global, por sexos, idades e áreas geográficas.
Quanto ao consumo de tabaco, observou-se que: os adolescentes menos felizes eram os que mais fumavam. Esta diferença era significativa nas raparigas, nos adolescentes dos 12/15 anos e nos das três áreas geográficas (ver Quadro 4).
Quadro 4. Felicidade em função do consumo de tabaco na amostra global, por sexos, idades e áreas geográficas.
DISCUSSÃO
A escassez de estudos que analisassem a felicidade em função dos comportamentos de saúde na adolescência fez recorrer a trabalhos que utilizaram outras metodologias. Tal realidade também impossibilitou o confronto entre alguns resultados obtidos com os de outros autores.
Relativamente à felicidade em função da actividade física, os resultados encontrados apontam no sentido de uma relação positiva na medida em que os adolescentes mais activos apresentavam maiores níveis de felicidade, em concordância com os estudos de Matos e Carvalhosa (11, 12) e Silva et al.(14).
Balaguer e Castillo (10) verificaram uma correlação positiva entre a felicidade e a actividade física nas raparigas. No presente estudo, observou-se uma tendência semelhante quanto ao EF, onde apenas nas raparigas foram verificadas diferenças significativas, no sentido das mais activas referirem maiores níveis de felicidade.
Quanto à idade, nos três escalões etários os adolescentes que praticavam tanto EF como desporto regularmente eram os mais felizes. Este resultado só reforça que a actividade física seja incentivada especialmente nos mais novos, pois as pessoas que são fisicamente activas na juventude tendem a manter-se activas ao longo da vida (15), o que poderá contribuir para a manutenção de maiores níveis de felicidade.
Por áreas geográficas, de um modo geral, os adolescentes que tinham uma prática regular de actividade física eram os mais felizes, o que realça a importância da criação de ambientes favoráveis, especialmente nas áreas geográficas onde há menos ofertas e oportunidades de aceder à actividade física.
Entre a felicidade e o consumo de tabaco, os resultados obtidos apontam no sentido de uma relação negativa na medida em que os adolescentes que fumavam regularmente referiram menores níveis de felicidade, o que foi ao encontro das conclusões de Matos e Carvalhosa (12) e Matos et al. (13).
No que se refere ao sexo, os resultados obtidos se assemelham aos encontrados por Balaguer e Castillo (10), que verificaram uma correlação negativa entre a felicidade e o consumo de tabaco nas raparigas.
Relativamente à idade, verificou-se que nos adolescentes mais novos (12/15 anos) existiam diferenças significativas na felicidade em função do consumo de tabaco. Este resultado chama à atenção, pois uns estão a entrar na puberdade e outros estão a se desligar da família em busca da própria identidade (16). É uma fase que por si só é bastante tumultuada, não parecendo positivo ao adolescente o envolvimento com um hábito que se relaciona com menores níveis de felicidade.
Por áreas geográficas, os adolescentes que menos fumavam referiram maiores níveis de felicidade, realçando a importância do combate e prevenção deste hábito tão prejudicial à saúde.
É importante destacar que o delineamento do presente estudo não permite inferências sobre causas de felicidade. Embora tenha sido encontrada uma associação positiva com a actividade física e negativa com o consumo de tabaco, não é possível garantir que os adolescentes estavam mais felizes porque praticavam actividade física regularmente ou não fumavam.
CONCLUSÕES
Programas de intervenção na prática de actividade física e no consumo de tabaco dos adolescentes devem ter em atenção as diferenças de sexo, idade e área geográfica para que possam mais eficazmente contribuir para o aumento dos seus níveis de felicidade. Neste sentido, promover à juventude actividades físicas suficientemente estimulantes para rapazes e raparigas e para as diferentes idades parece ser bastante oportuno. Também a criação de ambientes favoráveis e atractivos para a adopção de condutas positivas à saúde, especialmente nas regiões do interior, pode ajudar a aumentar os níveis de actividade física estruturada e diminuir o envolvimento com condutas de risco para a saúde, como o tabagismo.
BIBLIOGRAFÍA
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