The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
Abstract
This study was design to examine the perception of the body image on people with visual impairment of both sexes, players of Goalball and Football 5-a-Side (Male= 22) and people not practising physical activity (Male= 10; Female= 10), with an age range from 20 to 58 years old. For the evaluation of the body image perception, it was used the Body Size Estimation Method (BSEM) of Kreitker and Kreitler (1988). The statistical procedures included the mean, standard deviation, the minimum and maximum values and the Mann Whitney test. The level of significance was fixed in p?0.05. The results in this study allowed us to conclude for its analysis that the perception of the Body Image didn’t differs on those who practice and do not practice a regular physical activity, only presenting better precision in the corporal part mouth. Between the Goalball and Football 5-a-Side players, also didn’t verified significant statistical differences between both. In the group of not practitioners, the men had only revealed better precision in the body part waist, with overevaluation of this for the women. As concerns to the age, differences are verified significantly statisticians, in the body part waist and face, with better index of perception for the younger (Adult Young), of what for the older (Middle-age), as well as a trend for overvaluation of the measures for the first ones, and for a underevaluation of the body parts by the seconds.
Introdução
A visão é um fenómeno muito complexo, compreendendo aspectos como o sentido da forma, o sentido da cor e o sentido luminoso que nos permitem identificar respectivamente a forma, a cor e o contraste luminoso das várias situações do mundo exterior. Sendo assim, o Homem depende do sentido visual, isto é, privilegia este sentido, sendo o conhecimento do mundo exterior efectuado essencialmente por meio do mesmo (Freitas, 2000). Deste modo, a falta da visão coloca a pessoa deficiente visual numa “posição de desvantagem, sob certos aspectos, especialmente os psicomotores, emocionais e sociais, quando comparado ao indivíduo normovisual” (Júnior e Santos, 2001, p.1). A deficiência visual caracteriza-se pela incapacidade total ou parcial dos seus portadores utilizarem o sentido da visão nas actividades normais da vida e pela capacidade de superarem a sua deficiência, valendo-se dos sentidos remanescentes (Moura e Castro, 1995). Em Portugal, a designação dos graus de Deficiência Visual dividem-se em Cegueira e Ambliopia. A Cegueira subdivide-se em Cegueira Total, em Cegueira Prática e em Cegueira Legal. A Ambliopia, por seu lado, é subdividida em Grande Ambliopia e Pequena Ambliopia. A Cegueira Total é caracterizada pela ausência total de percepção luminosa. A Cegueira Prática vai da percepção luminosa até à acuidade visual de 0,05. O indivíduo vê vultos, sombras a pequenas distâncias e orienta-se em ambientes conhecidos. A Cegueira Legal, segundo os parâmetros portugueses, é caracterizada por uma acuidade visual inferior a 1/10 no melhor olho (depois de corrigido) ou um campo visual igual ou inferior a 20 graus (Moura e Castro, 1993; Carvalho, 2002).
A Grande Ambliopia refere-se à acuidade visual entre 1/10 e 3/10 no melhor olho (depois de corrigido) e a Pequena Ambliopia implica uma acuidade visual entre 3/10 e 5/10 no melhor olho, tambem depois de corrigido (Moura e Castro, 1993). É importante salientar que, pelo facto de se perder um dos sentidos, não se passa, automaticamente, a ter os outros mais apurados. A verdade é que a pessoa privada de um sentido principal como a visão passa a sentir grande necessidade de utilizar os outros de forma a preencher essa lacuna. Mas, quando falta um sentido, falta uma dimensão à imagem do mundo resultante. Daí surgiu a nossa inquietação: como é que uma pessoa que não vê, tem noção do seu corpo? Se não consegue visualizar o seu reflexo no espelho, como é que se percepciona? De acordo com Moura e Castro (1995), 80 a 90% das percepções do homem, que contribuem para a formação de conhecimento, são obtidas através do sentido da visão. Relativamente à Imagem Corporal, Schilder (1968) refere que esta não se perpetua no tempo, mas que vai sofrendo alterações ao longo da vida de acordo com os diferentes tipos de experiências e situações vivenciadas. Vaz Serra (1987, cit. Batista 1995) refere ainda que a prática de uma actividade física regular constitui um meio privilegiado de restaurar a Imagem Corporal. Também para autores como Ochaita e Rosa (1995) e Novi (1996), o indivíduo necessita de movimento para explorar o meio e familiarizar-se com ele, sendo essa interacção fundamental para o seu desenvolvimento psicomotor. O deficiente visual, através do desporto, descobre os seus limites e possibilidades, ultrapassa algumas barreiras impostas pela sociedade, relaciona-se e troca experiências com os outros. Assim, as suas habilidades são postas à prova para o encorajar e para que, ultrapassando os seus limites, valorize as suas acções. Deste modo, irá desenvolver a sua auto-confiança, autonomia e liberdade (Silva, 1998). Quanto à percepção da Imagem Corporal, como componente objectiva, esta caracteriza-se pela delimitação do tamanho das partes corporais.
A racionalização do movimento corporal na pessoa cega dificulta o conhecimento da distância em relação a objectos ou tamanho do espaço. Segundo Fonseca (1999), isto ocorre porque o conhecimento do corpo é transformado em conhecimento do espaço, através da intuição e da conceitualização lógica, já que, para o autor, a organização espaço-temporal está integrada com a motricidade, e a relação com os objectivos que ocupam determinado espaço dá-se a partir do próprio corpo. Por conseguinte, podemos concluir que o conceito que a pessoa cega constrói de si própria irá variar de acordo com as condições com que viveu e/ou vive, daí a importância do grau de estimulação que recebe desde o nascimento. São poucos os estudos relativos à percepção da Imagem Corporal em indivíduos com Deficiência Visual. Todavia, salientamos o trabalho desenvolvido por Bastos et al. (2005), com o objectivo de investigar a relação entre a percepção da Imagem Corporal, em indivíduos do sexo masculino com Deficiência Visual, em escalões etários distintos (adultos jovens e adultos), praticantes e não praticantes de actividade física. A amostra foi constituída por 16 indivíduos do sexo masculino (grandes amblíopes e cegos) dos quais 8 eram praticantes de actividade física e 8 não praticantes de actividade física. Para a avaliação da Percepção da Imagem Corporal foi utilizado o questionário da Percepção da Imagem Corporal criado por Kreitler e Kreitler (1988), o Body Size Estimation Method (BSEM). As principais conclusões foram: i) a percepção da Imagem Corporal difere em indivíduos com Deficiência Visual praticantes e não praticantes, com melhor percepção por parte dos indivíduos praticantes, apesar das diferenças não serem significativas; e ii) a percepção da Imagem Corporal é pior nos indivíduos adultos do que nos adultos jovens, apesar das diferenças também não serem significativas.
Material e Métodos
Amostra
A amostra foi constituída por 42 indivíduos com Deficiência Visual, sendo 22 praticantes (11 de Futsal para Cegos e 11 de Goalball), todos do sexo masculino e 20 não praticantes (10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino), com idades compreendidas entre os 20 e os 58 anos. De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), foram determinados dois escalões etários, correspondendo o primeiro à classe Adulto Jovem (20-40 anos) e o segundo à classe Meia-Idade (41-60 anos). Relativamente aos indivíduos praticantes de Futsal para Cegos, 4 pertenciam ao clube Murtuenses de Lisboa, 5 ao Académico F.C do Porto e 2 à ACAPO do Porto. Quanto aos praticantes de Goalball, 5 pertenciam ao clube das ACDR Caldelas, 5 aos Minhotos A e B e 1 à ACAPO do Porto. Os indivíduos não praticantes eram utentes do Centro de Reabilitação da Areosa pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Este Centro foi seleccionado pelo facto de ser uma instituição do grande Porto, com um número considerável de indivíduos com Deficiência Visual e que oferecia diferentes actividades sociais, culturais e de formação profissional. Instrumento para a Avaliação da Imagem Corporal Questionário da Percepção da Imagem Corporal, criado por Kreitler e Kreitler (1988) – Body Size Estimation Method. Procedimentos Metodológicos Após obter as autorizações por parte das entidades responsáveis do Centro de Reabilitação e dos Clubes, todos os participantes foram avaliados individualmente, utilizando-se os mesmos procedimentos com todos eles. O nosso instrumento (BSEM) consiste em perguntaR ao sujeito uma estimativa do comprimento e largura de partes corporais com a ajuda das suas mãos ou dedos. A proximidade ou o afastamento das suas mãos ou dedos delimitam o tamanho das várias estruturas, podendo ser mensuráveis. O objectivo é avaliar o tamanho das partes corporais percepcionadas. Todas as estimativas foram efectuadas na posição de pé, com os olhos fechados. Pelo facto de se exigir o fechar dos olhos por um longo período, podem ocorrer efeitos indesejáveis que influenciam as estimativas dos tamanhos corporais. Portanto, permite-se ao sujeito abrir os olhos entre as avaliações. Neste estudo em particular, pelo facto de se tratar de indivíduos invisuais, este problema não se colocou. Apenas pedimos para fechar os olhos aos indivíduos com grande ambliopia, embora estes só percepcionem sombras. Para a estimativa da altura, o sujeito foi instruído a levantar o seu braço preferido e mostrar a sua altura, que era definida pela distância que vai da palma da mão ao chão.
Para a estimativa da largura dos ombros, cintura e ancas o sujeito foi instruído, com os cotovelos flectidos a 90 graus, a afastar os antebraços e com as palmas das mãos mostrar o tamanho da largura dos mesmos. Para a estimativa da mão e da face, com os cotovelos flectidos confortavelmente, fechar os dedos e com os indicadores esticados mostrar a distância com os dedos polegar e indicador. A medição é feita imediatamente após a execução, com uma fita métrica, medindo a distância interna entre as pontas dos dedos ou entre as palmas das mãos. Após as medições das estimativas percepcionadas, efectua-se a medição dos tamanhos reais relativos às partes corporais anteriormente avaliadas. Para a análise das diferenças percepcionadas e reais utilizamos o índice de percepção Corporal (IPC). Este foi calculado da seguinte forma: IPC = (tamanho percebido/tamanho real) x 100. Com este índice, qualquer valor igual a 100 corresponde a uma estimativa do tamanho correcta, valores acima de 100 correspondem a uma sobre estimação do tamanho e valores inferiores a 100 correspondem a uma sub estimativa do tamanho (Ruff e Barrios, 1986). Este instrumento já foi utilizado numa população com Deficiência Visual por Bastos et al. (2005). Pareceu, assim, mais conveniente a sua selecção, por ser indicado para a população em estudo, ser de fácil aplicação e mais económico. A fiabilidade teste-reteste para a estimativa do tamanho foi aferida por Bane e McAuley (1998), com o intervalo de duas semanas, em 90 indivíduos, apresentando valores entre 0,93 a 0,97.
Procedimentos Estatísticos
Após a aplicação do instrumento, os dados foram tratados em computador através do software estatístico SPSS versão 14.0 para o Windows. Para o cálculo dos vários parâmetros da estatística descritiva, recorremos à medida de tendência central (média), à medida de dispersão (desvio-padrão) e aos valores mínimo e máximo. Para o cálculo da estatística inferencial utilizamos o teste de Mann-Whitney. O nível de significância em todos os testes estatísticos foi de p?0.05. Apresentação dos resultados Na análise dos resultados relativos ao IPC dos indivíduos praticantes e não praticantes (Quadro 1), apenas se verificaram diferenças significativas nos valores de percepção para o item boca (p=0,012). Constatamos que para os praticantes a parte corporal mais subestimada foi a testa, enquanto que para os não praticantes foi o nariz (ambas medidas pertencentes à cabeça).
Para ambos os grupos, verifica-se uma sobre estimação da medida dos ombros. A parte corporal que apresenta maior diferença entre praticantes e não praticantes é o nariz (100,39±16,86 e 90,25±11,58 respectivamente) em que nos praticantes apresentam uma percepção bastante precisa e os não praticantes sobrestimam o seu tamanho. Podemos também apurar que, apesar de não existirem diferenças estatisticamente significativas, os praticantes apresentam, no geral, resultados mais precisos (99,94±13,96) do que os não praticantes. Ambos os grupos apresentam valores de IPC médio inferior a 100, ou seja, com sub estimação do tamanho corporal real.
Quadro 1 – Índices de Percepção Corporal (IPC) dos praticantes e não praticantes de actividade física regular. Média, Desvio-Padrão, valores de Mean Rank, de z e p.
Quadro 1. The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
Quadro 2. The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
Quadro 3. The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
Quadro 4. The effect of practice, type of practice, sex and age in the body image perception of the visually impaired
Conclusões
Referencias
Bane, S.; McAuley, E. (1998). Body Image and Exercise. Advances in Sport and Exercise Psycological Measurement. Human Kinetics.
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